Cinco Discos Para Conhecer: Matt Cameron

Cinco Discos Para Conhecer: Matt Cameron

Por Micael Machado

Matthew David Cameron nasceu em San Diego, California, a 28 de novembro de 1962, portanto, aniversariante do mês, e começou a tocar bateria muito cedo na infância, chegando a integrar uma banda de covers do Kiss quando tinha apenas treze anos. Em 1983, mudou-se para Seattle, onde passou a integrar o Skin Yard (ao lado do hoje famoso produtor Jack Endino), uma das primeiras bandas a executar uma sonoridade próxima ao que depois viria a ser chamado de grunge. Pouco após o lançamento do primeiro álbum do grupo, em 1987, saiu para juntar-se ao Soundgarden, onde permanece até hoje, o que não o impediu de realizar alguns trabalhos paralelos e até ser membro permanente de outro ícone da cena de Seattle.

Conheça agora cinco indicações para iniciar-se na arte e na musicalidade deste excelente baterista, Matt Cameron!


Soundgarden – Badmotorfinger [1991]

Podem haver outros discos do Soundgarden onde o desempenho de Cameron seja mais versátil ou influente, mas não vou me furtar de citar o meu álbum favorito do conjunto nesta matéria. Afinal, é aqui que se encontram clássicos do porte de “Rusty Cage”, “Outshined”, “Jesus Christ Pose” e “Searching with My Good Eye Closed” (as quais certamente estão nas listas de “favoritas” de qualquer fã do quarteto de Seattle), além da pesada “Slaves & Bulldozers”, da quase punk “Face Pollution” e da marcada “Holy Water”. A estreia do baixista Ben Shepherd trouxe uma sonoridade mais pesada e arrastada para o grupo, diferente do estilo menos direcionado e mais improvisado de seus primeiros registros. Neste disco, que ficou entre os 100 mais vendidos do ano de 1992, Matt Cameron é co-autor da citada “Jesus Christ Pose”, de “New Damage” e de “Room a Thousand Years Wide” (primeira faixa gravada por Ben junto ao grupo), além de ter composto a agitada “Drawing Flies“, uma das duas a apresentar trechos tocados ao saxofone no disco, junto com a anterior. Um dos melhores registros já lançados sob o rótulo do “grunge”, e uma excelente porta de entrada para conhecer tanto o Soundgarden como a carreira de seu baterista!

Chris Cornell (vocais, guitarras), Kim Thayil (guitarras), Matt Cameron (bateria) e Ben Shepherd (baixo)

Músicos adicionais

Scott Granlund (saxofone em 8 e 10)
Ernst Long (trompete em 5, 8 e 10)
Damon Stewart (narração em 7)

1. Rusty Cage
2. Outshined
3. Slaves & Bulldozers
4. Jesus Christ Pose
5. Face Pollution
6. Somewhere
7. Searching with My Good Eye Closed
8. Room a Thousand Years Wide
9. Mind Riot
10. Drawing Flies
11. Holy Water
12. New Damage


Temple of the Dog – Temple of the Dog [1991]  

O guitarrista Stone Gossard e o baixista Jeff Ament eram membros do Mother Love Bone, grupo cujo vocalista, o carismático Andrew Wood, viria a falecer vítima de uma overdose. O vocalista do Soundgarden, Chris Cornell, que dividia um apartamento com Wood, tomou a decisão de gravar algumas de suas composições em tributo ao falecido amigo, chamando para a empreitada os citados ex-membros do antigo grupo do cantor, que estavam à época trabalhando em um novo projeto ao lado do guitarrista Mike McCready, também convidado a participar do álbum. Matt Cameron também se juntou à turma, visto que já tocava com Cornell no Soundgarden, e havia ajudado os outros três na gravação da demo instrumental de sua nova banda (a qual chegaria às mãos do surfista Eddie Vedder na distante San Diego, e acabaria por colocá-lo como vocalista da nova empreitada de Gossard e Ament). Tendo a maioria das composições a cargo de Cornell, o disco resultante desta união de colegas pesarosos acabou se tornando um clássico do então iniciante “grunge”, ajudando a consolidar este estilo musical, associado sem muitos critérios à quase todas as bandas de Seattle surgidas no começo da década de 1990, além de marcar um dos melhores desempenhos vocais de Chris Cornell em toda a sua carreira. Vedder, recém chegado à chuvosa Seattle, participa de apenas uma música, “Hunger Strike“, o maior destaque no track list, ao lado da tristonha “Say Hello 2 Heaven“, da empolgante “Pushin Forward Back” e da longa e pesada “Reach Down“. O restante das composições tem um ritmo mais lento e até depressivo, como não poderia deixar de ser visto a tragédia que levou à concepção do disco. Uma curiosidade é que a faixa “Times of Trouble” possui a mesma melodia de “Footsteps”, um B-Side gravado pelo Pearl Jam, mas com letra e métricas vocais completamente diferentes. O Temple of the Dog é um dos projetos paralelos mais lembrados pelos fãs de música, e seu único disco acabou virando um item cultuado pelos fãs das bandas de Seattle, além de funcionar como uma espécie de pontapé inicial para a carreira do Pearl Jam, que conseguiria o sucesso já na sua estreia, lançada no mesmo ano!

