Gene Simmons: The Vault – Terceira Parte (2018):

Gene Simmons: The Vault – Terceira Parte (2018):

 

 

Por Davi Pascale

Essa semana, os fãs do Kiss foram surpreendidos com a notícia de que a banda está se aposentando. Bem… A surpresa não é tão grande se levarmos em conta a idade dos músicos e tudo o que se espera deles para entregar o tipo de show que seu público espera. Contudo, essa é aquela notícia que você torce para que nunca chegue. Tenho contato com fãs de diferentes cantos do mundo (algo possível, graças à internet) e em minutos comecei a receber em minha timeline, inúmeras homenagens e até vídeos com gente chorando. É, meus amigos, os fãs do Kiss sempre foram leais à banda…

Não tinha semana mais condizente para publicar a parte final dessa matéria. Afinal, esse é o tipo de material que todo fã sempre sonhou em ter em mãos. E também é o tipo de material que o artista faz quando quer celebrar algo ou fechar um ciclo. Todo fã de carteirinha sonha em descobrir o que há guardado à sete chaves nos arquivos de seus artistas prediletos. E é exatamente isso que Gene Simmons nos oferece aqui. Para criar esse material, o músico revirou todo o seu acervo e selecionou aquilo que considerava o creme de seu material. É isso mesmo, não estão aqui todas as suas gravações inéditas. Apenas, uma parte delas. O texto de hoje é um pouco mais extenso. Vocês vão entender o porque…

Os 4 últimos discos seguem, mais ou menos, a mesma pegada. Faixas mais hard rock, privilegiando material inédito. “No Conscience” abre o sétimo álbum. Um hard rock básico com uma pegada 80´s. Música bem bacaninha que poderia ter entrado em um álbum como o Asylum. “Suspicious” foi criada para o Black n Blue na época em que Gene estava produzindo o último álbum dos garotos. “Everybody Wants” foi escrita em parceria com um músico do Silent Rage. Na época, levava o título de “Everybody Wants Some” (nada a ver com a música do Van Halen), mas Gene abreviou o nome da música para não confundir o ouvinte com outra faixa de mesmo título, presente no box. O refrão é interessante, a guitarra possui um riff bacana, mas a parte dos versos precisava ser mais elaborada, na minha opinião.

“Promise The Moon” é mais uma ligação com a antiga banda de Tommy Thayer. Simmons apresentou à eles uma demo chamada “Sentimental Fool”. Uma antiga parceria com Bob Kulick. “Sentimental Fool nunca foi gravada pelo Kiss, nem por ninguém. O título surgiu de uma canção do Four Tops(…) Anos depois, quis adaptar a música…”. Os músicos, contudo, resolveram dar sua cara. “Mostrei para Tommy Thayer e Jamie St James e eles retornaram com outra música. Letra diferente, melodia pouca coisa modificada, mas ainda mantendo os mesmos acordes e riffs que havia criado”. “All You Want Is a Piece of My Heart” é uma parceria inacabada entre Gene e Tommy Thayer. A letra nunca foi terminada e aqui podemos ouvir Simmons fazendo alguns scats. A ideia era interessante, mas é claramente uma musica que também precisava ser mais lapidada ainda.

Quando estava elaborando seu álbum Asshole, Gene descobriu um garoto chamado Mark Addison e resolveu ouvir o material do rapaz. O baixista gostou do que ouviu e resolveu gravar duas músicas: “Beautiful”, incluída no álbum, e “Pride”, até então inédita. Uma balada moderna bem interessante,  melhor do que a foi para o disco. “Mirage” é uma do inicio dos anos 90, criada a partir de uma demo abandonada dos anos 70 chamada “Through The Night”. Uma das mais fortes do sétimo disco.

