Uma Despedida Para Andre Matos (To Live Again)

Uma Despedida Para Andre Matos (To Live Again)

André Kaminski

Eram quase 3 da tarde do dia 08 de junho quando de repente aparece uma atualização do Facebook noticiando a morte de Andre Matos. Só podia ser fake news. Aí comecei a vasculhar em sites de notícias e a página do Shaman e algumas lágrimas começaram a escorrer. Eu não estava aceitando, ainda estou em choque.

Embora eu lamentasse muito a morte de tantos músicos incríveis que se foram nos últimos anos, tamanha emoção só ocorreu a mim quando soube da morte de Dio, lá em 2010. Um grande ídolo, uma voz marcante, que fez dezenas de composições lindas se vai tão jovem. Quantos discos ele ainda poderia gravar? Quanta coisa boa ele poderia ainda compôr? Quem sabe eu ainda tivesse a chance de vê-lo ao vivo um dia desses, já que a merda de se morar no interior e longe de grandes centros urbanos dificulta eu poder conhecer os músicos que eu admiro de perto.

Não vou mentir em dizer que amo de paixão absolutamente tudo o que o cara fez, mas três discos em que ele canta me marcaram muito: Angel’s Cry, Ritual e Theatre of Fate. Os dois primeiros citados foram quando eu estava iniciando meu gosto pelo rock. O último foi, curiosamente, até bem mais recente, coisa de 2 a 3 anos. Só esses três discos são suficientes para que ele se tornasse um ídolo para mim. Mas é claro, Andre produziu tanta coisa, seja em seus discos-solo seja em participações em outros álbuns e projetos que esta matéria seria pouco para abordar uma carreira tão grandiosa do, a meu ver de forma indiscutível, melhor vocalista do metal brasileiro.

Termino este depoimento ainda em lágrimas. Andre Matos, você foi um músico excepcional e sua arte continuará marcando muita gente ainda por vir, assim como me marcou em minha adolescência.


Fernando Bueno

O André Matos foi meu primeiro ídolo musical. Os artistas estrangeiros eram tão inacessíveis que ter alguém aqui do Brasil que podia ser comparado com qualquer outro lá de fora era uma inspiração. Além de que, de certa forma conheci os clássicos de Iron Maiden, Metallica, Guns and Roses e outros praticamente na mesma época que os dois primeiros discos do Viper.

Ouvi esses discos tantas vezes quanto ouvi um Powerslave ou um Ride de Lightining. Lembro muito bem da época que estávamos esperando a então nova banda do André Matos, antes de sair Angel’s Cry. Fazia parte do fã clube de uma banda que ainda nem tinha um primeiro disco. E quando esses dois primeiros discos do Angra saíram foi um choque. Além de terem uma qualidade muito acima da média, levaram o metal para um nível de qualidade muito além do que muita banda internacional não chegava perto.

De certa forma esse meu ídolo foi o responsável até por eu ter desistido do sonho juvenil de ter uma banda. A comparação era muito cruel. Afinal ele gravou seu primeiro disco com apenas 15 anos e eu, um garoto com seus 12-13 anos me via com apenas alguns meses para conseguir fazer alguma coisa. Além do mais sua qualidade técnica era praticamente inatingível. Quando cheguei aos meus 20 anos e não tinha conseguido fazer ou participar de nada achei que tinha passado da hora de ter minha chance. Uma bobagem!!! Claro! Mas lembro de ter esses pensamentos na época.

Enfim, 08/06 foi um dia triste. Quando soube da notícia, torci muito para ser apenas uma brincadeira de mal gosto. Fiquei um tempão buscando a informação correta e, infelizmente era verdade. Falei com vários amigos que compartilhavam da mesma relação que tinha com o André Matos lá no começo dos anos 90. Coloquei Soldiers of Sunrise pra ouvir e, confesso, foi difícil segurar as lágrimas. Foi-se a pessoa e fica a obra que é imortal. Descanse em paz maestro! Os anjos choram.


Mairon Machado

Ok que as notícias dos falecimentos de músicos sempre nos chocam, mas essa do Andre Matos foi para cair o cú da bunda. Novo, com uma longa carreira pela frente, jamais imaginaríamos que a tarde de 08 de junho ia nos dar uma notícia tão triste quanto essa.

Desde que me conheço como gente, tenho Andre como uma referência para a música brasileira. Junto do Max Cavaleira, ele foi o responsável por colocar o Brasil no mapa metálico, só que com talento e técnica incomparáveis. Isso por que além do dom de cantar, Andre se preparou para ser o que foi: UM MITO!

Não sou um colecionador de sua obra, até por que o instrumental do Shaman não me agrada, mas tenho com orgulho (autografados por ele) os seus dois essenciais álbuns com o Viper, e ouço regularmente os CDs Angel’s Cry e Ritual. Ouvi tanto o Theatre of Fate e o Soldiers of Sunrise que consegui, não lembro como, convencer meu irmão Micael a trocar os LPs comigo, sei lá por que, não importa, já que os discos eram com certeza muito melhor do que aquilo que o Micael ficou. Cara, como foi memorável aguardar o clipe de “Carry On” no Jornal da Noite do SBT para saber o que o Andre ia aprontar depois de ter saído do Viper. E a torcida para que ele fosse o escolhido pro lugar de Bruce Dickinson, era semanal lá em casa.

