Joe Bonamassa – Driving Towards the Daylight [2012]

Joe Bonamassa – Driving Towards the Daylight [2012]
Por Diogo Bizotto
Uma das grandes vergonhas que tenho como ouvinte ferrenho de música é o fato de ser um parco conhecedor de um gênero essencial à formação daquilo que há mais de 50 anos é conhecido como rock ‘n’ roll. Falo do blues, intimamente ligado à gênese de meu estilo favorito, mas ainda um tanto inexplorado por este escriba. A maioria dos artistas que aprecio ligados ao gênero são, na verdade, músicos que utilizaram o blues como importante influência em seu processo de criação ou que fundiram o estilo ao rock. Exemplos não faltam: Eric Clapton, Gary Moore, Rory Gallagher, Jeff Beck, Jimi Hendrix, Joe Walsh, Paul Kossoff… Isso para ficar no mais óbvio. Nos últimos anos, outro artista da mesma estirpe tem obtido grande destaque. Nascido em 1977, época na qual todos os supracitados já haviam obtido status de estrela – Hendrix e Kossoff, inclusive, já haviam morrido –, Joe Bonamassa demonstra talento nato ao empunhar sua guitarra e utiliza com sapiência as influências dos mestres, tanto do blues, quanto da geração que já mesclou o estilo seminal ao rock.

Confesso que só parei para ouvir o trabalho de Bonamassa quando o músico uniu-se, em 2009, com o baixista e vocalista Glenn Hughes (Deep Purple, Trapeze, Black Sabbath, vários outros), o baterista Jason Bonham (filho do Led Zeppelin John Bonham) e o tecladista Derek Sherinian (Dream Theater, Kiss, Alice Cooper, Billy Idol, vários outros). Unido, o quarteto lançou três ótimos discos de estúdio em três anos – Black Country (2010), 2 (2011) e Afterglow (2012) –, além do ao vivo Live Over Europe (2012), mas parece ter chegado ao seu fim mesmo antes do último álbum ter sido oficialmente lançado. Um dos motivos especulados para o possível – ainda não confirmado na data em que escrevo – encerramento de atividades é o fato de Bonamassa ter a intenção de se dedicar mais à sua carreira como artista solo.

Como entusiasta do Black Country Communion, essa possibilidade soou bastante lamentável. Isso foi até travar conhecimento, pela primeira vez, com um disco solo do guitarrista, que também é um vocalista de competência inegável. Sendo objetivo: Driving Towards the Daylight é, para dizer o mínimo, melhor que Afterglow, mostrando um Bonamassa na ponta dos cascos, executando versões de blueseiros famosos, alguns covers que fogem à obviedade, além de excelentes canções autorais, que transformam facilmente o álbum em um dos melhores lançamentos de 2012.

Joe Bonamassa ao vivo

Equilibrando o rock e o blues de maneira a agradar até mesmo aqueles pouco habituados com o segundo, o músico criou uma obra que, considerando a alternância entre covers e músicas novas, apresenta linearidade invejável. Apesar de norte-americano do estado de Nova York, Bonamassa soa mais próximo dos europeus que adotaram o blues como importante elemento de sua obra, especialmente Gary Moore e Paul Kossoff. Não à toa, a pegada rock ainda é preponderante na maior parte do track list, e mesmo as versões de artistas seminais como Robert Johnson e Howlin’ Wolf são executadas com personalidade e recebem tratamento especial.

Além disso tudo, o artista está acompanhado, em Driving Towards the Daylight, de diversos músicos cuja capacidade não oferece dúvidas. Anton Fig, célebre por ser baterista na banda do popular programa norte-americano de televisão “Late Show With David Letterman” e por ter tocado nos álbuns Dynasty (1979) e Unmasked (1980), do Kiss, no lugar de Peter Criss, domina as baquetas com a segurança que lhe é peculiar em todas as faixas. Arlan Schierbaum, que já havia tocado em seu disco anterior, Dust Bowl (2011), retoma a parceria e comanda as teclas – hammond e piano – com habilidade. O baixo ficou a cargo de Michael Rhodes – requisitadíssimo músico de estúdio – e de Carmine Rojas, que já tocou em diversos discos de Bonamassa e fez parte da banda que acompanhou David Bowie em boa parte dos anos 80. Completando o line-up básico, sete das 11 canções contam com a participação de Brad Whitford, guitarrista do Aerosmith desde 1971, exceto no período de 1981 a 1984. Aliás, como é bom vê-lo tocando novamente em um projeto empolgante como esse, algo que os discos de sua banda deixaram de ser há um bom tempo.

Entre os covers dos grandes artesãos do blues presentes no disco, é difícil apontar uma versão melhor sucedida. Apesar de “Stones in My Passway” – original de Robert Johnson – ter mais de 60 anos, ela soa fresca e atual, assim como “Who’s Been Talking?” – de Howlin’ Wolf – cujo lançamento original data de 1962. Já “I Got All You Need”, música de Willie Dixon gravada pela cantora Koko Taylor, traz um quê de sensualidade irresistível. Partindo para uma seara menos previsível, um destaque bastante evidente é o lamento de “A Place in My Heart”, cuja composição original é de Bernie Marsden (Whitesnake, Babe Ruth, The Moody Marsden Band, vários outros), mas, nessa versão, torna a associação de Bonamassa com Gary Moore ainda mais óbvia. Rica em feeling, a execução lembra os melhores momentos em que o rocker norte-irlandês atacava de bluesman, imprimindo peso e distorção além do habitual. O rhythm ‘n’ blues de “Lonely Town Lonely Street” (Bill Withers) é outra que brilha, especialmente em seus estendidos solos de guitarra finais – com a participação de Pat Thrall –, assim como “New Coat of Paint” (Tom Waits), cuja interpretação faz esquecer a rispidez da voz de seu cantor original, mas mantém o mesmo feeling de piano bar, contudo mais sofisticada.