Na época de Asshole, outra descoberta de Gene foi um multi-instrumentista que atendia pelo nome Bag. O músico linguarudo resolveu trabalhar algumas músicas do garoto. “Dog” foi uma delas. A versão que aparece aqui não difere muito da versão do álbum. Essa é uma canção que nunca curti. E continuo achando equivocada. “If I Had a Gun” já é uma que considero muito boa. E a versão daqui, sem aquela mixagem moderna, fez com que soasse ainda mais forte. Algumas musicas do Kiss se fazem presente, e temos a seguir, 2 sons da época do Carnival of Souls. A primeiríssima versão de “I Walk Alone” é a primeira a surgir. No disco, temos Bruce Kulick no vocal principal. Aqui, temos o registro na voz de Gene. A demo foi gravada pelos 2 músicos apenas e é bem interessante. Mostra a música bem crua ainda (Sim, aquele riff meio Alice In Chains no meio da música já existia). “Seduction Of The Innocent” é outra que vem do álbum de 1997. Interessante que Gene comenta que o riff dessa música foi uma das primeiras coisas que escreveu. A ideia nasceu quando estava brincando com sua primeira guitarra, aos 13 anos, e só sabia tocar duas notas. Nunca iria imaginar que uma musica dessa fase nascesse de algo assim…

Logo do evento

 

E eis que surge um verdadeiro presente aos fãs do Kiss, a primeiríssima demo de “Lonely Is The Hunter”. “O riff surgiu rápido. Tentei fazer algo que soasse como Humble Pie. Adorava os riffs deles, o trabalho harmônico deles. Era o que tínhamos em mente quando cantávamos as melodias de “Black Diamond” e outras canções”. O músico também se demonstra honesto ao comentar o momento turbulento da banda. “Lonely Is The Hunter foi gravada para o Animalize, mas eu não estava no estúdio. Paul estava no comando. Nunca gostei da nossa versão”.

No final desse CD, podemos notar a criação de uma música chamada “Never Gonna Leave You”. Ela aparece em 3 versões: “Never Gonna Leave You #1”, “I Ain´t Coming Back” e “Never Gonna Leave You #2”. Interessante notar como uma canção de 1977, com uma pegada meia disco, e inspiração na Motown, tornou-se um empolgante e cativante hard rock. Essa última versão, que conta com a ajuda de Eric Singer e Tommy Thayer, poderia facilmente entrar em um álbum do Kiss. E teria de tudo para ser um dos grandes hits. A melhor música desse sétimo CD.

O disco 8 começa com duas faixas inéditas, bem no estilo hard rock de arena que os fãs do Kiss amam. “We Rocked It All Nite” é fantástica e conta com uma letra autobiográfica com o músico relembrando os anos iniciais da banda. Foi uma das faixas que ficou de fora do Sonic Boom. “She´s Rotten To The Core” é uma parceria inédita com Bruce Kulick. Outra faixa empolgante, com um ótimo riff, que nos faz lamentar não ter sido utilizada em algum álbum do grupo.

O músico deixou explícito, conforme já comentado previamente, que uma musica não nasce do nada, é lapidada antes de chegar à sua estrutura final. Aqui temos a demonstração de “Sweet, Dirty & Love”, talvez a mais Kiss do álbum Asshole. “Eric (Singer) me disse que o riff lembrava ‘Tie Your Mother Down’ do Queen. Então, lembrei Eric que tinha escrito esse riff e essa música anos antes de Brian aparecer com ele”. “S&M Love” é um pouco mais rápida e direta do que a versão do disco, embora o riff e a linha vocal se mantenham. “Sweet, Dirty & Love” é a que mais se aproxima da versão final. Não muda muito, backings mais sutis apenas. “Jelly Roll” nada mais é do que a primeira versão que o Gene se refere. Essa é uma musica manjada entre os colecionadores de bootlegs do Kiss… E, sim, o riff já estava ali.

