Consultoria Recomenda: Rock com Duetos Vocais (masculino e feminino)

Consultoria Recomenda: Rock com Duetos Vocais (masculino e feminino)

Por André Kaminski

Tema escolhido por André Kaminski

Com Davi Pascale, Diogo Bizotto, Fernando Bueno, Mairon Machado, Marco Gaspari, Ronaldo Rodrigues e Ulisses Macedo

Apresentamos hoje mais uma edição da seção “Consultoria Recomenda”. Desta vez, eu mesmo fui sorteado para escolher o tema. Aproveitando esse fato e tomando licença para um editorial um pouco mais particular do que de costume, posso dizer que várias de minhas preferências musicais envolvem homens e mulheres dividindo os vocais. Por isso, quis que mais discos com esse tema fossem recomendados e comentados por aqui. Desta vez, tivemos álbuns de variados estilos contendo vozes masculinas e femininas dividindo o microfone, que considerei deveras interessante ouvir. Gostou das nossas sugestões? Tem as suas para recomendar? Manifeste-se nos comentários!


Front Cover

The Ghost – When You’re Dead – One Second (1970)

Por André Kaminski

Aproveitei para apresentar aos leitores mais um disco excepcional que foi esquecido pelo tempo. Rock psicodélico britânico da melhor qualidade, com as vozes divididas entre Paul Eastment e Shirley Kent. Sonoridade bem típica sessentista, órgão hammond dando o tom na maioria das músicas e com o casal de vocalistas muito entrosado, é o tipo de disco que me agrada fácil e que deveria ser mais conhecido no mundo da música.

Davi: Esse eu não conhecia. Banda que aposta em uma sonoridade meio psicodélica, com uma influência bastante presente do folk e uma leve influência prog. Os músicos são bons, mas não curti o trabalho vocal de Paul Eastment, achei o estilo vocal dele meio chatinho. As composições também não me chamaram a atenção. Interessante, valeu a audição, mas não é um álbum que eu compraria.

Diogo: Considerando que nunca havia ouvido falar desse grupo psicodélico inglês, até que a experiência foi interessante, especialmente pela performance de guitarra, órgão e baixo, com ênfase para este último, bem evidente na mixagem. Os vocais, porém, que são o grande tema desta edição da série, revelaram-se justamente o ponto fraco. Apesar das vozes (identifiquei uma feminina e duas masculinas, mas posso estar enganado) formarem um amálgama até que coeso, não se destacam de verdade em momento algum.

Fernando: A melodia vocal da faixa de abertura cheia de camadas é muito legal. Também curti os teclados fazendo uso de poucas notas, mas que deram um charme todo especial. “In Heaven” foi a minha favorita novamente por conta do trabalho de vozes.

Mairon: Daquelas bandas obscuras que você se apaixona na primeira audição e fica se perguntando como não fez o sucesso, o The Ghost saiu de Birmingham, e apresenta um som característico da virada da década de 60. Em relação ao tema proposto, os duelos vocais são divididos entre Shirley Kent e Paul Eastment, e o vocal é a principal virtude do grupo, acompanhados pelo órgão de Terry Guy, a guitarra de Paul e uma cozinha muito simples. Em termos de duetos, várias são as canções em que eles ocorrem, destacando a balada “Hearts and Flowers”, a hardeira “Too Late to Cry”, o agito de “My Castle Has Fallen” e os refrãos da dançante “Night of the Warlock” e da épica “Indian Maid”. Nas demais sete faixas ocorre uma democrática alternância vocal entre Paul e Shirley, com um climão flower-power rolando solto. Uma ótima pedida para ser ouvido frequentemente.

Marco: Banda fantástica e disco idem. Gosto mais do vocal do Paul Eastment do que da Shirley Kent, mas isso é bobagem. O importante é que os arranjos vocais são ótimos, o instrumental é sacudido e o ano é mágico. Valeu a pena resgatar do limbo.

Ronaldo: Um grupo de rock psicodélico um tanto tardio para 1970, mas com algumas boas músicas, cruzando momentos de teclados lisérgicos à la Iron Butterfly com trechos melódicos na linha do It’s a Beautiful Day. Alguns duetos de voz masculina e feminina são realmente empolgantes, mas o que se ouve mais ao longo do disco são refrões cantados em coro. Ponto negativo fica para a amadora qualidade da gravação.

