Discografias Comentadas: Aerosmith – Parte 2

Discografias Comentadas: Aerosmith – Parte 2
Brad Whitford, Joey Kramer, Steven Tyler, Tom Hamilton e Joe Perry

Por Mairon Machado

Continuamos com a Discografia Comentada do Aerosmith, agora abrangendo de Done With Mirrors (1985) até Music from Another Dimension! (2012). É o período no qual o Aerosmith retorna com sua formação clássica, tendo Steven Tyler (vocais, piano, harmônica), Joe Perry (guitarra, vocais), Brad Whitford (guitarra, vocais), Tom Hamilton (baixo) e Joey Kramer (bateria). O mais marcante, é que aqui o grupo retorna ao auge, conquistando toda uma nova geração de fãs, e principalmente, consegue livrar-se das drogas e bate recorde de vendas em todo o mundo, além de fazer parte da trilha sonora do filme Armageddon (1995), o que ajudou ainda mais a colocar o Aerosmith no status de um dos maiores nomes do rock da história.

O início desse retorno se dá com a Back in the Saddle Tour, a qual foi registrada no álbum Classics Live! II (1987).


Done With Mirrors [1985]

O primeiro disco dos americanos pela Geffen Records é o que considero o mais fraco. Done With Mirrors começa muito bem, com a ótima “Let the Music Do the Talking”, uma regravação de uma canção do primeiro álbum solo de Perry, com nova letra e melodia, onde o slide guitar de Perry lembra “In My Time of Dying’ (Led Zeppelin), e tem em “Gypsy Boots” a sua melhor faixa, pegada, lembrando os bons tempos dos anos 70. Mas depois, desliza enntre canções apáticas e de pouca inspiração (“Shame on You” e “Shela”), e faixas animadas que relembram bem os anos 70 (“She’s on Fire”, com um ótimo trabalho de slide ao violão, e “The Hop”, trazendo a harmônica de Tyler). No meio disso, “The Reason a Dog” está na lista de piores canções que o grupo fez, e se quer chega a ser percebida pelo ouvinte. Ainda escapa-se, com poucas sobras, o duelo vocal de Perry e Tyler em “My Fist Your Face”. A capa original do LP é a que está nesse post, mas no Brasil, foi lançada invertida, com o nome aparecendo de forma “correta”. Além disso, o LP brasileiro incluiu “Darkness”, ótima faixa com um grande trabalho de piano por Tyler, e que lá fora, só saiu no CD e k7. Perry, Kramer e Whitford já traçaram alguns comentários ácidos para Done With Mirrors, muito em virtude do som cru que foi registrado por Ted Templeman, em uma tentativa de capturar a banda “sem frescuras de estúdio”. Mas, há um grande grupo de fãs que o veneram, dos quais não faço parte, e que conquistou apenas ouro nos Estados Unidos.

Porém, voltam aos palcos, e recebem um inusitado convite para gravar “Walk this Way” junto ao grupo de rap Run-DMC. O single com a nova versão, lançado em 1986, alcançou a 4 posição em vendas na América, e foi o  prenúncio de uma nova era para a banda. Ainda em 86, é lançado Classic Live!, com canções registradas ao vivo entre 1978 e 1984, algumas delas tendo a presença de Jim Crespo e Rick Dufay, além da inédita “Major Barbra”, a qual ficou de fora de Get Your Wings. Uma raridade para os fãs hoje em dia.

Tyler e Perry com a galera do Run-DMC

Permanent Vacation [1987]