Gene Simmons já deixou claro algumas vezes – e comenta no livro, inclusive – que não tem problema em recorrer à antigas demos para criar uma musica nova. Pegar uma musica não aprovada e criar outra em cima. E eis que podemos presenciar a criação de “You Wanted The Best, You Got The Best”, faixa do álbum Psycho Circus, que nasceu exatamente desse jeito “Just Gimme Love” #1 é uma demo do final dos anos 70 com Gene assumindo guitarra, baixo e vocais. É onde começa a música. O riff e a linha vocal dos versos já estavam aqui. O refrão, contudo, era bem diferente e tinha uma ponte que foi cortada depois. Muito bacana… Mesmo!! “Just Gimme Love #2” já tinha som de banda (Tommy Thayer na guitarra, uma vez mais). Agora, não apenas o riff e a melodia dos versos estavam presentes, como aparecia também a levada de bateria. “You Wanted The Best” é a primeira demo para a gravação do polêmico Psycho Circus. E, uma vez mais, Gene não esconde os problemas da época. “O Kiss se preparava para gravar Psycho Circus, e (surpresa!) Ace e Peter enviam seus advogados para renegociar seus contratos, no ultimo minuto, já próximo das gravações começarem. Queriam um monte de adicionais. Claro, recusamos, e começamos a gravar com Tommy Thayer, que não pertencia à banda naquela época”. Gene esperava que os músicos recuassem e criou a musica pensando na participação dos 4. Nas demos, podemos ouvir ele declarando, entre os versos, os nomes dos músicos, marcando onde cada um deveria entrar cantando solo. O arranjo já era bem próximo ao que foi ao disco.

“Hit The Ground (Put Your Money Where Your Mouth Is)” é uma faixa inacabada. A demo foi gravada ao vivo com Eric, Tommy e Gene. O arranjo já estava redondinho, soa empolgante, mas a letra não foi terminada. Mais uma que conta com os famosos scats. Uma pena terem abandonado. “Who Said So” é a mesma pegada e foi gravada com a mesma formação. Nela, escutamos Eric Singer com algumas viradas claramente inspiradas em The Who. A faixa era bacana também, bem rock n roll, mas ainda acho “Hit The Ground” mais forte.

Imagem do box

“Bad, Bad Lovin´” é mais uma demo manjada entre os colecionadores. Uma demo dos anos 70 com Gene fazendo umas linhas vocais faladas, meio inspirado em Lou Reed. Faixa ok, mas não está entre as minhas favoritas. Curiosa, apenas. “I´m Paralyzed” é a primeira versão de “Paralyzed” do Revenge. Linha de voz do refrão e algumas linhas de guitarra similares à versão original, mas o resto bem diferente. “O Kiss gravou essa música e tinha um rap no meio (ideia do Ezrin). Paul e eu não gostamos do rap, então apagamos da gravação. Não há nada de errado com o rap. Mas somos músicos de rock, não de rap”. Fiquei curioso em ouvir isso. O tal rap não aparece aqui.

“Chrome Heart” é mais uma faixa inédita. Uma parceria de Gene e Bruce Kulick que surgiu logo após o disco Crazy Nights. Bem rock n roll e com um som mais na cara, sem os teclados que marcaram o disco na época. Contudo, sem um refrão forte. “´Til The End Of Time” é uma balada inédita com letra inacabada. Interessante, mas não chega a empolgar. “Thou Shalt Not” é a primeira versão da faixa que apareceu no Revenge. Aqui, era instrumental basicamente. Tinha apenas a frase ‘thou shalt not’ cantada. O arranjo, contudo, já estava bem resolvido.

O livro que acompanha esse box é primordial para entender todo esse material. Nas matérias que criei aqui, procurei trazer um pequeno aperitivo, todas as frases do Gene que coloco aqui são retiradas do livro. Além do material contar com uma qualidade gráfica invejável e fotos de diferentes fases de sua trajetória (muitas, inéditas), o musico comenta de cada música presente no box. Os comentários vão desde as gravações, passando pelos músicos participantes, até a inspiração das letras. Comenta com seu jeito característico, com ironias, sarcasmos, é como se estivéssemos batendo um papo com o cara. Quem adquirir o box, tem a obrigação de ler esse livro de cabo a rabo.