Ulisses: Uma boa síntese de psicodélico, progressivo, folk e hard rock, com uma atmosfera um pouco intoxicante. Os arranjos vocais são bem interessantes – Paul Eastment é todo pomposão – e o baixo está em destaque durante todo o disco. Excelente recomendação.


Roxette-Crash-Boom-Bang

Roxette – Crash! Boom! Bang! (1994)

Por Davi Pascale

Sempre gostei da cena pop dos anos 80 e o Roxette é um duo que sempre me chamou a atenção. Sempre gostei da voz da Marie Frederiksson e das melodias criadas por Per Gessle. Meu álbum favorito é Joyride (1991), mas como a ideia aqui é falar de duetos optei por esse disco, onde o trabalho vocal de Gessle é mais presente do que o anterior. Musicalmente, ele mantinha a guitarra rock que já havia dado as caras no álbum de 1991, costurando com elementos eletrônicos que estava tão em moda na época. O som da dupla não foi descaracterizado, mas sem dúvidas, foi modernizado. Não sei se irá fazer o gosto dos nossos consultores, mas acho um trabalho bacana.

André: O Roxette é a típica banda (ou melhor, dupla) que eu sempre achei que deveria dar uma nova chance. E graças a esta seção, aqui estou eu curtindo Crash! Boom! Bang!. A voz de Marie é marcante e Per dá um sabor a mais no disco. Gostei principalmente de “Run to You”, canção pop bacana que as vozes dos dois se fundem brilhantemente quando Gessle aparece.

Diogo: Ao mesmo tempo em que é bom conhecer novas indicações através desta seção, também julgo importante valorizar aquilo que fez/faz sucesso, por isso seria uma pena que uma edição dedicada a duetos vocais não contemplasse o Roxette. A dupla sueca foi extremamente bem sucedida nisso, e, apesar da excelente Marie Fredriksson ser uma vocalista bem superior a Per Gessle, não haveria Roxette sem ele, compositor de quase todo o material da dupla. Crash! Boom! Bang! não é um disco tão bom quanto os antecessores Look Sharp! (1988) e Joyride,  mas reserva algumas canções bastante empolgantes, como “Sleeping in My Car” e a faixa-título, não à toa cantadas por Marie.

FernandoValeu ter ouvido esse disco para lembrar da minha adolescência, quando ia para as boates de sábado a noite. Só!

Mairon: Gosto muito dos primeiros álbuns do Roxette, uma banda que me acompanhou durante toda a infância e boa parte da adolescência, mas foi com surpresa que vi Crash! Boom! Bang! nessa lista. Os supostos duetos vocais seriam atribuídos para Marie Fredriksson e Per Gessle, uma das duplas de maior renome da década de 90, mas na verdade, na maioria dos casos, não há duetos, a não ser Per soando como backing vocal de Marie, ou vice-versa. Quem gosta das baladas da dupla irá delirar com “Go to Sleep”, a faixa-título, a longa “Love Is All (Shine Your Light on Me)”  e “What’s She Like”, nas quais Marie brilha sozinha, ou “Vulnerable”, liderada apenas por Per. Porém, é um álbum de poucos duetos vocais, apresentados com um pouco mais de ênfase em “Harleys & Indians (Riders In The Sky)”, “Lies”, a folk “Place Your Love”, “Fireworks” e a clássica “Sleeping in My Car”. Se fosse para botar algum da dupla,Look Sharp! seria uma melhor escolha.

Marco: Acho esse disco bem bacaninha, mas FA-ÇA-ME-UM-FA-VOR-HEIN?

Ronaldo: A dupla sueca tem um boa verve para o pop em sua plenitude, comercial e sem pretensões. Este disco tem até mais rock que a média dos (muitos) hits do conjunto, é bem produzido e poderia, com um pouco mais de liberdade e ousadia, alcançar respeito também da crítica. A voz quase andrógina do guitarrista Per Gessle se combina bem com a voz forte da vocalista Marie Fredriksson, especialmente nas dobras vocais em que ele trabalha com sua voz mais grave que a habitual, criando uma boa identidade para a dupla.

Ulisses: Apesar de alguns bons momentos (como a faixa-título), este álbum não me cativou. As faixas não prenderam a atenção e esqueci tudo o que ouvi alguns minutos após concluir a audição.