Chris Cornell (vocal, banjo e harmônica), Stone Gossard (guitarra), Mike McCready (guitarra), Jeff Ament (baixo), Matt Cameron (bateria)

Músicos adicional

Eddie Vedder (vocal em 3 e 10)

1. Say Hello 2 Heaven
2. Reach Down
3. Hunger Strike
4. Pushin Forward Back
5. Call Me a Dog
6. Times of Trouble
7. Wooden Jesus
8. Your Saviour
9. Four Walled World
10. All Night Thing


Geddy Lee – My Favorite Headache [2000]

Criado ao lado do guitarrista Ben Mink (que chegou a participar como convidado em algumas gravações do grupo Rush), o primeiro (e até agora único) álbum solo do vocalista, baixista e tecladista do trio canadense não trouxe uma sonoridade tão diferente assim de sua banda original (principalmente nos álbuns gravados após o ao vivo A Show Of Hands), até por manter a formação que executa as músicas em um formato de trio, completado (exceto em uma faixa, “Home on the Strange”, onde as baquetas ficaram a cargo de Jeremy Taggart) pela excelente bateria de Cameron, que pode aqui mostrar um lado mais progressivo de sua técnica. Se os holofotes se voltam todos ao “dono da bola” Geddy, Matt, por sua vez, executa um trabalho seguro, sem querer copiar Neil Peart (o mestre das baquetas do grupo principal de Lee), mas mostrando bastante coesão e capacidade de variação de estilos. Confira a faixa título, “The Present Tense” (que não tem nada a ver com a faixa de mesmo nome gravada pelo Pearl Jam), “Working at Perfekt“, “Moving to Bohemia” ou “Slipping” e veja como Matt consegue se adaptar perfeitamente a composições bem diferentes do estilo do Pearl Jam ou do Soundgarden. Agora, se você não gosta destas bandas, mas é fã de Rush, não deixe de conferir o disco inteiro, pois a capacidade criativa de Geddy estava elevada, e o álbum chega a ser melhor que muitos registros do consagrado trio canadense, sem soar “estranho” aos já cativos de sua sonoridade. Altamente recomendado!

Geddy Lee (baixo, vocais, piano, guitarra), Ben Mink (guitarra, violão, violino e violas), Matt Cameron (bateria)

Músicos adicionais

Waylon Wall (guitarra em 3)
John Friesen (violoncelo em 4)
Jeremy Taggart (bateria em 8)
Pappy Rosen (backing vocals em 9)
Chris Stringer: Percussão

1. My Favorite Headache
2. The Present Tense
3. Window to the World
4. Working at Perfekt
5. Runaway Train
6. The Angels’ Share
7. Moving to Bohemia
8. Home on the Strange
9. Slipping
10. Still
11. Grace to Grace


Wellwater Conspiracy – The Scroll And Its Combinations [2001] 

O Wellwater Conspiracy talvez seja o projeto onde Cameron mais demonstrou seu lado “músico” na carreira. Atuando como compositor e vocalista principal, ele aparece nos discos do duo trocando instrumentos o tempo todo com seu colega John McBain (ex-guitarrista do Monster Magnet). Neste terceiro registro da dupla, Matt, além dos vocais e da bateria, ainda responde por guitarras e teclados em faixas como os covers garageiros das obscuras bandas Q65 (“I Got Nightmares“, cuja melodia vocal lembra “Boris the Spider”, do The Who) e Morgen (Of Dreams“), esta última um dos destaques do track list, ao lado de “Felicity’s Surprise” (que poderia muito bem se passar por uma faixa do Pearl Jam, até porque conta com a voz do cantor do grupo, Eddie Vedder, aqui creditado como Wes C. Addle, por questões legais), a agitada “What Becomes Of The Clock” (que tem nos vocais o produtor Gerry Amandes) e “Tidepool Telegraph”, que tem um pouco da psicodelia do antigo grupo de McBain misturado com algo de Queens of the Stone Age. O baixista do Soundgarden, Ben Shepherd (que era o vocalista original do Wellwater Conspiracy) participa da instrumental “Keppy’s Lament”, e o guitarrista Kim Thayil (também do Soundgarden) aparece em duas composições, a “estranha” balada “C, Myself and Eye”, que tem algo do citado grupo de Seattle em seu arranjo, e “The Scroll”, mais psicodélica. “Tick Tock 3 o’clock” (que me lembra o Pink Floyd de Sid Barrett) conta com várias participações especiais em instrumentos como saxofone, cello e viola (tocada pela esposa de Matt, April Cameron), e o track list é completado pela esquizofrênica “Now, Invisibly”, com seu ritmo quebrado, e pela instrumental (e “estranha”) “Brotherhood Of Electric”. Um álbum que mostra um lado bastante diferente de Cameron, e que merece uma conferida.