Os dois últimos discos mantêm a lógica. O CD 9 se inicia com “It´s Gonna Be Alright #1”. Uma faixa escrita na época do Creatures Of The Night, que acabou ficando de fora do disco. Essa é a demo da época, com Mike Japp e Gene Simmons. Uma guitarra, uma bateria eletrônica, voz e nada mais. A ideia da música era boa, mas não vejo ela ficando mais forte do que o material que foi para o disco, de fato. “It´s Gonna Be Alright #2” é uma demo de 85 gravada ao lado de Bruce Kulick. Mesma canção, já mais finalizada. Como disse, sem a mesma força do material que foi para o disco. Um pouco mais pop, inclusive. Destaca-se aqui, o inspirado solo de Bruce.

“Everybody Knows” é mais uma da fase Asshole. “Everybody Knows #1” tem a construção mais próxima a da original. Com o violão mais na cara, fica mais do que nítido que a introdução foi inspirada em “Rock Bottom” (clássico do Dressed to Kill). “Everybody Knows #2” já traz uma pegada mais moderna, com uma bateria quebrada na introdução e um arranjo ligeiramente mais pesado. Gostei mais dessa versão do que da oficial.

“You´re All That I Want” é a que conhecemos do Unmasked. Aqui, em sua primeira versão, registrada ainda na primeira metade dos anos 70. “Quando estávamos em turnê no meio dos anos 70, Paul costumava chegar e me perguntar: O que você vai fazer nos seus dias de folga? Quer se encontrar?” Gene não pensou duas vezes e arriscou: “Nunca conseguia que os rapazes da banda aparecessem no estúdio, nesses dias de folga, para criarmos uma demo. Por alguma razão, essa foi a única vez que Paul apareceu para me ajudar em uma”. Gene gravou violão e baixo. Paul todas as guitarras. Inclusive, o solo. Gene comenta que prefere essa versão à oficial. E realmente, a faixa soa mais rock n roll sem a produção de Vini Poncia.

“Kids With Painted Faces” foi criada em cima de “I Am Yours”. Já comentada anteriormente, por aqui. É uma ótima música, mas achei bem similar, na real. “I Wanna Rule The World” é uma balada rock, com umas harmonias beatle. Contudo, com um arranjo meio moderno. Algo que consigo imaginar sendo gravada por um cara como o Lenny Kravitz naquela fase Lenny/Baptism. “Rule The World” #2 embora tenha titulo parecido, trata-se de outra música. Mais rock, com uma guitarra igualmente moderna. Essa, achei razoável, apenas. Falta um refrão mais forte, na minha opinião.

Box com os brindes

“Damn, I´m Good”, traz uma pegada mais suingada, mas é em “Dial L For Love”, onde volta a chamar atenção. Uma faixa criada no início dos anos 80. “Houve um tempo, onde os telefones tinham números rotatórios. Expressões como ‘dial me’ e ‘dial me up’ faziam parte do linguajar. É daí que vem ‘Dial L For Love’. E também de um filme do Hitchcock chamado ‘Dial M For Murder’”. Não tem como negar, o cara tem umas ótimas sacadas para a criação de letras.

“Just Like The Movies” é outra que conta com uma pegada mais suingada. Não mais do que razoável, mas do qual ele se orgulha muito, por ter sido uma parceria com Stephen Bishop (um músico que admira bastante). “I Know Who You Are”, por outro lado, é excelente. Canção bem rock n roll na linha de Calling Dr Love / Christine Sixteen. “Sweet Temptation” é uma inédita da fase do Music From The Elder. Boa música, mas também deixaria de fora do disco. Um pouco mais pop e não tão forte quanto “Only You”. “Are You Always This Hot” é mais uma perdida dos anos 80. Mediana. “Fourever” é bem legalzinha, essa já conhecida entre os colecionadores. Trata-se de uma demo dos anos 70, com uma levada inspirada no Dave Clark Five. Essa musica gravada com o Kiss por trás ficaria bem interessante. Traria aquele ar de festa meio “Tomorrow And Tonight”.