Grievous+Angel

Gram Parsons – Grievous Angel (1974)

Por Diogo Bizotto

Pouquíssimos músicos foram tão responsáveis pelo meu caso de amor com o country rock quanto Gram Parsons. Em sua curta carreira solo, de apenas dois álbuns (sendo este lançado após sua morte), ele contou com a parceria da cantora Emmylou Harris, que, com seu imenso talento, complementou magnificamente a vulnerabilidade da voz de Parsons, formando uma dupla que emprestou sensibilidade ímpar a versões de outros artistas e a estupendas canções originais. Músicas como “Return of the Grievous Angel” e “$1000 Wedding” estão entre minhas favoritas da década de 1970.

André: Que disco bonito. Que voz lindíssima de Emmylou Harris, na época já uma mulher de 27 anos mas com uma voz de menina. De fato, Gram não é o melhor vocalista do mundo, mas este soube gravar um disco muito gostoso de ouvir. O único ponto negativo aqui é a versão deles para “Love Hurts”, mais lenta e chatinha do que o normal, ao qual eu fico mesmo com a mais famosa do Nazareth. Independente disso, foi uma ótima recomendação.

Davi: Segundo e último álbum de Gram Parsons que morreria de overdose quatro meses após seu lançamento. Não conhecia esse disco. Trabalho lindíssimo que mistura na dose certa country e rock n roll. O LP traz ainda a cantora Emmylou Harris (a mesma que gravou com Mark Knopfler) em quase todo o álbum. Entretanto, foi realmente Parsons quem mais me chamou a atenção durante a audição. Faixas de destaque: “I Can’t Dance” e “In My Hour of Darkness”.

Fernando: Country music, um dos estilos que ajudou a moldar o rock. Mas não esperava ouvir um disco nesse estilo feito em 1974, sendo escolhido por um dos meus colegas. Agradável a mistura das vozes dos dois cantores, mas não me imagino ouvindo muitas vezes isso.

Mairon: Em parceria da marcante voz de Emmylou Harris, Parsons faz um disquinho bem xinfrim, recheado de countryzinhos sem graça dos quais se escapam apenas a alegrinha “I Can’t Dance”. A baladinha “Brass Buttons”, sem Harris, é uma trilha sonora para aquele filme na qual um cowboy masca um pedaço de capim escorado em uma pilastra de madeira durante um fim de tarde preguiçoso, e assim como as demais, nunca conseguiram me agradar. Como dupla vocal, a parceria funciona apenas no refrão na maioria das canções, principalmente “$1000 Wedding”, e o “Medley Live from Northern Quebec”. E sério, sempre que ouço a versão de “Love Hurts”, morro de rir. Ouvi Grievous Angel de novo com toda boa vontade, mas passei a bola depois de tediosos 36 minutos.

Marco: Juro que gostaria de saber se alguém por aqui indicaria Emmylou Harris como vocalista caso ela não estivesse nos discos solo do Gram Parsons. Mas a moça mandava bem, era uma Fallen Angel linda demais e fez muito sucesso depois da morte de Parsons. Belo disco.

Ronaldo: Disco póstumo com a mais saborosa identidade country-rock que Gram Parsons soube construir. Os vocais são espetaculares – a voz anasalada de Gram coloca um anel de noivado na voz deliciosa de Emmylou Harris. E vivem felizes para a posteridade, com baladas cândidas, ar interiorano e pedal steel chorando lá e cá.

Ulisses: Caramba! Já tinha ouvido falar de Gram Parsons, mas não sabia que era tão bom. As performances de Parsons e Emmylou são sinceras e emotivas, espalhando uma energia comovente por todo o disco. “In My Hour of Darkness” é pra levar pra vida toda.


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Ella Fitzgerald & Louis Armstrong – Ella and Louis (1956)

