Black Sabbath – TYR [1990]

Black Sabbath – TYR [1990]

Por Thiago Reis

Em 1990 o Black Sabbath estava com um novo gerenciamento (I.R.S Records) que havia dado início com o disco Headless Cross (1989), dando mais força para a banda no continente europeu. Após o sucesso do disco citado acima a banda partiu para o estúdio com a mesma formação que excursionou na Headless Cross Tour, ou seja, Tony Iommi (guitarra), Tony Martin (vocal), Cozy Powell (bateria), Neil Murray (baixo) e Geoff Nicholls (teclado). A extensa turnê de 1989 fez com que o entrosamento da banda fosse cada vez maior, tornando-se natural que o quinteto se mantivesse para o próximo álbum. Outro fator interessante é que TYR (1990) marca o terceiro disco de estúdio seguido do Sabbath com Tony Martin nos vocais, tornando-o ainda mais confiante em relação ao seu papel na banda como letrista e front man. Em TYR, encontramos também uma mudança na abordagem das letras em relação a seu antecessor. Enquanto Headless Cross tinha um direcionamento lírico em relação a Satã, morte, trevas, TYR tinha uma conotação mais direcionada à mitologia e à religião.

Encarte

O disco se inicia de forma épica, com uma das melhores músicas da fase Martin. “Anno Mundi (The Vision)” possui um canto em latim que gira em torno da seguinte passagem: “Spirictus Santus, Anno Anno Mundi” e de fundo um dedilhado de Mr. Iommi que ganha contornos enigmáticos com a precisa base de Geoff Nicholls. Um riff poderoso toma conta das ações, além de um acompanhamento mais do que eficiente e destacado de Cozy Powell (não por acaso, Cozy assina a produção do disco ao lado de Tony Iommi). O refrão mostra Tony Martin mostrando ao que veio, cantando em notas altas “Your Eyes Are Burning…”. “Anno Mundi (The Vision)” esteve presente nos set lists de quase todas as datas da TYR Tour e ainda com uma breve participação na turnê britânica de Cross Purposes em 1994 (inclusive filmada para o ao vivo Cross Purposes Live).

“The Lawmaker” é outra com presença garantida na TYR Tour 1990, com destaque para a velocidade dos riffs e a bateria alucinante de Cozy Powell. Podemos conferir em “Lawmaker” um Black Sabbath tendendo para um metal mais melódico, cortesia dos refrãos de Tony Martin e o instrumental se aproximando do estilo citado. “Jerusalem” é mais cadenciada e tinha potencial para ser o single do disco, entretanto a faixa “Feels Good to Me” que será abordada posteriormente foi a escolhida. Os riffs e o refrão são o destaque de uma faixa praticamente esquecida no repertório da banda, já que nunca foi executada ao vivo. Em 1992, Tony Martin gravou em seu primeiro álbum solo “Back Where I Belong” uma nova versão para Jerusalem, com maior destaque para os teclados de Geoff Nicholls, que conta ainda com uma introdução que não aparece em TYR, chamada “The Road to Galilee”.

Neil Murray (baixo), Tony Martin (vocais), Tony Iommi (guitarra) e Cozy Powell (bateria)

A seguir, mais um ponto alto do álbum com a faixa “The Sabbath Stones”, que volta ao estilo épico de “Anno Mundi (The Vision)”. Riffs bem arrastados em seu início, Tony Martin cantando a plenos pulmões e a bateria de Cozy Powell mais parecendo com um trovão levam “The Sabbath Stones” a outro patamar. Mas é no refrão que a música atinge seu clímax com linhas de baixo inspiradíssimas de Neil Murray, além dos vocais de muito bom gosto de Tony Martin. O final da música também possui algumas surpresas, com um coral, além de riffs rápidos e bateria inspirada de Cozy.

A tríade “The Battle of TYR/Odin’s Court/Valhalla” também se destaca, começando com a instrumental “The Battle of TYR” guiada pelos efeitos de muito bom gosto que Geoff Nicholls criou, caindo em um belo violão, cortesia de Tony Iommi, além de vocais cheios de feeling, sendo um dos pontos altos da participação de Martin nos vocais em TYR. Após a calmaria de “Odin’s Court”, vem a tempestade em forma de música, com a terceira e última parte, chamada “Valhalla”, que mostra o Black Sabbath ensinando as vindouras bandas como se faz o chamado Viking Metal. A parte conceitual envolvendo a mitologia nórdica se encerra na sétima faixa (no disco, a tríade é dividida nas faixas 5,6 e 7) do álbum.

