Cinco Discos para Conhecer: Genesis ao vivo (bootlegs)

Cinco Discos para Conhecer: Genesis ao vivo (bootlegs)

Por Ronaldo Rodrigues

O Genesis é um dos bastiões do rock progressivo inglês e referência para grande parte de toda a produção progressiva pós-70. A partir do sucesso de seu quinto álbum, Selling England by the Pound, os músicos Phil Collins, Peter Gabriel, Mike Rutherford, Steve Hackett e Tony Banks passaram a tocar para platéias cada vez mais numerosas ao redor do mundo. Esta formação durou até 1975, mas o sucesso se ampliou ainda mais com Collins substituindo Gabriel nos vocais e com a banda tornando seu repertório mais pop e acessível ao grande público.

A banda é bem servida em lançamentos oficiais de suas performances no palco – Genesis Live (1973), Seconds Out (1977), Three Sides Live (1982), Genesis Live (1992-1993) e Live Over Europe (2007) retratam boa parte do repertório de sucesso da banda em suas diferentes fases. Vale mencionar também a caixa Genesis Archive: 1967-1975, com precioso material ao vivo da fase Peter Gabriel. Nesta caixa, destaca-se a performance explosiva da banda no Teatro Rainbow em Londres, em outubro de 1973.

Contudo, este texto apresentará algumas dicas para quem quer se aprofundar na obra da banda, através de alguns de seus bootlegs. Para quem não conhece o termo, bootlegs são discos não autorizados pela banda, produzidos por fãs com material captado também sem autorização. Em geral, bootlegs trazem as performances “cruas”, tal qual foram executadas. Discos ao vivo oficiais tendem a ter um tratamento melhor, inclusive captando performances de diversos shows diferentes (ou uma série de shows) visando oferecer ao ouvinte uma performance perfeita, sem erros ou problemas técnicos. A qualidade sonora dos bootlegs nem sempre é satisfatória, já que as vezes precários gravadores portáteis eram usados para capturar o som do meio da platéia. Contudo, há registros capturados diretamente das mesas de som ou em transmissões de rádio. A veiculação deste tipo de material sempre ocorreu por baixo dos panos – algumas bandas promoviam uma verdadeiras “caça às bruxas” contra esse tipo de material, enquanto outras não se importavam tanto. O Genesis parece estar mais no segundo grupo, já que há fartura de bootlegs da banda disponíveis na internet e produzidos em LP e CD. A lista não é definitva – apenas uma relação de 5 boas dicas de bootlegs da banda.


Charleroi Festival, Bélgica, 16/1/1972

Bootlegs do Genesis pré-1973 não são exatamente raros, mas são pouquíssimos que tem uma qualidade de som minimamente apreciável. A banda ainda era pouco conhecida e tocava em lugares pequenos. As músicas dessa apresentação em Bruxelas são da tour do álbum Nursery Crime, o início de uma fase de ascenção da banda, com a entrada do guitarrista Steve Hackett. Nessa época ele ainda tocava sentado em uma cadeira e o performático Peter Gabriel ainda tocava sem máscaras ou fantasias. É difícil encontrar maiores informações sobre o suposto “festival” que o titulo menciona. As músicas presentes foram distribuídas em ao menos três bootlegs distintos – Casting Just a Silence (Compacto/Picture), The Story So Far…(Compacto) e Mupett 11 (CD-R). A qualidade não é das melhores, mas é boa quando comparada aos demais bootlegs da mesma época. Além da execução muito precisa, este bootleg vale pela presença de faixas não muito celebradas no repertório da banda – “Happy the Man”, “Stagnation” (do álbum Trespass) e “Twilight Alehouse” (lançada apenas em compacto, mas presença freqüente nos shows do período). O restante do repertório é idêntico ao visto nas gravações feitas para a TV belga dois meses depois – “Fountain of Salmacis” (em ótimo desempenho de Gabriel nos vocais), “Musical Box” e “The return of the Giant Hogweed”. É interessante notar Gabriel falando em francês com a platéia e o público silencioso durante o anúncio do título das músicas (algo que não ocorreria mais com a banda pouco tempo depois).