Por Fernando Bueno

Não pensem os leitores que eu por estar recomendando esse disco signifique que sou um conhecedor da obras dos dois artistas aqui envolvidos. Conheço Louis Armstrong um pouco melhor por conta de um box muito legal que tenho e Ella Fitzgerald praticamente só conhecia por nome e algumas faixas. Fiquei até em dúvida se indicaria o disco aqui. Porém já quando o tema dessa matéria foi sugerido logo pensei em uma voz forte masculina e uma voz suave feminina. Pensei, pensei e pensei até que de um estalo lembrei da voz de trovão de Louis Armstrong. Sabia que ele tinha feito alguns discos em parceria com uma mulher e fiz uma pequena pesquisa e cheguei a esse álbum e só então lembrei que era Ella. Depois de algumas audições cheguei a conclusão de que esse seria exatamente o exemplo de combinação de vozes que eu estava procurando. Ella Fitzgerald com seu companzil pode enganar quem não conhece sua linda e cristalina voz. Já Louis dá uma contraponto muito interessante com sua voz extremamente grave numa espécie de ying e yang. O álbum foi gravado pelos dois e mais algumas músicas de estúdio, dentre eles o excepcional Buddy Rich. As músicas não são autorais e já eram bastante conhecidas na época. Depois desse disco de 56 eles chegaram a gravar outros 2, um em 57, Ella and Louis Again, e outro em 59, Porgy and Bess.

André: Diferente do jazz instrumental, todo cheio de improvisos e de técnica, o jazz com vocais é aquela sonoridade mais simples e mais intimista para se assistir em um barzinho, bebendo um bom whiskey e apreciando mulheres de pernas de fora. Mas e quando se coloca dois ícones do estilo dividindo as vozes no mesmo disco? As mulheres e o whiskey podem esperar mais um pouco.

Davi: O primeiro dos três trabalhos que a dupla realizou. Contando com músicos de primeiro calibre, como Buddy Rich e Oscar Peterson, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong entregam um disco cheio de classe e colocam toda sua alma em cada interpretação. Se você conhece aqueles trabalhos de standards do Rod Stewart, então você já está familiarizado com algumas faixas daqui como “They Can´t Take That Away From Me” e “The Nearness of You”. Para quem gosta de jazz, disco indispensável. Altíssimo nível!

Diogo: Ao contrário da maioria dos álbuns aqui indicados, neste caso estamos falando de duas verdadeiras autoridades musicais, que ajudaram a escrever os livros e são dotados de talento e personalidade únicos. Gostar ou não da voz rouca, quase gutural de Louis Armstrong é uma coisa, mas não admitir sua capacidade interpretativa e expressão de sua personalidade ao cantar é outra. Junto a Ella, que faz muitas artistas hoje em dia rotuladas como “divas” parecerem molecas com voz de gralha, lançou um disco que privilegia justamente as performances vocais, sobre as quais os comentários só podem ser positivos.

Mairon: Um disco que tem a linda “They Can’t Take That Away From Me”, trazendo a doce voz de Ella Fitzgerald, e depois a sempre destaca voz rouca de Louis Armstrong, não pode ser ruim, e Ella and Louis é perfeito. Ella e Louis alternam-se com uma profissionalidade ímpar, digna da grandiosidade desses dois monstros do jazz, sem nenhum brilhar mais que o outro. Apenas duas estrelas chocando-se tranquilamente para criar obras-primas da música mundial, através de belas baladas, das quais destaca-se “Isn’t is a Lovely Day”, “Stars Fell On Alabama”, “Under a Blanket Blue” e a clássica “April in Paris”, além da sempre emocionante “Cheek to Cheek” (quem não lembra do filme “À Espera de Um Milagre quando ouve essa canção?) acompanhados de uma super banda (Ray Brown no baixo, Oscar Peterson no piano e Buddy Rich na bateria, quer mais??). A capa desse disco então, merece o adjetivo de FOFA, pela simplicidade dos astros que a representam, como simples vovôs postos a brincar com os netos. Aprendi a adorar o jazz com voz, apesar de ainda preferir o jazz instrumental, mas são álbuns como esse que fazem a gente parar e pensar: onde estão os grandes vocalistas, compositores e arranjadores hoje em dia? Ótima lembrança, e parabéns ao consultor que nos trouxe essa jóia aqui.

Marco: Impossível achar pêlo em um ovo botado por duas das maiores instituições desse galinheiro chamado jazz. Mas é justamente aí que mora a crítica: será que entre os incontáveis discos de rock lançados desde a década de 50 um consultor da Consultoria do Rock não conseguiu achar um único disco do tema que preste? Teve que apelar pro jazz!!!

Ronaldo: Um clássico da década de 50, do jazz vocal e da música mundial. Duas vozes maravilhosas belamente combinadas, com um clima cool e leve. Não é um disco que apresente grandes surpresas, a audição já te garante que o barato é daqueles por todo o disco, já no primeiro minuto.