Com o sucesso de vendas de “Walk this Way”, e finalmente livre das drogas, Tyler e cia. conseguem juntar forças para adquirir inspiração, e criar um álbum emblemático. É com Permanent Vacation que o grupo começa novamente sua caminhada para o topo das maiores bandas de todos os tempos. Foram cinco milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos (platina quíntupla), e um marco para o retorno definitivo dos americanos. Além do inédito auxílio de compositores externos (Desmond Child, Jim Vallance e Holly Knight), aqui também marca o início da parceria com a produção do aclamado Bruce Fairbairn (Bon Jovi, INXS, Poison, Van Halen, …), que durou três álbuns. Até por isso, é possível perceber uma modernizada no som do grupo, vide “Magic Touch” e “Girl Keeps Coming Apart” (apresentando um naipe de metais citado na sequência), que afastou os fãs mais antigos, mas conquistou toda uma nova geração de fãs. “St. John” é uma espécie de jazz, com clima de filme dos anos 40, e é a única canção composta exclusivamente por Tyler nesse disco. Por falar em filme, a instrumental “The Movie” é uma viagem de filme sci-fi bem diferente do que estamos acostumados a ouvir nos discos do quinteto. “Girl Keeps Coming Apart” foi a única composta apenas por Tyler e Perry, que aliás, está em ótima forma, como demonstram os solos de “Heart’s Done Time” e da faixa-título, cuja letra é engraçada pacas, e contando com a percussão de aço de Morgan Rael. Os grandes clássicos do álbum foram três. O principal é “Rag Doll“, um boogie sacolejante embalado pelo slide de Perry e o naipe de metais formado por Tom Keenlyside (clarinete e saxofone tenor), Ian Putz (saxofone barítono) e Bob Rogers (trombone), além da presença do órgão de Jim Vallance. O naipe também participa de outro grande clássico, “Dude (Looks Like a Lady)“, com seu refrão hiper-grudento.  O terceiro clássico é a baladaça “Angel“, com Tyler ao piano e a presença essencial do mellotron de Drew Arnott emulando cordas, e um refrão para acender os celulares (antigamente, os isqueiros) nas arenas. Ambas aproveitaram a modernidade da MTV, e ganharam clipes que rodaram direto na telinha.Curto bastante faixas que ficaram esquecidas devido a esses grandes clássicos, as quais são a veloz “Simoriah”, novamente com o órgão de Vallance, e o blues de “Hangman Jury”, com uma ótima apresentação da harmônica de Tyler. Ainda há o cover para “I’m Down” (The Beatles), na mesma linha do original. Fácil fácil Top 3 dessa segunda parte da discografia do Aerosmith.

Em 1988 chega ao mercado a coletânea Gems, e o grupo saiu em uma gigantesca turnê ao lado do Guns N’ Roses, preparando material para o seu maior sucesso nos anos 80.


Pump [1989]

Sete milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos, e um dos grandes discos dos anos 80, assim resume-se Pump. Quem viveu o início dos anos 90 pegou a febre que esse álbum causou nas rádios e na TV. O clipe de “Janie’s Got a Gun“, contando a polêmica história da garota que sofreu abusos sexuais do pai, foi um sucesso na MTV. Foi ranqueado entre os 100 melhores clipes de todos os tempos pela Rolling Stone, ganhou o prêmio de melhor vídeo do ano e ajudou muitas meninas e mulheres a terem mais uma arma para se defender nesse assunto que tristemente ainda existe. A música é mais um clássico da carreira da banda, e honestamente, é foda pra caralho, seja pelas orquestrações de Fairbairn, pelos solos de Perry ou pela interpretação sensacional de Tyler. Mas não é o único sucesso, pois “Love in an Elevator“, a letra que Gene Simmons afirmou que gostaria de ter escrito, também ganhou um ótimo clipe, repleto de mulheres lindas, e arregaçou gargantas com os “oohh-ohh yeah” e o naipe de metais dos The Margarita Horns, formado por Bruce Fairbairn, Henry Christian, Ian Putz e Tom Keenlyside. Outro sonzaço, que ainda tem como novidade Hamilton nos backing vocals, junto de Bob Dowd. Mais um grande sucesso foi a baladaça “What It Takes“, Esses clipes foram lançados em um VHS chamado Things That Go Pump in the Night, que tornou-se platina nos EUA, com mais de 100 mil cópias vendidas. Os caras estavam inspiradíssimos, e trouxeram para os fãs petardos fulminantes em “Young Lust”, “Monkey On My Back” – mais um show particular de Perry ao slide -, “Voodoo Medicine Man” e “My Girl”. Ainda há aquelas faixas que são típicas do Aerosmith nessa nova fase, investindo em riffs fortes e refrãos grudentos, no caso “F. I. N. E.”,  “Don’t Get Mad, Get Even” e a sensacional “The Other Side”, outra com a participação do naipe de metais, e com uma maluca introdução apenas com violões, percussão e voz, chamada “Dulcimer Stomp”, que traz inspirações indígenas e não há nada igual nos discos do grupo. Aliás, foi ideia de Fairbairn as vinhetas de introdução de algumas faixas (“Goin Down” em “Love In An Elevator”, “Water Song” em “Janie’s Got a Gun” e “Hoodoo” em “Voodoo Medicine Man”), para trazer uma ideia de continuidade ao disco. O sucesso foi tão grande que um documentário chamado Making of Pump foi lançado em VHS no ano seguinte.