University Sports Centre, Montreal, Canadá, 21/4/1974

Grande registro da tour de Selling England by the Pound pela América. O concerto foi transmitido por uma rádio de Montreal, onde o show ocorreu. Pelo eco da voz de Gabriel em “Watcher of the Skies” é possível perceber que se trata de um show em um grande ginásio. Um detalhe interessante é a presença do pedal Moog Bass acompanhando o mellotron de Tony Banks nesta faixa. Neste registro é também possível perceber bem os backings vocals de Mike Rutherford e Phil Collins nas músicas. Phil Collins dá um show a parte em “Dancing with the Moonlit Knight” e “Cinema Show”, na qual Tony Banks toca com perfeição todos os solos presentes na versão de estúdio. Peter Gabriel, que falava francês com fluência, também conta suas piadinhas na língua local. Uma faixa torna esse registro bastante valioso – “Battle of Epping Forest”, que nem sempre freqüentava o repertório da turnê, numa poderosa execução com Hackett detonando e Collins aplicando um efeito phaser em sua bateria no fim da música. Três bootlegs possuem músicas dessa apresentação – Live in Montreal, L’Ange Gabriel e Visage. Nelas, um erro em comum – a menção a faixa “Horizons”, quando na verdade trata-se de um trecho de “More Fool of Me”.


Lakeland Theatre, Flórida, EUA, 11/01/1975

Se você é baterista e/ou fã de Phil Collins, essa dica é quente. Trata-se de um álbum no qual a bateria de Collins soa cristalina e muito presente. Obviamente, que a performance do camarada também é estupefante e cheia de improvisos, o que torna esse show bastante valioso. Peter Gabriel também está com uma voz potente e com mínimos deslizes na afinação. O registro todo tem boa qualidade sonora e a banda mostra-se afiadíssima. Difícil destacar alguma faixa, porque esta parece ter sido uma noite bem feliz para a banda. É importante citar também que a velocidade das músicas está praticamente idêntica ao que se encontra nos discos, o que é raro em execuções no palco, já que a adrenalina dos músicos acaba gerando acelerações nos andamentos. The Lamb lies down on Broadway é executado na íntegra com maestria. “Fly on the Windshield” e “Hairless Heart” ficaram lindíssimas com a presença do metalofone e “In the Cage” e “Riding the Scree” são trazidas com toda sua psicodelia e potência. Ao que consta, estes registros pertenciam ao acervo pessoal de Mike Rutherford e um “vazamento” deu origem a um CD-R com o nome do local e a data.


Hammersmith Odeon, Londres, Inglaterra, 10/06/1976

Outro material que irá interessar bastante os bateristas e os que gostam de prestar atenção neste instrumento. O show no lendário Hammersmith Odeon em Londres traz o baterista Bill Bruford tocando com a banda – um luxo que apenas o Genesis teve, já que trata-se do encontro de dois dos maiores bateristas ingleses do período, em seu ápice como instrumentistas. A interpretação de Bruford para as canções é simplesmente incrível. “Firfh of Fifth” é maravilhosa com a participação de Bruford e os trechos em que Collins o acompanha na bateria, somados ao magistral solo de Steve Hackett na guitarra e os arranjos de mellotron de Tony Banks. Collins inclusive sacaneia o colega anunciando propositalmente seu nome errado (Bill Bloomington). Duas canções merecem destaque, pela atuação memorável – “Entangled”, do recém-lançado A Trick of the Trail, e “White Mountain”, do revisitado Trespass, que caiu muito bem para a voz e interpretação de Phil Collins e para a sonoridade (teclados e guitarras) que a banda praticava na época. Diferentemente do conhecido vídeo da A Trick of the Tail tour, que também conta com Bruford, a versão de “Cinema Show” é tocada em andamento bem mais próximo do que a gravação original de estúdio, o que é uma grande virtude. Outros pontos altos do show são “Dance on a Volcano”, “Fly on a Windshield” (com um show de percussão), “Supper’s Ready” e a quebradeira de “Los Endos”.