Ulisses: Ella e Louis compartilham uma intimidade sensacional neste LP. A química entre eles é forte, e o contraste entre a voz suave dela e a voz áspera dele não cansa jamais – sem esquecer da ótima banda de apoio.


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Robert Plant & Alison Krauss – Raising Sand (2007)

Por Mairon Machado

A surpreendente união de dois estilos totalmente diferentes em um álbum inigualável. Uma sensação de nostalgia, que para os admiradores de “The Battle of Evermore”, com certeza irá trazer boas recordações. Releituras de peças já gravadas anteriormente, como “Please Read the Letter” e “Rich Woman” já valem o álbum, mas todas as suas 13 canções são lindas. Plant como sempre mostrando que é capaz de renovar-se, e Alison Krauss uma agradável surpresa para os adoradores do Zeppelin de chumbo.

André: Sempre tive alguns problemas pessoais com Robert Plant. Eu adoro Led Zeppelin, mas sempre o achei o ponto mais fraco da banda. E isso se dá também com seus trabalhos fora do Led. Claro, não esperava vocais hiper-agudos como há 40 anos, mas comparando com outros contemporâneos, não achei que Plant envelheceu bem. Alison dá um pau vocal no velho. Sei que não é uma disputa, mas não tive como evitar a comparação. No mais, é um disco mediano com bons momentos como em “Let Your Loss Be Your Lesson”.

Davi: Sou um grande fã de Robert Plant, é um dos meus ídolos, mas nunca consegui achar graça nesse disco. Acho os arranjos sonsos. Uma audição, para mim, cansativa. A parte vocal, contudo, é muito boa. A voz delicada, quase angelical de Alison, casa muito bem com o timbre inconfundível de Plant. Pena que as composições não ajudam…

Diogo: Lembro que, quando este disco foi lançado, choveram elogios enaltecendo não apenas o resultado, mas também a união pouco previsível entre o vocalista de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos e uma famosa cantora country norte-americana. À primeira audição não gostei tanto assim, mas, após algumas repetições, o repertório bem escolhido (não é sempre que alguém com tanto trânsito no mainstream faz covers dos formidáveis Gene Clark e Townes Van Zandt) tem caído cada vez melhor. Poderia dizer que o álbum é recheado de sutilezas, mas na verdade ele é todo sutil, e isso parece encaixar-se melhor ao estado atual da voz de Plant. Quanto a Alison, ela destaca-se ainda mais que ele.

Fernando: Enorme sensação de tempo perdido. Foi com essa impressão que fiquei depois desse album ter terminado. Mas antes de algum de vocês pensarem em me enviar uma carta com antraz fiquem sabem que o tempo perdido foi por não ter conhecido isso antes. Esse é um dos discos que mais caracterizaram a idéia dessa matéria. Aqui os dois realmente estão trabalhando em conjunto. A voz de Robert Plant está um pouco diferente do que esperei. Bem mais contida, mas eu já imaginava que não teria os famosos agudos dos anos 70 já que ele já não canta dessa forma há muito tempo.

Marco: O tipo do disco que arrepia pelinhos espalhados pelo corpo que a gente nem sabia que tinha. Não só pelos vocais maravilhosos, mas pelos arranjos delicados. Repertório escolhido a dedo, não tem nada menos que bom aqui. Mas na música que eu mais gosto, a melancólica “Trampled Rose”, o Robert Plant não pia.

Ronaldo: A potência vocal de Robert Plant é coisa do passado, mas sua capacidade de interpretação continua intacta, o que significa muito. Unir seu talento ao da proeminente cantora country Alisson Krauss, já se vislumbra como um grande acerto. Mas nada disso daria tão certo sem a escolha de um bom repertório. Não só isso foi feito, como o foi com um trato totalmente novo, contemporâneo, psicodélico e étnico a melodias vocais que poderiam se encaixar no maiores clichês da música country. Uma bela tacada.

Ulisses: Sou um desconhecedor da discografia solo de Plant, portanto vê-lo protagonizando duetos ora sutis e etéreos, ora mais animados (como em “Gone, Gone, Gone”), mas sempre harmoniosos foi uma grata surpresa. As vozes de Plant e Krauss fundem-se de forma bonita, criando ótimas canções.