Com certeza, a maior voz do metal brasileiro não irá se calar, pois sempre estaremos ouvindo e admirando seu talento através de uma carreira repleta de altos e picos imensuráveis. Deixará saudades eternas … Guardarei com carinho as duas vezes que troquei uma ideia pessoalmente com ele, e fora todo o carisma e atenção com todos os fãs que chegavam para conversar com o Andre, sempre de boas …


Micael Machado

Oito de junho de 2019, sábado à tarde. Voltando do serviço, abro o facebook pela primeira vez no dia, e a primeira imagem que vejo é a do nosso colaborador (e chefe-da-porra-toda) Fernando Bueno ao lado de André Matos, cantor, maestro, compositor, tecladista e figura importantíssima para o heavy metal nacional (dentre outras coisas mais). Pensei: “Ué, por que o Bueno postou uma foto com o André? Será que houve algo com o cara?”. Nunca imaginaria que o “algo” fosse uma coisa tão séria.

Ao gravar os dois primeiros discos do Viper, André, ainda muito jovem, ajudou a marcar seu nome na história da música pesada brasileira, mas não parou por aí. Com praticamente todas as demais bandas e projetos que possuiu desde então, o músico ajudou a elevar o heavy metal brasileiro a um nível de reconhecimento elevadíssimo em qualquer parte do mundo (mais do que no seu próprio país, infelizmente), e se tornou, em minha opinião, o melhor cantor que o estilo já viu (e ouviu) nestas terras tupiniquins.

Acredito ter todos os CDs que André Matos lançou ao longo de sua longa carreira (a qual acredito ser bem conhecida de todos os que estão lendo este texto, e que, portanto, não precisa ser detalhada aqui), mas assisti ao “homem” ao vivo apenas duas vezes, uma em carreira solo, apresentando a íntegra do clássico primeiro registro do Angra, Angels Cry, e outra com o Viper, em uma apresentação inesquecível marcada para sempre no HD do meu já combalido cérebro metaleiro (onde pude trocar uma ideia com ele e autografar meus CDs, com o músico se mostrando solícito e de uma humildade enorme e cativante). Lembro de uma terceira passagem dele por Porto Alegre depois disso, ainda em carreira solo (e, se não estou enganado, apresentando o Holy Land na íntegra), e ainda por cima no templo sagrado do Opinião, mas eu não estava na cidade na época, e, como tinha certeza que um dia ele voltaria à capital gaúcha, nem esquentei muito a cabeça!

Infelizmente, eu estava errado. O sábado nos privou da maior voz que o heavy metal brasileiro já gerou, um dos maiores talentos que já passaram por nossos palcos, e um dos músicos mais “gente fina” com quem tive oportunidade de conversar. Meu sonho de ver o Shaaman ao vivo nos palcos de Porto Alegre não irá se realizar, nem poderei mais apreciar o talento de um dos meus maiores ídolos brasileiros neste negócio chamado “música”. Só me resta lamentar, e torcer para que, onde quer que ele esteja, receba um pouco da energia e da gratidão de todos aqueles que admiravam seu trabalho, e que permanecem por aqui, órfãos de seu talento e de sua presença! Descanse em paz, Mestre! May we meet again!


Thiago Reis

Andre Matos e suas canções fizeram e fazem parte da minha vida. A tristeza toma conta de mim nesse momento, ainda mais por saber quem ele é. Um cara inteligente, de bom coração e que se preocupava com as pessoas de forma genuína. Não consigo esquecer o e-mail que me foi enviado através de seu empresariamento e de meu amigo Sandro, após o falecimento da minha tia, em 2013.

“Caro Thiago, ficamos sabendo através do Sandro do falecimento de sua tia e do quanto isso representa pra você. Queremos enviar o nosso abraço e nossos pesares. Todos passamos por isso, cedo ou tarde – e não há um único remédio… é um grande teste que a vida nos coloca. E que só o tempo ajuda a cicatrizar. Força, irmão; que você consiga seguir adiante mais forte a cada dia. Abraço, Andre Matos”

Obrigado por tudo, Andre Matos. Descanse em paz.


Davi Pascale

“This time I wanna know what life means…”. Em momentos como esse, sempre vem em nossa mente a ideia do tempo. De todas as maneiras. De como tudo passa tão rápido. De como tudo pode acabar em um instante. De quantos momentos bons e especiais vivemos e acabamos não nos dando conta.