Em 1992, no auge do sucesso, com os atores de Wayne’s World

O grupo estava no auge. Uma turnê de 12 meses percorreu o mundo a partir de então. Viram atração no programa Wayne’s World em 21 de fevereiro de 1990, levando o programa ao cume dos programas mais assistidos na América naquela noite, e gravam o Unplugged para a MTV em agosto de 90, praticamente estreando o formato no canal, e destacando a ótima versão para “Love Me Two Times” (The Doors). No ano seguinte, estão no seriado The Simpsons (1991) e no filme de Wayne’s World (Quanto Mais Idiota Melhor) em 1992. Nesse meio tempo, sai o box Pandora’s Box, que cobre a discografia da banda desde suas origens como The Strangeurs e Chain Reaction, até Rock in a Hard Place. O Box tem diversas raridades dentre faixas inéditas, versões ao vivo, entre outros, lançado em 1991. Ainda houve uma remixagem e um clipe para “Sweet Emotion”, bem como uma regravação e clipe para “Dream On“, essa feita especialmente para os dez anos da MTV, contando com uma linda orquestração de Michael Kamen. Como diz o famoso narrador: “Que fase!”, mas aqui, no melhor dos sentidos.


Get a Grip [1993]

O último disco com a mão de Fairbairn também conquistou marcas consideráveis em vendas, além de ter sido o álbum que trouxe o grupo pela primeira vez ao Brasil, em uma apresentação inesquecível no Hollywood Rock de 1994. Em uma época onde tudo era liberado, o traseiro da lindona Liv Tyler, e da super lindona Alicia Silverstone (a e “the Aerosmith chick“), apareciam com força nas telinhas da MTV, através do clipe de “Crazy“, que alucinou muito marmanjo na época, e conquistou a 24a posição na lista de melhores vídeos de todos os tempos pela VH1. Já no clipe de “Cryin’‘”, é o umbiguinho maravilhoso de Alicia quem chama a atenção. Desnecessário citar muito sobre elas (falo das músicas), além de que ambas as faixas são clássicos absolutos na carreira dos americanos. Outras duas canções que brilharam no álbum foram a ótima “Livin’ on the Edge“, creio que a música que me fez tornar fã da banda, e a última balada do disco a contar com Alicia no clipe, “Amazing“, a qual confesso não sou tão fã, e é uma parceria com o ex-guitarrista Richard Supa. “Crazy” e “Amazing” ganharam bastante com a adição orquestral de David Campbell, e os teclados de Desmond Child e Richard Supa, respectivamente. A última ainda tem a participação de Don Henley nos backing vocals. Perry volta a cantar uma canção em um disco do Aerosmith, a boa “Walk On Down”. Aquelas canções puramente Aerosmith, cheias de groove e com Perry debulhando na guitarra, obviamente estão presentes através de “Flesh”, “Get a Grip”, “Gotta Love It” e “Line Up”, essa com os backing vocals de Lenny Kravitz. Gosto da agressividade de “Can’t Stop Messin'” e “Eat the Rich”, a última trazendo  os tambores de fenda de Melvin Liufau, Wesey Mamea, Liainaiala Tagaloa, Mapuhi T. Tekurio e Aladd Alationa Teofilo, do ritmo pegado de “Fever”, com um belo solo de harmônica por Tyler, e de “Shut Up And Dance”, ótima faixa para sair pulando pela casa enquanto gritamos o seu nome, e com um baixo poderoso de Hamilton. Ainda temos a vinheta de introdução “Intro” e a pequena instrumental “Boogie Man”. A participação dos metais ficaram a cargo de Paul Baron e Bruce Fairbairn (trompetes), Tom Keenlyside (saxofone), Ian Putz (saxofone barítono) e Bob Rogers  (trombone) e John Webster fez os teclados. Eleito pela Consultoria um dos 10 melhores discos de 1993, foram 7 milhões vendidos nos EUA, e mais de 20 milhões ao redor do mundo, um marco até hoje não superado pelo grupo.