O disco 10 abre com “Take It Like a Man #1”, faixa que Gene gravou sozinho. O trabalho de baixo é bem legal com bastante fraseado. “Take it Like a Man #2” foi gravado com Eric Singer e Bruce Kulick, como uma musica a ser trabalhada para o Psycho Circus. Assim como na demo de “You Wanted The Best”, Gene fala o nome dos parceiros e imita o jeito deles cantarem, mostrando onde cada um deveria entrar. Essa também contaria com o vocal dos 4, embora em menor escala. Faixa bem legal, com uma pegada meia zeppelin. A música deu uma bela encorpada com a participação dos outros músicos. Sem contar que Gene imitando o Ace cantando é hilário.

“Have Mercy, Baby” é outra ótima canção dos anos 80 que nunca viu a luz do dia. Gene acabou utilizando a frase ‘have mercy, baby, have mercy on me”, provavelmente como uma referência aos Rolling Stones. “We Won´t  Take It Anymore” é uma parceria de Gene com Eric Carr, na época do Lick It Up. O riff de guitarra me lembrou o de “All Hell´s Breakin´ Loose”, mas letra, linha vocal e tempo eram completamente diferentes. “My Babe” foi outra parceria de Gene com o falecido baterista, da mesma sessão. Segundo Gene, eles queriam soar meio Stones. Até tem a ver no refrão, com aquele onda meio “Shattered”, mas honestamente, achei a música fraca.

A ótima “Eat You Heart Out” vem a seguir. Apesar do titulo, só o refrão que lembra um pouquinho a canção do Monster. A música é bem distinta. “Nine Lives” é uma faixa ok apenas. “It Ain´t Coming Back” aparece novamente. Achei bem similar à que já tinha aparecido anteriormente. Poderia ter entrado outro som no lugar. “Granny Takes a Trip” é mais uma a deixar escancarada sua admiração pelo Zeppelin, dessa vez pela linha de guitarra, mas é “Howling For Your Love” que vai mais mexer com os fãs do linguarudo. Afinal, traz Gene em sua sonoridade clássica dos anos 70, remetendo um pouco ao seu primeiro álbum solo, com coro feminino por trás e uma pegada bem rock n roll estilo Rock n Roll Over. “Me lembro de ter assistido Wolfman quando era jovem. É claro que me assustei, mas fiquei curioso sobre a ideia de existir outra pessoa dentro de você, que não tivesse desconectado de… você. Você não iria se lembrar do que o outro você fez”. Essa foi a ideia da letra.

Numeração do box

“Piece Of The Rock” é uma parceria com Robert Fleischman (Journey, Vinnie Vincent Invasion) nos anos 2000. Pesadinha. O trabalho vocal do Gene é muito bom, mas achei o arranjo sonso. “Rock It” nasceu inspirada no Fine Young Cannibals. Principalmente, no quesito bateria. Curiosa… “Sticky Goo” é um reggae inacabado. Inusitado ver ele buscar referencias no reggae, mas achei a musica bagunçada. “Love Came To Me” já tinha aparecido nos primeiros discos. É sua tentativa de fazer uma canção disco. Já tinha comentado dela. A faixa é boa, embora não seja algo que você associe à figura de Gene Simmons de imediato. “Roar Of the Grasepaint” é, na verdade, a primeira versão de “Journey of a 1.000 Years”, canção que fecha o Psycho Circus. Para criar os efeitos da guitarra, Gene buscou referência em “I Want You, She´s So Heavy”, dos Beatles. A versão apresentada aqui é fantástica. Um pouco mais crua. A versão original, inclusive, nada mais é do que um sanduiche dessa demo com a de “You´re My Reason For Living”. Por isso, é tão bacana ouvir esse material com atenção… É praticamente a música que conhecemos sem o refrão ainda.