O single “Feels Good to Me” vem em seguida e muda totalmente o direcionamento do álbum, com uma balada comercial e que virou clipe. Tony Martin disse à imprensa algumas vezes que esta faixa foi uma imposição da gravadora, na tentativa de emplacar um hit single. Nem precisamos dizer que essa tentativa foi um fracasso, mas que não tira os méritos dessa faixa, com destaque para o solo de Mr. Iommi e os trabalhos de teclado de Geoff Nicholls. Como curiosidade, tanto “Feels Good to Me” quanto “Odin’s Court” foram tocadas apenas uma vez ao vivo, no dia 01/09/1990, primeira data da TYR Tour, em Wolverhampton (Reino Unido).

O disco se encerra de forma galopante com “Heaven in Black” e sua intro pra lá de inspirada, cortesia de Cozy Powell. Tony Martin teve a inspiração para escrever as letras de “Heaven in Black” após sua visita à Rússia, mais precisamente à Praça Vermelha em Moscou, durante a turnê russa de 1989.

TYR é um disco que marca o fim da primeira “Tony Martin ERA” no Black Sabbath, que teve início em 1987. É um disco sub valorizado, já que a maioria dos fãs dessa fase da banda preferem principalmente os discos Headless Cross e Cross Purposes. Mas não podemos esquecer de um disco que produziu grandes músicas como “Ano Mundi (The Vision)”, “Lawmaker”, “The Sabbath Stones” e a tríade “The Battle of TYR/Odin’s Court/Valhalla”. E vale como dica final aos leitores conferirem os bootlegs dessa turnê. Tony Martin estava em plena forma e os set lists eram bem variados, com músicas como “Heart Like a Wheel”, “The Sign of the Southern Cross” e “The Shining” na maioria dos repertórios de 1990.

Contra-capa

Tracklist

  1. Anno Mundi
  2. The Law Maker
  3. Jerusalem
  4. The Sabbath Stones
  5. The Battle of Tyr
  6. Odin’s Court
  7. Valhalla
  8. Feels Good to Me
  9. Heaven in Black
Tony Iommi (guitarra), Cozy Powell (bateria), Tony Martin (vocais) e Neil Murray (baixo)

20 comentários sobre “Black Sabbath – TYR [1990]

  1. Joguem as pedras, mas acho esse o melhor disco da fase Martin. Lembro o quanto me amedontravam e diziam que esse era o pior disco da história, pura balela. Lado A impecável e Lado B quase perfeito, se não fosse “Feels Good To Me”. Baita lembrança!

    1. Não jogarei pedras, mas na verdade vou é concordar que o disco é incrível…pra mim está empatado com o Headless Cross (não consigo decidir qual é melhor). Valeu, Mairon!

    2. Não entenderia o ódio por uma decisão igual a essa. Escolher entre uns disco pombo dessa fase é tipo escolher entre 6 e meia dúzia.

  2. Ouvi o disco novamente depois de um tempo por causa da resenha, e mantenho a mesma opinião que tive quando comprei o LP em 1990: ótimo! Jerusalem e a trilogia Tyr são fantásticas! Legal recuperar os discos da fase Martin da banda, parabéns.

    1. Que bom que essa resenha fez você pegar o disco e escutá-lo novamente! E Jerusalem é um puta som realmente, pouquíssimo lembrado!

  3. Ótima resenha, e pra mim não é só o melhor da fase Martin como está no Top 5 do Sabbath. E Feels Good To Me é uma das minhas músicas favoritas da banda. Pra quem gosta das baladas do Whitesnake e do Gary Moore não tem erro.

    1. Na minha opinião, Feels Good to Me deveria ter sido mais executada durante a turnê do TYR, já que foi escolhida como single e clipe. É uma balada sensacional…

  4. Nnca curti muito a fase Tony Martin do Sabbath, mas aqui e ali sempre pincei boas músicas em seus discos. Neste, gosto de Anno Mundi e Sabbath Stones, e a trilogia é legalzinha também, mas ainda acho um disco fraco demais para levar o “sagrado” nome do Sabbath na capa (penso o mesmo dos demais discos da era Martin e também do Seventh Star, este nunca pensado para ser um disco da banda, e sim um solo do Iommi).

    Mas a resenha, para o meu gosto, ficou melhor que o disco! Parabéns, Thiago!

  5. Esse disco pode não ser o melhor da fase Tony Martin, porém considero Valhalla uma obra-prima. A melodia da música é mágica!

  6. Seria legal se o Tony Martin fizesse alguns shows com o mestre Tony Iommi, tocando apenas músicas dessa fase dele nos vocais. Martin foi o vocalista mais injustiçado da banda, e ele sempre teve muito carisma.

  7. Eu acho que o grande problema desse disco é que ele acaba. 30 e poucos minutos de música é muito pouco! Discaço!

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