Parte do line-up que registrou Driving Towards the Daylight: Brad Whitford, Anton Fig, Kevin Shirley (produtor), Jimmy Barnes, Michael Rhodes, Arlan Schierbaum e Bonamassa

Entre as participações especiais, faz-se necessário citar a do rock star australiano nascido na Escócia Jimmy Barnes, que canta em “Too Much Ain’t Enough Love”, original de seu próprio catálogo. Apesar de Bonamassa ser um vocalista de talento, é inegável que muito do ótimo resultado obtido na canção provém do fato dela ser cantada pelo seu intérprete original, que, apesar dos 56 anos, ainda manda muitíssimo bem, algo que fica ainda mais evidente na versão para “Lazy” (Deep Purple) gravada durante as sessões, que pode não ter entrado em Driving Towards the Daylight, mas foi incluída no tributo Re-Machined: A Tribute to Deep Purple’s Machine Head (2012), que homenageia aquele que é tido por uma grande parcela dos fãs como o melhor álbum do grupo britânico.

Apesar dos ótimos resultados executando músicas de outros artistas, Bonamassa não o faz por ser um compositor fraco. Prova disso são as três excelentes canções originais presentes no álbum. “Dislocated Boy” é, entre elas, a mais firmemente plantada em solo blues, enquanto “Heavenly Soul” chega a lembrar a carreira-solo de seu (ex?-)companheiro de Black Country Communion Glenn Hughes. A melhor de todas, porém, é a balada que dá título ao disco. Não apenas um destaque no lançamento, “Driving Towards the Daylight” é uma das grandes músicas do ano, assim como o disco tem grande chance de ilustrar minha vindoura lista com os melhores álbuns lançados em 2012.

Após terminar a audição de Driving Towards the Daylight, a maior certeza que fica é que, não interessa se o Black Country Communion encerrar atividades ou não, motivos não faltam para a explorar a carreira de Bonamassa como artista solo. Sua capacidade como instrumentista, vocalista e compositor está mais do que comprovada em seus poucos registros que tive o prazer de ouvir, e isso já é razão mais do que suficiente para devorar sua discografia. Altamente recomendado!

Track list:

1. Dislocated Boy
2. Stones in My Passway
3. Driving Towards the Daylight
4. Who’s Been Talking
5. I Got All You Need
6. A Place in My Heart
7. Lonely Town Lonely Street
8. Heavenly Soul
9. New Coat of Paint
10. Somewhere Trouble Don’t Go
11. Too Much Ain’t Enough Love

6 comentários sobre “Joe Bonamassa – Driving Towards the Daylight [2012]

  1. Também passei a acompanhar o Joe depois do Black Country, e tenho as mesmas impressões com relação ao trabalho solo: É melhor.
    Mas, quanto ao Driving Towards the Daylight, confesso que me decepcionei um pouco. Não que seja ruim, entretanto, o anterior (Dust Bowl) achei muito superior.

  2. Acho que a maioria aqui conheceu ele depois do BCC e eu não sou diferente. Não consegui me aprofundar nos discos solo dele. Tenho o Dust Bowl e acho muito bom. Pelo que entendi ele é muito conhecido nos EUA e a carreira solo dele lá é maior que a do BCC (e o inverso acontece na Europa). Esse é o fator preponderante para ele querer se dedicar à banda dele. Assista à esse último DVD dele…é ótimo.

  3. Nathan, entendo sua opinião. Isoladamente, considerando que "Driving Towards the Daylight" é o primeiro disco solo de Joe que ouvi, achei se tratar de um ótimo disco. Porém, não duvido nem um pouco que o antecessor seja ainda melhor. Talento não lhe falta. Fernando, não apenas vou atrás desse DVD, como vou buscar conhecer todos seus álbuns solo. Mantendo o nível do mais recente, a diversão é garantida!

  4. Diogo, tenta baixar o show do Bonamassa no Rockpalast de 2005. Vc vai encontrar como 2006 tbm, pq o show foi gravado em final de 05 e lançado em 06… merma coisa mermão!
    Tem em qq torrent da vida o dvd do Rockpalast do Bonamassa, realmente muito bom. E se vc baixar o dvd ao invéz da redução avi, o som é ótimo, profundo e limpo… supergrave redondo. Melhor áudio stéreo que ele ja gravou até hj no quesito qualidade do áudio.
    Perdi a oportunidade de vê-lo no Br este ano… to esperando ele voltar.
    Não sabia do BCCommuniom. Pena, que pena!
    Vida longa ao Bonamassa!
    Vida longa ao Consultoria do Rock!
    Valeu Diogo.
    Poucosiso.

  5. Joe Bonamassa é um guitarrista diferenciado. Uma fera! Recentemente descobri um guitarrista galês muito bom, nascido um ano antes que Bonamassa: Philip Sayce. Não o conhecia, mas o pouco que já ouvi dele me causou uma boa impressão. Há um vídeo no iutube, em que ele interpreta “Out of my mind”, que é bastante enérgico. Deem uma olhada…

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