Matt Cameron (bateria, vocais, guitarras, teclados, fotos), John McBain (guitarras, baixo, bateria, teclados)

Músicos adicionais

Derek Burns (vocais em 1 e 4)
Paul Burback (backing vocals em 1 e 4)
Kim Thayil (guitarras em 3 e 10)
Amy Denio (saxofone em 4)
April Cameron (viola em 4, 5 e 6)
Justine Foy (violoncelo em 4, 5 e 6)
Gerry Amandes (vocais em 5)
Eddie Vedder (vocais em 6 – creditado como “Wes C. Addle”)
Ben Shepherd (baixo em 11)
Gregg Keplinger (bateria em 11)

1. Tidepool Telegraph
2. I Got Nightmares
3. C, Myself and Eye
4. Tick Tock 3 O’Clock
5. What Becomes of the Clock
6. Felicity’s Surprise
7. Now, Invisibly
8. Of Dreams
9. Brotherhood of Electric
10. The Scroll
11. Keppy’s Lament


Pearl Jam – Riot Act [2002]

Apesar de meu álbum favorito do PJ com Cameron ser o de estreia do baterista no grupo (Binaural, de 2000), Riot Act é aquele que conta com a participação mais efetiva de Matt na carreira do quinteto, assumindo aqui grande parte dos backing vocals (função que exerceria cada vez mais nos discos e apresentações da banda nos anos futuros) e até algumas partes de guitarra ritmica, além de contribuir como compositor de três faixas (“Cropduster“, “You Are” e “Get Right“) e de ser co-autor de “Save You“, uma das mais lembradas pelos fãs do grupo de Seattle neste registro, ao lado de “I Am Mine”, “Love Boat Captain” e “Green Disease”. Com uma sonoridade mais calma em muitas das composições, este não é um dos discos preferidos de muita gente, mas é um trabalho de bastante qualidade, chegando a ficar no primeiro lugar das paradas australianas e em segundo na Itália. Matt também sugeriu o produtor Adam Kasper, que já havia trabalhado com ele tanto no Soundgarden quanto no Wellwater Conspiracy, o que provou ser uma boa escolha para o álbum e para o grupo, tanto que ele produziria também o auto-intitulado registro de 2006 (o popular “disco do abacate”). Além disso, Riot Act é o primeiro registro do grupo a apresentar o tecladista Kenneth “Boom” Gaspar, o qual se mantém na formação até hoje!

Eddie Vedder (guitarras, vocais), Stone Gossard (guitarras), Jeff Ament (baixo), Matt Cameron (bateria, percussão, guitarras), Mike McCready (guitarras)

Músico adicional

Kenneth “Boom” Gaspar (teclados)

1. Can’t Keep
2. Save You
3. Love Boat Captain
4. Cropduster
5. Ghost
6. I Am Mine
7. Thumbing My Way
8. You Are
9. Get Right
10. Green Disease
11. Help Help
12. Bu$hleaguer
13. ½ Full
14. Arc
15. All or None

Além das bandas e projetos citados, Matt Cameron ainda trabalhou com os grupos Tone Dogs e Harrybu McCage (dois projetos com sonoridades influenciadas pelo jazz, o que dá uma ideia da dimensão da musicalidade do baterista), além do “garageiro” Hater (onde atua ao lado do baixista Ben Shepherd). Ele ainda participou de gravações de muitos outros grupos, como Queens of the Stone Age (do qual chegou a ser baterista por um show), Smashing Pumplins (nas sessões para o álbum Adore, embora apenas “For Martha” conte com sua contribuição na seleção final escolhida para o track list), Prodigy, Tony Iommi, Peter Frampton e Chris Cornell, sempre como convidado, tendo também contribuído para a trilha sonora do filme “Homem Aranha”, de 2002 (com Tobey Maguire no papel principal). Uma carreira impressionante, de um baterista com um talento maior ainda!

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