The Completers – Silence [2017] / Unspoken Signals [2018]

The Completers – Silence [2017] / Unspoken Signals [2018]

Por Micael Machado

Tem vezes em que a simples experiência de ir a um show de uma banda que se goste pode trazer descobertas incríveis para sua vida. No final de maio deste 2019, o grupo espanhol Belgrado se apresentou em Porto Alegre, tendo por banda de abertura o quarteto local The Completers, do qual eu nunca tinha ouvido falar antes, apesar de morarmos na mesma cidade. Curioso por conhecer o som de meus conterrâneos, fui ouvi-los em uma das várias plataformas digitais onde suas músicas estão disponíveis, e fiquei agradavelmente surpreso com o que conheci!

Assim como o Belgrado, o The Completers investe no pós-punk como estilo de suas canções. Mas não é aquele pós-punk arrastado, tristonho e sombrio característico do estilo, mas sim aquela vertente mais rápida e energética que aparece por vezes na discografia de um Joy Division ou um Sisters Of Mercy (e na maior parte dos registros do próprio Belgrado, só para manter uma relação de comparação). Iniciando seus trabalhos em 2015, e atualmente formado por Felipe Vicente (vocais, guitarra e teclados), Jonas Dalacorte (guitarras), Lucas Richter (baixo) e Guilherme Chiarelli Gonçalves (bateria), o grupo já possui dois registros de estúdio, o compacto Silence, de 2017, e o EP Unspoken Signals, do ano seguinte.

Versão em vinil do compacto “Silence b/w Be Gone”

Oficialmente intitulado Silence b/w Be Gone, o compacto de estreia tem no lado A da versão em vinil (lançada pelo selo Yeah You!, também de Porto Alegre) a faixa “Silence“, bem mais rápida do que se esperaria de um grupo de pós-punk, mas ainda assim com uma certa melancolia e uma atmosfera sombria tão características do estilo. Chama atenção o trabalho das guitarras, com solos muito expressivos e tons bem oitentistas (época do auge do estilo adotado pelo quarteto), além de uma marcante linha de baixo, característica que se repete na canção do lado B, “Be Gone“, que se mostra menos virulenta e mais “tristonha” que sua colega de bolacha, mas igualmente atraente. Em ambas, chama a atenção a semelhança do timbre de voz de Felipe com o de Ian Curtis, do Joy Division, embora passe longe de uma cópia ou imitação do mesmo, algo que, convenhamos, seria bem difícil de ser alcançado (ressaltando ainda que esta semelhança não é, de forma alguma, um demérito ao cantor, que fique bem claro).

O EP Unspoken Signals e seu lindo trabalho gráfico

Já o EP Unspoken Signals (lançado em um belíssimo vinil vermelho pelo selo gaúcho Thrash Unreal Records, da cidade de Santa Cruz do Sul) possui a faixa título no lado A , e ao primeiro acorde se nota uma grande diferença em relação ao compacto anterior: a presença do sintetizador de Vicente, totalmente ausente no primeiro registro do grupo. Também em mid-tempo, a canção ganha tons mais góticos com o novo instrumento, ampliado pelo uso de alguns efeitos de eco na voz de Felipe, que já não soa tão derivativa da de Ian, recursos que ajudam a tornar a composição com uma sonoridade mais “própria” do grupo do que de suas fontes de inspiração.

O lado B abre com a instrumental “Words (Never Again)“, o mais curto (com pouco mais de dois minutos e meio) e tristonho registro da carreira do grupo até aqui, sendo o exemplo perfeito do que se convencionou chamar de “rock gótico” nestas paragens, com o baixo à frente dos instrumentos (em uma timbragem que imediatamente remete à de Peter Hook em seus tempos de New Order), uma bela “cama” de teclados e a guitarra conduzindo uma melodia sombria e delicada, pontuada pelo belo trabalho de bateria. Fechando a bolacha, “Flowers” é a faixa que mais remete ao trabalho anterior, tanto pela velocidade elevada em relação à suas colegas de track list, quanto pela ausência do teclado, tão marcante nas demais faixas do EP. Impossível ouvir esta canção e não imaginá-la na discografia de um Echo and the Bunnymen ou em um dos primeiros registros do The Cure (as duas faixas foram recentemente lançadas juntas naquele que é o primeiro clipe oficial do grupo, e que você pode conferir aqui).

Cabe ainda ressaltar o capricho e a preocupação do selo com a parte gráfica da versão em vinil, com as letras e a ficha técnica disponíveis em formatos que lembram uns cartões postais, algo diferente e muito criativo elaborado pelo grupo junto à artista Lucia Marques, e que realmente serve como um diferencial para o trabalho do quarteto.

The Completers ao vivo: Jonas Dalacorte (guitarras), Lucas Richter (baixo), Guilherme Chiarelli Gonçalves (bateria) e Felipe Vicente (vocais, guitarra e teclados), em foto registrada pela agência Clickante no citado show de abertura para a banda Belgrado no Bar Agulha em Porto Alegre, dia 24 de maio de 2019, e retirada de postagem feita na página oficial do evento.

Como fica claro pela leitura do texto, o The Completers não procura esconder suas influências nem reinventar a roda, mas dá continuidade com dignidade e qualidade à história de um estilo que já não anda tão em alta neste final da segunda década do século XXI. Pelo que apresentaram naquela apresentação citada lá no começo da matéria, o grupo possui muitas outras canções tão boas quanto estas esperando por um registro oficial em um álbum completo de estreia (ou mesmo uma nova leva de EPs). Que este não demore a chegar, e que o futuro traga boas venturas aos meus conterrâneos gaúchos!

Track List:

Silence b/w Be Gone

1. Silence
2. Be Gone

Unspoken Signals

1.Unspoken Signals
2.Words (Never Again)
3.Flowers

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.