Neil Young + Stray Gators – Tuscaloosa [2019]

Neil Young + Stray Gators – Tuscaloosa [2019]

Por Micael Machado

Em 1972, o canadense Neil Young lançou o álbum Harvest. Seguindo a linha mais acústica e “calma” de seu antecessor, After the Gold Rush, de 1970, Harvest foi gravado quase em sua totalidade na cidade norte-americana de Nashville, ao lado de experientes músicos de estúdio, cuja combinação foi batizada por Young de The Stray Gators, além de alguns convidados especiais aqui e ali. Com o sucesso do disco, Neil queria que Danny Whitten, do Crazy Horse, se juntasse ao grupo para a turnê de divulgação, mas, após poucos ensaios, ficou claro que o guitarrista não estava em condições de cair na estrada, devido a abusos de “substâncias” como álcool e drogas. Young então deu um dinheiro a Danny para que ele voltasse para casa e colocasse a vida em dia, dispensado-o da banda.

Whitten morreria de overdose na noite seguinte ao seu afastamento do grupo…

Como o show não pode parar, Young (vocais, guitarra, piano e harmônica), Ben Keith (pedal steel, slide guitar e vocais), Jack Nitzsche (piano e vocais), Tim Drummond (baixo) e Kenny Buttrey (bateria) entraram em uma excursão onde os shows consistiam basicamente de um set acústico inicial com algumas seleções de músicas presentes em Harvest e After the Gold Rush com outros registros da carreira de Young, e um segundo set elétrico predominantemente de músicas inéditas, desconhecidas por praticamente todos os presentes na plateia (e, por vezes, até por alguns dos músicos). A tristeza pela perda de Danny, o abuso das tais “substâncias” por parte de todos, e a péssima recepção do público às músicas novas, fizeram com que a turnê virasse um verdadeiro pesadelo, com Buttrey abandonado o barco na metade, sendo substituído por Johnny Barbata, que já havia tocado, dentre outros, com Crosby, Stills, Nash & Young e o Jefferson Airplane.

Neil Young e os Stray Gators, durante a excursão de 1973

Mesmo com todos os problemas, a digressão acabou eternizada no álbum ao vivo Time Fades Away, de 1973, contando com oito daquelas músicas inéditas que a banda de Young interpretava na segunda parte do show. Apesar de bem recebido pela crítica, o registro já foi citado pelo canadense como “o pior disco” que ele já gravou (um enorme exagero, logicamente), e por um longo tempo foi o único de sua enorme discografia a não ser disponibilizado oficialmente em CD, com as pavorosas lembranças daqueles tempos atormentando Neil desde então.

Surpreendentemente, em janeiro deste ano Young anunciou que pretendia lançar um álbum ao vivo com registros inéditos daquela excursão. Assim, Tuscaloosa veio ao mundo em junho de 2019, contendo parte da apresentação de Neil e os Stray Gators originais na cidade que lhe dá nome, no estado norte-americano do Alabama, a 05 de fevereiro de 1973, anteriormente, portanto, a todas as faixas registradas em Time Fades Away (com exceção de “Love in Mind”, gravada em 1971). Deste registro, aliás, apenas a faixa título e “Don’t Be Denied” se repetem em Tuscaloosa, com o álbum também sendo dividido em uma parte acústica e outra elétrica, como nos shows da turnê que lhe deu origem.

Para os não-iniciados (ou para aqueles que não conhecem tão bem a discografia do bardo canadense), as grandes “pepitas” estão na parte acústica, com uma espetacular sequência de clássicos presentes em Harvest, além de uma linda versão da faixa título de After the Gold Rush e uma rara interpretação ao vivo de “Here We Are in the Years“, do disco de estreia da carreira solo de Neil Young, que leva o seu nome. Para os já convertidos, as jóias estarão na parte elétrica, onde, além das duas faixas já citadas (em versões diferentes daquelas presentes no álbum de 1973, especialmente “Don’t Be Denied“, minha favorita neste novo registro, com quase três minutos a mais que a versão original), estão presentes músicas que só seriam lançadas oficialmente em 1975, no álbum Tonight’s the Night, e raramente interpretadas ao vivo desde então (sendo que “Lookout Joe” sequer faz parte do track list de Roxy: Tonight’s the Night Live, álbum lançado em 2018 e que traz a interpretação ao vivo de quase todas as faixas presentes em Tonight’s the Night), além de uma acachapante versão para “Alabama“, outro clássico presente em Harvest.

Contracapa de Tuscaloosa

Produzido pelo próprio Young ao lado de Elliot Mazer, e lançado tanto em CD quanto em vinil (além das hoje obrigatórias versões nas plataformas digitais, inclusive o youtube, onde o canadense colocou o álbum na íntegra em seu canal oficial), Tuscaloosa é uma excelente adição à série de “registros de arquivo” que Neil Young vem lançando nos últimos tempos, e é aquisição obrigatória aos fãs de sua obra, pois, com o benefício da passagem do tempo, várias de suas faixas vieram a se tornar em clássicos de sua trajetória musical, e, mesmo aquelas consideradas “menores” dentro de sua longuíssima discografia, atraem a atenção por raramente serem executadas ao vivo depois desta digressão. Infelizmente, cabe a mim registrar que a quase sempre obrigatória recomendação da aquisição do disco na versão em vinil acaba não cabendo aqui, pois, apesar do mesmo ser duplo, o lado “D” da obra não possui músicas, sendo substituído por uma gravação do nome de Neil Young e do grupo, além de uma gravura de uma mão fazendo o sinal da paz (algo incompreensível, pois o próprio Young chegou a afirmar que existem faixas registradas neste show que não foram incluídas neste disco, como “The Loner” ou “On The Way Home”, que poderiam muito bem ter sido acrescidas como “bônus” nesta versão, completando assim o vinil). Além disto, como a transição entre a parte acústica para a parte elétrica ocorre no meio do lado “B”, e não há uma pausa entre elas, a mesma acaba ficando um tanto “abrupta”, soando estranho aos ouvidos uma faixa com violões ser seguida logo em sequência por outra eletrificada, sem uma “preparação” de parte da banda para que a mudança ocorra. Ou talvez tudo isso seja apenas a reclamação de um fã chato, que preferia ter em mãos ainda mais registros de uma noite que, pelo menos durante a audição de Tuscaloosa, parece ter sido extremamente prazerosa!

Track List:

1. Here We Are in the Years

2. After the Gold Rush

3. Out On the Weekend

4. Harvest

5. Old Man

6. Heart of Gold

7. Time Fades Away

8. Lookout Joe

9. New Mama

10. Alabama

11. Don’t Be Denied

Um comentário em “Neil Young + Stray Gators – Tuscaloosa [2019]

  1. A gravura que esta no lado D do vinil é um aligator ou jacaré se preferir, em alusao ao nome da banda.

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