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Vinegar Joe – Rock ‘n’ Roll Gypsies (1972)

Por Marco Gaspari

Banda inglesa que evoluiu do grupo Dada e lançou 3 discos entre 72 e 73, mas eu escolho aqui o disco ao vivo, porque era ao vivo que a banda destruía tudo pela frente. O casal de vocalistas do Vinegar Joe partiu daqui para carreiras solos bem contrastadas: de um lado o bem sucedido e multimilionário Robert Palmer e do outro a fértil e badalada, porém longe de ser tão milionária, Elkie Brooks, a cantora mais bandida (no bom sentido) do rock inglês no começo dos anos 70. É ver (e ouvir) pra crer.

André: Conheço Robert Palmer mas não conhecia o Vinegar Joe. E me foi uma surpresa vê-lo cantar este rock ‘n’ roll embebido em blues que me agradou desde o início. Apesar de Elkie não ter me impressionado tanto quanto outras vocalistas que eu ouvi para escrever estes comentários, não tenho como deixar de destacar as ótimas canções que eu ouvi aqui tais como “Falling”, “Buddy Can You Share Me a Line” e “Forgive Us”.

Davi: Quem conhece Robert Palmer apenas pelo megahit “Addicted to Love” ficará surpreendido ao ouvir este trabalho. O segundo LP do grupo trazia uma mistura de rock tradicional com uma influência meio soul. Quem não vai muito com a cara dele, também pode arriscar a audição, já que a vocalista Elkie Brooks é o grande destaque com sua voz potente. A interpretação dela de “Angel” (Jimi Hendrix) é de cair o queixo. A faixa de abertura “So Long” está entre minhas favoritas. Foi o disco que mais gostei dessa leva.

Diogo: O Vinegar Joe foi uma surpresa dupla: primeiro, por contar com Robert Palmer antes da fama; segundo, por ser uma banda de rock inglesa com uma pegada rhythm ‘n’ blues que não fica devendo aos bons grupos norte-americanos da época que se aventuravam por esse caminho. Palmer ainda não havia desenvolvido o estilo que o tornaria célebre posteriormente, mas faz um trabalho legal, assim como sua ótima colega Elkie Brooks, que também fez muito mais sucesso em carreira solo. Rock ‘n’ Roll Gypsies foi uma inesperada mas bem vinda adição por aqui.

Fernando: Bem interessante esse álbum. Apesar da idéia era de prestar mais atenção nas vozes foi a guitarra incansável de “So Long” que me chamou atenção. Ouvindo o disco imaginei mais uma banda californiana e só depois que busquei a ficha técnica que vi que eles são ingleses, o que mostra a integração musical que esses dois países tiveram na época.

Mairon: Da primeira vez que vi a capa desse álbum, me lembrei de Tina Turner. Afinal, as coxas e a posição de Elkie Brooks lembram muito a ex-Ike Turner, mas musicalmente, há uma grande diferença. O som do Vinegar Joe lembra grupos do Southern, apesar de serem britânicos, e os duetos vocais surgem em quase todo esse ótimo LP, através de Elkie e do vocalista Robert Palmer. Destaque para “So Long” e a sincronizada alternância de vozes em “Falling” e “Buddy Can You Spare A Dime”. Detalhe: não lembrar de Janis Joplin na linda faixa-título é impossível. As únicas exceções são a balada “Angel” e o rockão “Whole Lotta Shakin’ (Going On)”, ambas lideradas apenas por Elkie.

Ronaldo: Eu sempre esperei um pouco mais do que o Vinegar Joe poderia me oferecer. Elkie Brooks e Robert Palmer são sim, uma bela dupla. Alternam maravilhosamente bem jogadas do tipo “pergunta-e-resposta” com contrapontos que fariam inveja a Delaney & Bonney. Mas o som do grupo passa um pouco batido, um rock stoneano genérico, a exceção de uma ou outra faixa. Não poderia deixar de destacar que uma das baladas que mais gosto em todo o rock foi escrita pelo Vinegar Joe, chama-se “Circles” e faz parte do disco homônimo do grupo. Pra esse disco, a balada arrasa-quarteirão é uma versão maravilhosa de “Angel” de Jimi Hendrix.

Ulisses: Bom e velho rock setentista. A banda é sólida e Elkie Brooks canta pra cacete, como o ouvinte pode perceber no cover de “Angel”.