Chicago, EUA, 13/10/1978

Registro de um momento de transição para o Genesis, no qual a banda realmente invadiu as FMs do mundo todo e seu público cresceu exponencialmente. O show em Chicago no fim de 78 é da tour do álbum And then there were three…, transmitido via rádio por uma emissora local, e traz a banda com uma formação diferente dos demais momentos citados aqui – Tony Banks, Mike Rutherford e Phil Collins são acompanhados por Chester Thompson na bateria e Daryl Stuermer apoiando Rutherford nas guitarras e baixo. O show começa animado com “Eleventh Earl of Mar”, do álbum anterior Wind and Wuthering e é seguida por uma veloz interpretação de “In The Cage”, na qual Thompson e Collins mostram com quantos paus se faz uma canoa na cozinha, e Rutherford e Banks fazem bonito na parte harmônica. As clássicas “Dancing with the Moonlit Knight” e “Musical Box” entram como um medley bastante eficiente, e com uma interpretação bem interessante de Daryl Stuermer e Mike Rutherford nas guitarras. 5 faixas do então disco mais recente entram no setlist, incluindo o hit “Follow you Follow Me”, ovacionada pelo público, que chega a vaiar a banda quando Phil Collins anuncia que a faixa seguinte, “Dance on a Volcano” (tocada um pouco mais rápida que o usual), seria o último número. “Los Endos” e “I Know What I Like” são as encores, sendo esta última cantada de maneira bem descontraída por Phil Collins.

11 comentários sobre “Cinco Discos para Conhecer: Genesis ao vivo (bootlegs)

  1. LEgal a resenha.Eu possuo vários outrosconhecer 4 destes citados!Não posso deixar de ouvir GENESIS…o que eu tomei na época de cogumelos e canabis ouvindo cada álbum que saia foi monstruoso .As viagens e experiências sensoriais com música transformaram meu mundo( para muito melhor e mais distante deste) com a música deste grupo único na história do rock!
    hare!!

  2. Achei que ia aparecer o bootleg do show do Maracanãzinho, mas as escolhas são formidáveis. Aquele da Bélgica ali é de tirar o chapéu. Outro bootleg fantástico é o Rainbow Theater de 1973. Matéria sensacional!!!!

    1. Valeu Mairon!!! fiquei tentando a inclui-lo, mas achei também que muitas pessoas que se interessam pelo tema aqui no Brasil já o conheciam e tb pq aquele setlist foi lançado oficialmente através do Seconds Out. Obrigado pelo comentário! abraço!

      1. Nele aparece o Live – From The Mouth Of The Monster, que eu suspeito ser o mesmo disco listado pelo Ronaldo como Chicago 13/10/1978. Procede??

        Outro que poderia estar aqui é o Gabacabriel. Sensacional disco triplo com a reunião do grupo (Gabriel, Collins, Hackett, Rutherford e Banks) em 1982

    2. Na realidade a melhor gravação no Brasil é o show de São Paulo no Ibirapuera que é tido como um dos melhores bootlegs da discografia não oficial do Genesis.

  3. Cara…eu não dou conta de ouvir os discos de estúdio que eu tenho interesse, imagina se ficar caindo na seara dos bootlegs…. PQP!!!

  4. Mairon, muito legal o vídeo! e sim, procede…esse bootleg de 78 (assim como os outros) tem vários nomes, mas esse é o mais conhecido.

  5. Bela lista. Posso deixar aqui minha recomendação também? O extraordinário show de Shepton Mallet, na Inglaterra, em 1982. A performance de Collins em Supper’s Ready é tão impressionante que em Apocalypse in 9/8 ele chega a doar quase heavy metal, de tanto drive: https://youtu.be/iudg5L4G83U
    Para mim foi a melhor gravação que ouvi da carreira do velho Phil e ele poderia ter entrado em qualquer banda de rock pesado da época, teria caído como uma luva\o/

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