Silverchair – Frogstomp [1995]

Silverchair – Frogstomp [1995]

Por Micael Machado

O que você fazia para se divertir quando tinha doze anos de idade? E quando tinha quinze? Os membros do trio australiano Silverchair (Daniel Johns, vocal e guitarra, Chris Joannou, baixo, e Ben Gillies, bateria) montaram a primeira “encarnação” do grupo com apenas uma dúzia de primaveras, e, na idade de “debutarem”, já tinham um disco lançado e na primeira posição das paradas de seu país natal e da vizinha Nova Zelândia (além de ser top 10 nos EUA, o que não é pouca coisa). E fazendo música de gente grande, e não meras canções pop ou infantis!

Johns e Gillies começaram a tocar juntos ainda na escola primária do subúrbio de Merewether, na Austrália. Ao passarem para o ensino médio, em 1992, conheceram Joannou e montaram o Innocent Criminals, tendo Tobin Finane na segunda guitarra. Já como trio, participaram de uma competição nacional de bandas de colégio, ficando em primeiro lugar. Animados, gravaram algumas demos, e uma delas, da música “Tomorrow”, acabou vencendo outra competição nacional, o que deu direito ao grupo de fazer um vídeo de divulgação para a faixa, o qual foi transmitido em rede nacional, com os garotos já adotando o definitivo nome Silverchair, inspirado pela crônica de mesmo nome presente no livro “As Crônicas de Nárnia”.

Os garotos do Silverchair na época de  Frogstomp: Daniel Johns, Ben Gillies e Chris Joannou

 

O vídeo e as demos dos rapazes despertaram o interesse de muitas gravadoras locais, mas foi a Sony, através de sua subsidiária Murmur Records, que lançaria o disco de estreia dos rapazes em 1995. Frogstomp, o álbum em questão, pode ser considerado como uma das consequências do “fenômeno grunge” que se espalhou pelo mundo no começo dos anos 1990, com os vocais de Daniel soando por vezes quase como uma cópia dos de Eddie Vedder (cantor do Pearl Jam), assim como o instrumental do trio não deixa dúvida alguma de que os principais grupos de Seattle serviram de enorme fonte de inspiração aos adolescentes. Gravado em apenas nove dias, e tendo como produtor o renomado Kevin Shirley, o registro alcançaria o topo das paradas da Austrália, e espalharia o nome do grupo ao redor do mundo.

Muito desta fama se deve à música que fez o grupo acontecer. “Tomorrow”, que já havia aparecido no primeiro EP do grupo em 1994 (para o qual foi gravado um novo vídeo clipe), poderia a princípio ser confundida com uma composição do Pearl Jam, ou mesmo do Soundgarden, não fosse a voz de adolescente de Daniel. Misturando sonoridades limpas de guitarra em seus versos a um peso arrastado no refrão, a canção agradou às rádios, principalmente nos Estados Unidos, onde ficou em primeiro lugar em duas paradas da Billboard, a Modern Rock Tracks e a Album Rock Tracks. Outro grande destaque do track list, e que ajudou o álbum a “estourar”, é a faixa de abertura chamada “Israel’s Son” (outra que lembra o Soundgarden), que inicia com um poderoso riff de baixo, e vai ganhando peso e velocidade à medida que progride, terminando de forma rápida o bastante para satisfazer qualquer fã de hardcore. Esta canção iria trazer bastante incômodo ao grupo em 1996, quando dois rapazes acusados de assassinar os pais e o irmão mais novo de um deles declararam no tribunal que foram influenciados pelos versos da música. O empresário da banda deu uma declaração de que o grupo não tolerava nem incentivava tais casos de violência, e a corte acabou, após a apresentação das provas, afastando a possibilidade da faixa ter servido de inspiração aos jovens, que teriam cometido os crimes visando roubar dinheiro e pertences do casal.