Mantendo a saga de auto-promoção, gravam “Deuces Are Wild” para o álbum The Beavis and Butt-head Experience, aparecem nos jogos Revolution X e Quest for Fame, tocam na versão de 1994 do Woodstock, e abrem seu próprio clube, o The Mama Kin Music Hall, em Boston. O sucesso com os álbuns da Geffen é compilado em Big Ones (1994), que traz como novidade duas canções inéditas, “Blind Man” e “Walk on Water”. 94 também foi o ano de lançamento do incrível Box of Fire, aqui resenhado pelo amigo Pablo Ribeiro. Aos completistas, em 95 saiu a coletânea Pandora’s Toys, trazendo o melhor da Pandora’s Box. A versão limitada foi feita em uma caixa de madeira que traz como extra o documentário “Story of Aerosmith”, narrado por Chris Barrie e lançada em somente 10 mil cópias.


Nine Lives [1997]

Com um contrato milionário, o grupo volta a Columbia e passa por um período turbulento, com várias trocas por trás dos bastidores, e com Kramer sofrendo de depressão, chegando a ser substituído temporariamente por Steve Ferrone. Nesse turbilhão de problemas, registram Nine Lives, tendo a produção de Kevin Shirley. O disco começa lá em cima, com a sensacional faixa-título, e possui momentos magníficos, como as pancadas “Crash” e “Something’s Gotta Give”,  o hardzão animalesco tendo a harmônica em destaque, e a pesada “Attitude Adjustment”. A ótima “Taste Of India”, utilizando o instrumento  sarangi, a cargo de Ramesh Mishra, e cordas misturados a muito peso, é fácil a melhor do disco. Nine Lives é marcado por mais alguns  sucessos: “Falling in Love (Is Hard On The Knees)“, embalada pelos metais arranjados por Tyler junto a David Campbell (músicos não citados); o rock grudento de “Pink“, outra composição ao lado de Supa; a balada “Hole In My Soul“, com um interessante arranjo de cordas por Elliot Scheiner. O álbum peca em ser um pouco longo, algo que era praticamente uma exigência da mídia CD na época, e daí vem “The Farm” e os 8 exagerados minutos da balada “Fallen Angels” (também composta em parceria com supa, e que o final meio “Kashmir” ainda vale), e que talvez seja o maior pecado aqui, o excesso de baladas, já que além de “Fallen Angels” e “Hole in My Soul”, temos “Ain’t That A Bitch”, “Full Circle”, e “Kiss Your Past Good-Bye”,  todas muito similares entre si. Se desse uma enxugada, seria um disco melhor. Essas são as 13 faixas originais do disco. Aos completistas, há diversos formatos no mercado, com bônus diferentes. As mais notáveis são a japonesa, com as canções inéditas “Falling Off”, cantada por Perry, e “Fall Together”, e a brasileira, com os bônus “Falling Off” e “I don’t Want To Miss A Thing”. Cinco milhões em vendas no total, o que foi considerado um fracasso perante os 20 de Get a Grip. O nome é uma homenagem ao próprio grupo, que já tinha passado pelos altos e baixos, e sobrevivido como um gato (nos países de língua inglesa, o gato tem 9 vidas, e não 7 como aqui). A capa original (aqui apresentada) acabou sendo substituída por conta de manifestações da comunidade hindu, que atribuiu a imagem de Lord Krishna (com cabeça de gato e peito feminino) dançando sobre a cabeça da cobra demônio Kāliyā, muito ofensiva, e assim, virou a do gatinho que aparece aqui.  É considerado pelo site Ultimate Classic o pior disco da banda, o que acho um certo exagero, apesar de honestamente ele estar no meu Top 3 dos mais fracos do grupo.