Quando foi noticiado que o Gene Simmons estaria lançando esse material, vi muita gente se dizendo fã e desacreditando do potencial do produto. O argumento dessa galera era de que não gostavam dos discos solos de Gene, portanto, ‘imagina um box’. Se esse era seu argumento, quebrou a cara, legal. Esse The Vault comprova, de uma vez, a qualidade que o músico tem no quesito composição. Algo que já sabia. Inclusive, tive a oportunidade de fazer um masterclass com o cara e ver ali na minha frente o conhecimento do cara. E vale lembrar que Gene não escreveu apenas o material de seus discos solo, mas escreveu uma boa parte do material do Kiss. Portanto, cuidado para não dizer bobagens…

E quando acreditamos que já estávamos no fim do box, eis que nos deparamos com um CD bônus e um texto de agradecimento de Gene. “Sei que você achou que receberia 10 CD´s. Mas eu quis te dar mais, pelo tanto que vocês deram à mim. Vocês me permitiram ter essa carreira incrível e essa vida maravilhosa. Sou agradecido! Por conta disso, incluí um 11º CD. Esse disco bônus contem as faixas mais inesperadas, além das minhas primeiras tentativas de composição. Espero que você goste”. Exato… Meus amigos, o The Vault não são 10 CD´s. São 11! Lembra que eu disse que existia uma razão para o texto de hoje ser um pouco mais extenso? Pois bem, aí está a razão.

“Feel Like Heaven” surge em sua primeiríssima versão com o músico tocando baixo e gravando a bateria num teclado de brinquedo. Anos mais tarde, o Kiss gravou uma demo disso que pode ser encontrada em alguns bootlegs por aí. “Obnoxious” é a primeira versão de “Reputation”, gravada em 1978, mais uma vez, baixo e voz em evidência. Essa é bem legal! O refrão era divertidíssimo.  “Mina-San, Mina-San” é uma faixa que escreveu para o Momoiro Clover Z, na mesma época de “Samurai Son”. Musica muito boa. Merecia ter entrado no single. Mais rock n roll do que a faixa escrita por Paul. Mais guitarras, refrão mais forte.

Imagens do pre kit

“Just Begun To Fight”, mais uma demo de 1978, essa mais finalizada do que as 2 primeiras. Puta música com todas as características de um clássico do Kiss. “It´s Funny, But Ain´t No Joke” foi gravada em um porta estúdio de 4 canais. Trabalho vocal muito legal, guitarra bacaninha… Poderia ter se tornado uma faixa forte, se trabalhada. “Love By Invitation” é uma que ele afirma nunca ter mostrado para ninguém ate hoje, por achar que não tinha a cara da banda. A ideia geral era bacana. A linha melódica dos versos era muito boa, refrão nem tanto. “Dorothy Lamour”, inspirada em uma famosa atriz dos anos 40, já é o contrário. Refrão muito bom, verso mediano. Solo bem rock n roll e com direito a um pianinho de fundo.

“Queen Of Hearts” já é uma faixa estranha. Bem pop, com bateria programada, um tecladinho alegrinho por trás. Exatamente o oposto do que imaginamos quando pensamos em sua figura. Se bem que o propósito desse disco era trazer um pouco disso. Então está valendo. “My Lorraine” se trata de Gene na cozinha de sua residência, em 1980, relembrando no violão, uma faixa que escreveu em 1966. Uma de suas primeiras composições. Histórico! “Leeta” é uma de suas primeiras gravações, pré-Wicked Lester, da fase de Bullfrog Bheer ainda. Balada bem Beatles com bastante violão. “Put On Your Slippers” é mais uma de seus anos iniciais. Ambas de 1969. Mesmo tipo de sonoridade…