Descobri a musica do Andre Matos, no ano de 1993, com o lançamento de um álbum chamado Angel´s Cry. Eu era um garoto de apenas 11 anos de idade, mas assim que ouvi canções como “Carry On”, “Wutherings Heights” e “Streets of Tomorrow”, pensei: ‘Uau! Esse cara não deve nada aos cantores gringos!!’. Ficava imaginando se ele seria capaz de reproduzir ao vivo o que fazia no disco. Mais do que isso, ficava no meu quarto tentando reproduzir seus falsetes. E , claro, não conseguia. Um ano depois, assisti ele ao vivo pela primeira vez no Philips Monsters of Rock. Apaixonado pela música do Kiss, não poderia perder aquele concerto de jeito nenhum. Cheguei cedo ao estádio junto com meu irmão e alguns amigos e assistimos cada um dos shows. Lembro até hoje de Andre sorridente no palco, jogando o microfone para o público, correndo de um lado para o outro usando uma calça de couro. Aquela seria a primeira de várias apresentações suas que conferiria. Dentro e fora de festivais. Dentro e fora do Angra.

Também lembro com clareza das duas vezes em que estive com ele. A primeira foi em uma apresentação que o Shaman realizou no Kazebre ao lado do Dr. Sin. Fui ao show acompanhado da rapaziada do Dr. Na época, trabalhávamos juntos. Com isso, assisti aos 2 shows de cima do palco. Já sabia que teria que vazar assim que terminasse, então o procurei antes da apresentação. Andre era um ídolo, para mim. Tinha que conhecê-lo. Lembro de Andre chegando na casa de óculos, com uma mochila nas costas, calmo. Bem diferente da imagem de rockstar que encarnava assim que se colocava debaixo dos holofotes. Naquele dia, o clima entre o Shaman não era dos melhores, mesmo assim atendeu meu pedido para que assinasse meus discos. Não falou muito, apenas abriu um largo sorriso, disse “tem tudo, né?” e saiu assinando encarte por encarte.

A segunda vez, nos falamos mais. O momento era o oposto. A tempestade já havia passado. Era um momento de total celebração. Era a turnê de reunião com o Viper. Já tinha assistido eles abrindo o show do Kiss em São Paulo e no Rio de Janeiro, mesmo assim corri até o Sesc para prestigia-los. Nada como assistir um show completo, com o som no talo em um ambiente mais intimista. Fomos avisados que o Andre não atenderia o publico, somente os demais músicos. Mesmo assim, eu e mais uns 2 ou 3 garotos insistimos em esperar por sua saída. E ele não ignorou. Assim que nos viu, abriu um sorriso, largou sua mochila de lado e veio nos cumprimentar.

O rapaz da produção deu uma chiada quando viu os encartes em minhas mãos, o próprio Andre chamou sua atenção. “Imagina, assino para ele com prazer, me dá sua caneta”. Colocou os encartes no balcão, perguntou meu nome e saiu assinando. Comentou do encarte do Evil Warning e da versão japonesa do Time To Be Free que tinha levado. Comentei com ele do o outro encontro com ele no Kazebre, do show do Monsters… Conversava calmamente sempre com um sorriso no rosto, com uma fala baixa, sempre muito educado. Antes de sair, ele mesmo sugeriu que fizéssemos uma foto. Acabamos fazendo duas, uma é essa que ilustra a matéria.

Quando abri meu Facebook e vi os comentários de que havia falecido, me bateu uma tristeza. Em um primeiro momento, ficava me perguntando como assim. Um músico ainda jovem, que nunca foi de excessos. Mas logo, comecei a me recordar de todos esses momentos e logo me veio um sorriso no rosto. Comecei a me recordar de velhos amigos, de inúmeros shows que assisti, de tudo que desfrutei graças à música que produziu, comecei a reparar do quanto ele fez parte da minha história, ainda que não soubesse disso. Tudo que posso dizer, nesse momento, é obrigado Andre.  Obrigado por sua música e obrigado pelos ótimos momentos. Hoje, the ‘angels are cryin’.

You’re alive, You’re alive
Just by the light
From our eyes

7 comentários sobre “Uma Despedida Para Andre Matos (To Live Again)

  1. 2019 realmente não está sendo fácil dentro do cenário da música!
    Nunca fui fã do cara, mas fica aqui minhas condolências!

  2. Curioso notar que praticamente todos tem uma foto ao lado do cara, ou algum item autografado, não só os que publicaram este texto, mas também os que se pronunciam nas redes sociais a respeito de seu passamento! Uma mostra do quanto ele era humilde e atencioso, características tão grandes nele quanto seu enorme talento! Uma perda muito lamentável, realmente!

  3. Sei que não é o momento para especulações, mas desde que a morte do ANDRÉ foi divulgada nunca acreditei na história de “ataque cardíaco”…Há tempos corriam nos bastidores boatos de que o vocalista estava vivendo uma grave crise de depressão. Talvez ele tenha se entregue a doença, desistido de tudo e abreviado por vontade própria sua vida. De qualquer forma, descanse em paz, onde quer que você esteja, ANDRÉ MATOS!!! PS.: O EDU FALASCHI esteve próximo de se matar recentemente em virtude da depressão, mas há um véu sobre o assunto e a mídia metálica tupiniquim parece não se sentir à vontade falando sobre isso…

  4. Eu conheci o Angra em 1994 em uma loja de discos ,no Rio de Janeiro. Na época,ele fez um autógrafo dedicado a minha mãe,também falecida

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