A banda embarcou em uma turnê de dois anos, registrada no ao vivo A Little South of Sanity (1998), ganhou um Grammy por “Pink” e finalmente, em 1998, conquistou seu primeiro (e único até hoje) number 1, com “I Don’t Want to Miss a Thing“, a qual merece um parágrafo a parte. Ela foi gravada exclusivamente para o filme Armageddon (1998), com participação de Liv Tyler, assim como “What Kind of Love Are You On” e uma nova versão para “Sweet Emotion”. É uma composição de Diane Warren, e o seu single vendeu a incrível marca de 1 milhão e 200 mil cópias no Reino Unido, superando o 1 milhão de cópias do mercado americano. A marca de vendas pelo mundo superou 5 milhões, ou seja, o single vendeu o mesmo que o álbum antecessor. Por isso, a canção acabou sendo incluída na versão brasileira, apesar de que no estrangeiro, você só encontrará ela ou no single ou na trilha de Armageddon, o que faz da versão nacional (e a argentina também) um atrativo para os consumidores de fora do país.


Just Push Play [2001]

Esse é um álbum um tanto quanto experimental em comparação ao seu antecessor, e apenas com 30% de baladas. Em um total de 12 canções, “Avant Garden”, leve canção semi-acústica, “Fly Away From Here“, com o belo piano de Jim Cox e a participação de Paul Santo nos teclados, “Jaded” e “Luv Lies” são as representativas da melosidade, com “Jaded” sendo o grande sucesso do disco. Porém, é o peso de “Beyond Beautiful”, com um belo solo de Perry, e os eletrônicos que aparecem na faixa-título, canção na qual Tyler empunha também as seis cordas, e faz vocalizações em dialetos da Jamaica, que chamam a atenção. A capa dá indicativo de eletrônicos, com a versão robótica de Marilyn Monroe, e é na percussão principalmente que eles se sobressaem em algumas faixas, mais precisamente em “Drop Dead Gorgeous”, que conta com Perry nos vocais, e as programações de Paul Caruso, “Under My Skin” e “Outta Your Head”, uma faixa lunática com Tyler cantando como se fosse um rap, misturando batidas de hip hop e muita distorção. Curiosamente, essas são as músicas que mais agradam, junto de “Light Inside”, canção crua, pegada e rocker na medida certa. “Sunshine” e “Trip Hoppin'” são canções que pouco chamam atenção, a última com participação dos metais, a cargo da Tower of Horns e de Dan Higgins (clarinete e saxofone) e com bom embalo. Os arranjos de cordas de Just Push Play ficaram a cargo de David Campbell (“Beyond Beautiful”, “Fly Away From Here”, “Jaded”) e Jim Cox (“Avant Garden”, “Luv Lies”, “Sunshine” e “Under My Skin”). Perry já atestou que acha esse o pior disco do Aerosmith, muitos fãs torcem o nariz, e entre mortos e feridos, realmente é uma das últimas opções que sugiro para os que não conhecem Aerosmith adquirir.

Entram na Hall of Fame do Rock ‘n’ Roll em 2001, exatamente quando “Jaded” alcançou a primeira posição nas paradas americanas. Algumas coletâneas saíram nessa época, em especial Young Lust: The Aerosmith Anthology (2001), Classic Aerosmith (2002) e O, Yeah! Ultimate Aerosmith Hits (2002), esse último com a inédita “Girls of Summer“, mais uma para entrar na lista de baladas do grupo.


Honkin’ on Bobo [2004]

Esse é um álbum de covers das raizes bluesísticas do quinteto, acompanhado de Paul Santo (piano, piano elétrico, órgão), e trazendo onze versões muito particulares para canções do blues que marcaram época.  Há participações especiais de Tracy Bonham (vocais em “Back Back Train”, dividindo com Perry, e “Jesus Is on the Main Line”, um coral tradicional acompanhado pela steel guitar de Perry), Johnnie Johnson (piano em “Shame, Shame, Shame” e “Temperature”) e The Memphis Horns (metais em “Never Loved a Girl”). As faixas que mantiveram a linha blues foram “Back Back Train”, com a já citada dupla vocal de Perry e Bonham, “Eyesight to the Blind”, com um show de Tyler na harmônica, “Never Loved a Girl”, com Tyler ao piano e o marcante órgão de Santo, e “Temperature”, mais um espetáculo da harmônica de Tyler. “I’m Ready” e “Road Runner” são versões amenas e de pouco destaque no contexto geral. Já as versões mais legais são de “Shame, Shame, Shame”, que virou um rockzão dos bons, a pegadaça “Baby Please don’t Go”, a totalmente reinventada “You Gotta Move” e a surpreendente recriação do clássico de Peter Green no Fleetwod Mac, “Stop Messin’ Around”, cantada por Perry e com uma introdução fabulosa da harmônica e guitarra duelando. Além das covers, vale pela inédita “The Grind”, uma bela balada bluesy. No geral, é mais essencial e agradável que seus dois antecessores, e seu posterior também.