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Fairport Convention – Fairport Convention (1968)

Por Ronaldo Rodrigues

Apesar de ser um arquétipo britânico do som da costa oeste dos EUA, o Fairport Convention em seu primeiro disco fez um trabalho brilhante, com excelentes composições e vocais caprichados, cortesia de uma diva underground chamada Judy Dyble e de vários membros da banda na época que também cantavam. Em matéria de vozes masculinas e femininas divididas, considero este um dos trabalhos mais representativos dos anos 60 na Inglaterra e o coloco no mesmo patamar que The Mamas and The Papas.

André: Conhecia o Fairport Convention do disco Jewel in the Crown (1995) e as quase três décadas de diferença deste primeiro dão uma distância grande de sonoridade entre ambos. É um belo disco folk psicodélico, gostei principalmente de “If (Stomp)”, com instrumental típico da época mas contendo vocais bem beatlemaníacos e “It’s Alright Ma, It’s Only Witchcraft” com o melhor dueto de vocais entre Judy Dyble e o cantor masculino (eram tantos integrantes que cantavam que não faço ideia quem registrou aqui).

Davi: Mais uma daquelas inúmeras bandas que já havia ouvido falar, já havia lido a respeito, mas ainda não tinha parado para escutar. O grupo caminha por um som folk rock que estava em alta na época. Músicas de grandes nomes do gênero, como Joni Mitchell e Bob Dylan, foram registradas aqui. Os músicos são muito bons, trabalho extremamente bem feito e gostoso de ouvir.

Diogo: É engraçado: sou um grande fã de country rock desde que travei contato com artistas desse gênero, mas o mesmo não acontece com o folk rock, com raras exceções. O Fairport Convention parece não ser uma delas, mas talvez isso tenha ocorrido porque este álbum soa demasiado próximo ao segmento da psicodelia que não é exatamente meu favorito. Mesmo assim, faz melhor que a maioria dos seus colegas da época, tem consistência instrumental, composições bem trabalhadas e dois vocalistas que funcionam bem juntos e isoladamente.

Fernando: Sou fã do Fairport Convention do album Unhalfbricking (1969), mas nunca tinha ouvido esse de estréia. Achei diferente do que eu conhecia da banda, menos folk do que eu esperava. Os duetos no geral do álbum são mais como backing vocals e a voz de Judy Dyble aparece sozinha em algumas faixas como na boa “I Don’t Know Where I Stand”. Em “Decameron” há a altenância entre os vocais, porém a voz masculina está tão suave que é quase uma continuação da voz feminina.

Mairon: Uma das inúmeras grandes bandas do final da década de 60 que são relegadas ao grande público a meros coadjuvantes, o Fairport Convention ficou famoso mundo afora por conta da participação de sua vocalista, Sandy Denny, na bela “The Battle of Evermore”, do quarto álbum do Led Zeppelin (1971). Seu álbum de estreia é um daqueles inconfundíveis LPs sessentistas, com um grande ar flower-power sendo exalado através de suas faixas, e comandado não por Sandy, mas por Judy Dyble, que gravou apenas esse LP, e Ian McDonald nos vocais, fazendo belos duetos (“Decameron” e “Chelsea Morning”) e alternâncias de vozes (“It’s Alright Ma, It’s Only Witchcraft”, “I Don’t Know Where I Stand”). Gosto muito do estilo folk psicodélico deles, e algumas canções que me lembram muito Moby Grape (“Time Will Show the Wiser” e “If (Stomp)”). Apesar de não ser referente ao tema, destaco também os belíssimos arranjos instrumentais das guitarras do Fairport Convention, principalmente a instrumental “Portfolio” e a deliciosa viagem de “Lobster”.

Marco: Ótimo disco para fazer cair do cavalo quem espera ouvir um Fairport Convention repleto de pérolas do folk. Aqui é psicodelia inglesa em estado de graça, com dois vocalistas porretas e, de lambuja, um dos melhores guitarristas que sua majestade, o rock inglês, já brindou aos nossos ouvidos plebeus.

Ulisses: Eu ocasionalmente via recomendações do Fairport Convention, mas acabava adiando a audição. Que bom que tirei o atraso. Esta estréia auto-intitulada parece mais afastada do folk rock que, pelo sei, os tornou famosos, mas é bem interessante e variada.