O encarte de Frogstomp

 

Outros destaques de Frogstomp ficam para as faixas “Pure Massacre“, que possui bastante peso e a tradicional falta de velocidade de certos grupos surgidos em Seattle, “Suicidal Dream”, uma balada bastante densa com trechos mais pesados ao final (e onde Johns “encarna” Eddie Vedder em sua forma de cantar), e a mistura de thrash com punk chamada “Madman“, praticamente toda instrumental, a não ser por um “Uh!” lá no meio que encheria Tom Warrior (do Celtic Frost) de orgulho, e pela verbalização do nome da canção mais ao final (uma versão com letras chegou a ser lançada na coletânea The Best of Volume 1, mas eu prefiro a original). “Findaway” é outra canção que mostra traços de punk rock (chegando a lembrar algumas coisas do Green Day), e “Faultline” pode até parecer uma balada no início, mas depois muda seu andamento para uma sonoridade mais pesada e veloz, terminando sua duração em meio a bastante peso.

“Leave Me Out” é pesada e meio arrastada, também lembrando bastante o Soundgarden, e possuindo um solo de guitarra muito ruim, o que passa a impressão de que os rapazes ainda não tinham pleno conhecimento e destreza com seus instrumentos à época das gravações, algo que a audição das demais faixas não confirma. O peso e as melodias arrastadas também aparecem no começo de “Undecided”, que fica mais rápida no refrão. Já “Shade” é uma balada com clima tristonho e letra depressiva, ao contrário de “Cicada”, com um jeitão quase alegre, e que lembra algumas coisas do Pearl Jam (especialmente pela forma com que Daniel canta e pelo timbre da caixa da bateria), e é uma composição que soa bem diferente em comparação às outras faixas do disco. A versão em vinil, limitada a apenas 3000 cópias, além de ser na cor verde, ainda possuía uma faixa extra, chamada “Blind”, que apareceria em 1996 na trilha sonora do filme “O Pentelho” (“Cable Guy”, no original), o qual tinha Jim Carrey no papel principal.

A rara e limitada versão em vinil verde

 

O sucesso do registro de estreia parece ter mexido com a cabeça dos rapazes, que mudariam bastante sua música já no disco seguinte, Freak Show, indo em direção a uma sonoridade mais pop e mainstream, que culminaria no single “Ana’s Song (Open Fire)”, baladinha insossa presente no terceiro álbum, Neon Ballroom, e que arrancou lágrimas de muitas adolescentes da época. Apesar de ainda possuir algumas faixas bastante “audíveis” espalhadas nestes dois discos, o estilo da estreia raramente apareceria de novo na obra do Silverchair, que acabou por se separar em 2003, após lançar o registro intitulado Diorama no ano anterior. O hiato se prolongou até 2006, com o trio lançando o álbum Young Modern no ano seguinte, e excursionando novamente pelo mundo até 2011, quando houve uma segunda separação, desta vez, aparentemente, de forma definitiva. Ficaram algumas canções que marcaram forte presença na história musical de muitos adolescentes da última década do século XX e da primeira década deste século, dentre as quais as melhores podem ser encontradas, sem dúvidas, neste Frogstomp!

“You gonna wait till, fat boy, fat boy, wait until tomorrow…”

Contracapa de Frogstomp

 

Track List:

1. Israel’s Son

2. Tomorrow

3. Faultline

4. Pure Massacre

5. Shade

6. Leave me out

7. Suicidal Dream

8. Madman

9. Undecided

10. Cicada

11. Findaway

4 comentários sobre “Silverchair – Frogstomp [1995]

  1. Parabéns pela resenha. A banda prometia, mas optou em seguir uma linha mais light, amaciando seu som. Gravaram a baladaça Miss you love, que traz boas recordações.

    1. Essa música com todo o respeito camarada, é brega, cafona e idiota. O Silverchair era o a versão boy band do Nirvana. E seu mentor o tal Daniel João digo Daniel Johns se achava o Kurt Cobaína da virada dos 90 para o 2000.

  2. Eu tinha o CD desse sapo verde na sala . E descobri que umas das visitas dos amigos do meu irmão roubaram o CD rsrs.

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