Na sequência desse disco, foi registrado no Hard Rock Joint de Las Vegas o CD e DVD ao vivo Rockin’ the Joint (2005), trazendo canções de diversas fases da banda, e é o último ao vivo da banda até o momento. O grupo volta ao Brasil para uma única apresentação no Morumbi, em 2007. Antes, Tyler passou por uma cirurgia na garganta, Hamilton saiu temporariamente para um tratamento para câncer de garganta, sendo substituído nos shows por David Hull, a coletânea Devil’s Got a New Disguise: The Very Best of Aerosmith, trazendo duas novas faixas (“Devil’s Got a New Disguise” e “Sedona Sunrise”), tudo isso em 2006. Em 2008 lançam a versão do game Guitar Hero: Aerosmith, a primeira exclusiva para uma banda.

O grupo na década atual: Whitford, Hamilton, Tyler, Perry e Kramer

Um fato interessante e lamentável foi que Tyler chegou a sair da banda no final da primeira década do século XXI. Tudo começou em agosto de 2009, quando o vocalista caiu do palco durante “Love In An Elevator” em um show em Buffalo Chip, nos EUA, com Tyler quebrando o ombro e cancelando parte dos shows do Aerosmith. Começou uma briga interna entre ele e Perry, que inclusive chegou a ter um anúncio extra-oficial de Lenny Kravitz como novo vocalista do Aerosmith, o que nunca se confirmou. Felizmente, tudo se resolveu e em 2010, ao Brasil para shows em Porto Alegre e São Paulo, na turnê Cocked, Locked, Ready to Rock Tour, que também passou pela Colômbia e Perú, onde o grupo pisou pela primeira vez. O grupo voltou ao Brasil diversas outras vezes nessa década. Veio mais uma coletânea, Tough Love: Best of the Ballads, em 2011, e finalmente, o novo álbum no ano seguinte.


Music from Another Dimension! [2012]

Somente após 8 anos, depois de muitos intempéries, o grupo conseguiu finalmente lançar seu décimo quinto álbum de estúdio, o primeiro em 11 anos. Há uma quantidade grande de participações especiais, das quais vou destacar três apenas: Julian Lennon, fazendo os backing vocals da pesada “Luv XXX”; Rick Dufay fazendo a guitarra base em “Shakey Ground”; e Johnny Deep, fazendo os backing vocals de “Freedom Fighter”. É um álbum que tenta resgatar o estilo de compor da época de Pump e Get a Grip, mas trazendo aquelas inspirações Zeppelianas dos anos 70. Claro, as baladas Aerosmithianas também estão nele, na verdade, em quase 50% do material. Elas são “Another Last Goodbye”, com Tyler ao piano e um arrepiante violino, “Can’t Stop Lovin’ You”, um dueto de Tyler com a cantora de country Carrie Underwood, “Closer”, “Tell Me” (Tyler ao mandolim), a grudentíssima “What Could Have Been Love” e a linda “We All Fall Down“, fácil uma das canções mais belas que o grupo gravou. Os rocks com inspirações setentistas estão em “Lover Alot”, lembrando um pouco o estilo de “Draw the Line”, “Oh Yeah”, “Out Go The Lights”, essa exagerando nas vocalizações femininas, e no hammond de “Something”, cantada por Perry e com Tyler na bateria. O estilo de Tyler cantar “Beautiful”, quase como um rap, remete-nos aos anos 80, sendo que nessa ele também toca guitarra. As melhores faixas são a viajante “Legendary Child“, com fortes referências ao Led, o peso de “Freedom Fighter”, outra com os vocais de Perry, e a pancada “Street Jesus”, veloz e arrebatadora. A versão em vinil vermelho transparente, acompanhado de um CD, é muito bonita, e vale a pena a aquisição para a coleção.