“Gypsy Nights” é uma demo de 78 com Gene tentando fazer um som pop mais alegre. Ele diz que se inspirou no Electric Light Orchestra. Linha vocal pode ser, mas no arranjo, não vejo muita referência. Se você reparou no logo do produto, você reparou que os anos vão de 1966-2016. As músicas da década de 60 estão todas no disco bônus. “Eskimo Sun” é uma faixa da época que pertencia à uma banda chamada Rainbow. Trata-se de uma balada inspirada em “Because” (Abbey Road). Nancy é mais uma da fase Bullfrog Bheer. O teclado é meio psicodélico, mas a linha vocal me lembra Neil Young. E para encerrar, ele entrega “My Uncle Is a Raft”. Sua primeira composição, registrada em 1966. Uma homenagem à seu tio que havia falecido de câncer. O arranjo conta com uma pegada meia country. Totalmente maluco ouvir o Gene Simmons cantando isso…

Depois de ouvir todo o box, tudo que tenho a dizer é que para quem é fã, isso é uma preciosidade e tanto. Lamento que o evento tenha sido cancelado no Brasil, fico imaginando como teria sido o evento por aqui, se teria convidados ou não, etc. Estava curioso para ver o que iria aprontar. Mesmo assim, é emocionante quando você recebe o produto em sua casa. A expectativa para ver como é o material de fato, o que está vindo de brinde… É quase como uma criança ganhando um brinquedo novo.

Em relação à aposentadoria, tudo que posso dizer aos músicos é: obrigado pelos ótimos momentos em todos esses anos. Descobri a banda em 1985, ainda criança, e venho os acompanhando desde então. Já são 33 anos acompanhando de perto e posso dizer, honestamente, que minha vida não teria sido a mesma sem vocês. Farei de tudo para estar em um show da turnê de despedida. Grato pelos ótimos momentos. See you on the road…

6 comentários sobre “Gene Simmons: The Vault – Terceira Parte (2018):

  1. Texto muito ruim, maçante. Não havia necessidade alguma de dividir em três partes, era só concentrar os destaques em geral em uma e pronto.

    Essa estrutura de citar as faixas e depois dizer “é bom/é ruim” se mostra caricata. Condiz com a situação atual da banda – sou fã há décadas, mas a ideia de gastar os dois olhos da cara em um box com sobras de estúdio me soa insana. Está mais na hora deles pararem mesmo.

    1. Olá Bruno, tudo bom? Não tem como ser revolucionário em uma resenha. Comentar se a musica é boa ou ruim, se faz necessário. Essa ideia de levantar os pontos chave já havia sido realizado por outro site. Decidi fazer assim, porque quando li aquele texto, e não havia recebido meu box ainda, embora tenha gostado do trabalho realizado, continuei com muitas duvidas. Por isso, achei melhor fazer 3 textos e detalhar o máximo possível, tentando saciar a curiosidade dos fãs…

      O texto de hoje ficou realmente mais extenso. Afinal, faltavam 5 CDs para comentar. Achei que não justificaria criar uma quarta parte para focar no CD bonus, por isso fiz essa um pouco mais extensa. Talvez tenha sido a decisão errada, agora já foi… Esse box não é de sobra de estúdios. É uma compilação das demos iniciais criadas pelo Gene Simmons. Não são as demos da banda, conforme já havia explicado na primeira parte.

      Sobre ser insanidade… Vai de cada um… Não me arrependo de ter comprado o box. Pelo contrário, é um ítem que tenho muito orgulho. Lamento que não tenha gostado da matéria. De toda forma, agradeço a participação. Abraço,

      1. Eu gostei do detalhamento e das informações sobre as músicas. Desde a primeira parte fiquei com vontade de comprar a box, e eu nem sou fã do KISS.

  2. Eu gostei da matéria! Lamento apenas o fato do Pascale não querer informar o valor da loucura…

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