Amaranthe-Amaranthe-2011

Amaranthe – Amaranthe (2011)

Por Ulisses Macedo

Eu confesso: quando descobri o Amaranthe, na época do lançamento de The Nexus(2013), eu caí na lábia deles por um bom tempo. Parece rídicula a ideia de um pop metal com três vocalistas (dois caras, um deles que só utiliza gutural, e uma garota), mas eles conseguem criar uns refrãos que simplesmente se recusam a sair do seu cérebro, o que tornou garantida a presença, por um tempo, de Amaranthe (2011) eThe Nexus no meu celular, sendo ocasionalmente evocados quando eu matava aula na universidade. Sei que os consultores irão escolher excelentes discos para este tema, e portanto indicar Amaranthe é uma escrotice sem tamanho. Sem problemas, eu só quero me divertir com a reação de vocês! Em tempo: Eu já larguei o grupo há vários meses, tendo ignorado seu mais recente lançamento no ano passado, mas ouvindo o disco recomendado aqui, senti uma pontinha de saudade. Vamos ver como vai ser com vocês.

André: Diferente de muitos pela internet afora, achei muito bem vinda a sonoridade do Amaranthe no meio do metal. É uma mistura curiosa do melodeath escandinavo com o eletrônico mais pop, mas sem soar industrial como é costume no meio. É um ar de modernidade que muito me anima. Gosto das participações dos três vocalistas, mas não há como negar que Elize Ryd se destaca com sua voz limpa e até meio robótica. Minhas faixas favoritas aqui foram “Call Out My Name” e “Enter the Maze”. A banda tem crescido muito e refinando mais suas composições nos próximos discos, logo chegará ao patamar do Epica e do Within Temptation como destaques do estilo.

Davi: Esse eu já conheço. Gosto da banda. Fazem um interessante cruzamento entre heavy metal e música pop, usando e abusando, inclusive, dos sintetizadores. Há três vocalistas por aqui. Cada um com seu estilo, mas quem me agrada mais é a gatíssima Elyze Rid. Para quem curte esse trabalho, recomendo ir atrás do The Nexus (2013) que, honestamente, acho mais inspirado. A fórmula era a mesma, mas gosto mais das composições do segundo disco.

Diogo: Quando ouvi os primeiros segundos deste disco, já tive a impressão de que não gostaria dele. A combinação de um vocalista gutural masculino e uma cantora em um molde mais pop normalmente soa meio indigesta para mim, e isso não melhorou mesmo com a adição de um vocalista homem de timbre mais “normal” para equilibrar a bagaça. Mas não é só isso. O som, uma cruza entre um power metal bem melódico com teclados em evidência e um metalcore cheio de riffs mais graves também não caiu bem. As músicas dificilmente têm espaço para respirar e a experiência acaba sendo cansativa para o próprio ouvinte.

Fernando: O interessante que além do dueto entre as vozes masculinas e femininas ainda temos a variação do gutural para a voz limpa. No mais não curti muito.

Mairon: Apesar de não gostar do estilo power metal da banda, não da para esconder que foi uma surpresa ouvir Amaranthe. Não temos um dueto vocal, mas sim um trio, com uma voz masculina (Jake E.), outra feminina (Elize Ryd) e mais uma gutural (Andy Solvestrom). A alternância é proporcional em todas as faixas, mostrando entrosamento e trabalho feito com talento. Não consigo destacar nenhuma música em especial, e creio que não irei voltar a ouvir essa banda, mas se tivesse que fazer, não seria sofrimento, apesar dos teclados e do ritmo enjoar com o passar do tempo. Existem outras bandas parecidas no mercado (não sei por que o nome do Evanescence me vem à mente), mas fazendo esse trio vocal, desconheço.

Marco: Com esse tricô de guitarra típico do The Voice e os vocais Barbie e Ken do casal de cantores, achei que Amaranthe fosse trilha sonora de algum filme do canal Nickelodeon.

Ronaldo: Existem três tipos de voz nesse disco. A feminina, faz jus a candidatos de reality shows de cantores, com acrobacias vocais e pose adolescente. Uma das masculinas, te lembra que existem milhões de discípulos de Bono Vox no mundo, com tons agudos e postura messiânica. E a cereja do bolo são os vocais guturais, a terceira voz. A banda combina essas três panacéias em melodias pop de quinta categoria, algumas inserções de batidas eletrônicas, excessivo peso de distorção nas guitarras e bateria frenética em 50 minutos de pura monotonia, pois não há variações nem mudanças de clima. Me senti transando com uma tábua. Para o meu gosto, a banda conseguiu juntar quase todos os elementos que eu odeio em um único disco.

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