O grupo vem divulgando notícias de uma turnê de aposentadoria. Desde 2012, foram realizadas várias turnês, mas nada de novo foi lançado. Fica a expectativa para o que pode acontecer nos próximos meses, e a certeza de que essa é uma das discografias mais valiosas e vendidas na história da música mundial.

22 comentários sobre “Discografias Comentadas: Aerosmith – Parte 2

  1. Parabéns pela matéria Mairon. Eu sou do time dos que gostam bastante do Done with Mirrors. Mas aqui, tem certeza que na época do lançamento da coletânea Gems, o Aero abriu para o Guns? Não seria o contrário? Abraço.

  2. Como eu disse na primeira parte do DC sobre o Aerosmith, nunca fui fã da banda americana, não curto muito suas músicas e respeito os fãs que gostam do trabalho deles. Mas deixo aqui uma menção honrosa para Get a Grip (o disco daquelas músicas que viraram clipes estrelados por Alicia Silverstone e Liv Tyler), cuja capa não sei por que me faz lembrar e muito aquela capa daquele álbum do Pink Floyd lançado há 23 anos antes deste disco do Aerosmith, “O Chato Rato que Mata” do qual eu falei um bocado de vezes aqui na site de maneira negativa. Uma curiosidade: a capa ousada de Get a Grip foi ou não foi inspirada na célebre capa do disco de 1970 do PF? Uma pergunta que ainda continua sem resposta…

      1. Li a história e compreendi tudo. Mas que Get a Grip tem a ver com o Atom Heart Mother em termos de arte gráfica, posso garantir-lhe que tem sim.

        1. Desculpa amigão. mas ridículo são seus comentários repetitivos, desnecessários e sem noção. Um cara que chama o Close to the edge de “pobreza musical” (tenho quase certeza que li isso), e fala com empáfia de discos dos quais parece nem conhecer, não pode ser levado muito a sério. Não é a primeira vez que vejo vc agir dessa forma, e muito me admira que alguém do site não tenha te dado uma dura. aja paciência

  3. O Music From Another Dimension e o Just Push Play acho fraquinhos. OS demais, gosto bastante. Done With Mirrors e Nine Lives considero bons. Pump é fodido. Coloco facilmente em um Top 5 da banda. Get a Grip é fantástico. Permanent Vacation é fantastico. Liv Tyler é fantástica. Alicia Silverstone é fantástica. A Cuca da MTV era fantástica. O show deles no Hollywood Rock me marcou bastante. Fui assistir eles no Morumbi na época. Abertura do Titãs e do Poison. Steven Tyler cantando pra kct. Joe Perry loucão… Saudades desse tempo.

    1. Pô, vc viu aquele show in loco?? Acho que foi um dos melhores shows da carreira do Aerosmith (o do Rio pelo menos, mas acredito que no Morumbi, deve ter sido igualmente sensacional)

      1. Sim, assisti. O show foi animal. O Hollywood Rock rolava um fim de semana em SP e outro no RJ. Fui em 3 edições: 1994 (na noite do Aerosmith), 1995 (as três noites foram o mesmo cast – Barão Vermelho, Rita Lee, Spin Doctors e Rolling Stones. Fui na primeira noite. A noite da histórica chuva. Frejat tomando altos choques no microfone. Rita Lee não cantou aquela noite. Segundo a Folha de SP, ela teve uma overdose no camarim… Foi a primeira vez que os Stones vieram ao Brasil) e 1996 (na noite do Page/Plant com abertura do The Black Crowes). Peguei alguns shows bacanas…

  4. Percebe a abundância de baladas nesse período, o que é uma pena. No final da contas o mega sucesso de “I Don’t Wanna Miss a Thing” acho que acabou prejudicando a produção do grupo, já que desde então tentaram seguir nessa fórmula…

  5. Parabéns pela matéria, tava esperando essa parte 2.
    Infelizmente os últimos de estúdio são bem fracos, mas nada que tire a força da banda ao vivo como pude ver este ano em SP.

    1. É apenas a minha opinião (ponto de vista), amigo.
      Pois é, não tenho papas na língua mesmo…

  6. Voltando aqui só para dizer que o último disco “realmente bom” do Aerosmith foi o PUMP, por isso a minha desconsideração com o Get a Grip…

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