Discografias Comentadas: Sly & The Family Stone (Parte II)

Discografias Comentadas: Sly & The Family Stone (Parte II)

Por Mairon Machado

Hoje, apresentaremos a segunda parte da Discografia Comentada do grupo Sly & The Family Stone. Depois de um fim precoce por problemas internos, Sly Stone reformulou a Família de Pedra, lançando mais três álbuns sob o nome do grupo, apesar de serem nada mais do que álbuns solos do guitarrista/tecladista, até o derradeiro fim da banda em 1983, culminando com a sua prisão por tráfico de cocaína em 1987. 

Antes de voltar com a Família de Pedra, lançou seu primeiro álbum solo, que abre a Discografia Comentada de hoje.


Sly Stone – High on You [1975]

Gravado com a companhia de dois membros da primeira geração da Família de Pedra (a saber, Cynthia Robinson no trompete e Jerry Martini no saxofone) e a participação de diversos convidados, Sly grava a maioria dos instrumentos de um álbum que, se não é tão importante quanto o clássico Stand!, é muito bom de se ouvir.

O LP começa com o baixão de “I Get High On You”, e o sintetizador de Sly mostrando um ritmo mais cadenciado, mas com o mesmo poder de fogo dos grandes clássicos da primeira geração, seguido pelo delicioso embalo de “Crossword Puzzle“, no qual as linhas vocais se destacam.    E o disco é um embalo tranquilo e saboroso até o fim, passando por preciosidades como “That’s Lovin’ You”, “Who Do You Love?” e “Green Eyed Monster Girl”, todas capazes de fazer pequenos sacolejos em seu corpo.

“Organize”, escrita em parceria com Freddie Stone, mostra que dentro dos erros cometidos no final da carreira da Family Stone, ainda havia bom material elaborado, e o único deslize fica por conta de “Le Lo Li”, muito sem sal para o fantástica mistura de temperos que Sly era capaz de criar. Porém, é impossível não se emocionar com a balada “My World“, uma das melhores composições da carreira de Sly, seguida pelo funk despretensioso de “So Good to Me”, o qual poderia estar em qualquer um dos primeiros álbuns da Family Stone.

O álbum encerra com a poderosa “Greed”, fazendo de High on You um disco no mínimo sensacional e digno na Discografia de Sly Stone. “I Get High On You” (o single) vendeu tanto que manteve a chama de Sly Stone acesa, dando oportunidade de um retorno do uso da Family Stone para o álbum seguinte.

Acima: John Farey, Steve Schuster,Lady Bianca, Dwight Hogan, Sly Stone, Virginia Ayers e Joe Baker.
Abaixo: Cynthia Robinson, John Colla, Vicki Blackwell e Anthony Warren


Heard Ya Missed Me, Well I’m Back [1976]
 

Com o desejo de provar que era capaz de fazer bons álbuns e seguir carreira, Sly Stone recebe apoio da gravadora Epic, e com o apoio de Cynthia Robinson e mais nove músicos (Joe Baker – guitarra e vocais; Dwight Hogan – baixo e vocais; John Colla – saxofone e vocais; Steve Schuster – saxofone, flauta; John Farey – teclados; Virginia Ayers – vocais; Anthony Warren  bateria; Lady Bianca – vocais, clavinet; e Vicki Blackwell – violino), lança o primeiro disco da Segunda Geração da Família de Pedra.

A de se reclamar, assim como todos os álbuns da Segunda Geração, é a curta duração desse maravilhoso álbum. Alegre e muito bem gravado, amplia as linhas dançantes de High On You, apresentando novidades como  a flauta em “Heard Ya Missed Me, Well I’m Back“. Gosto muito do arranjo vocal desse álbum, principalmente das leves, mas harmoniosas, “Everything in You”, “The Thing” e “Blessing In Disguise“. Esses mesmos vocais, e o ritmo alucinante, são o ponto alto de “Sexy Situation”, resgatando a época das canções positivas de Stand!.

O baixão característico do grupo está presente em “What Was I Thinking In My Head” e “Let’s Be Together”. Bianca faz a voz principal na bela balada gospel “Nothing Less Than Happiness” e em “Mother is a Hippie”, essa com um fantástico arranjo de metais e cordas. O álbum encerra com o vocoder ressurgindo das cinzas na ótima “Family Again”, recheada de solos individuais, sendo um atestado de que a nova geração da Família de Pedra, além de ser maior, também era capaz de fazer grandes discos. 


Back on the Right Track [1979]

Pouco depois do lançamento de Ten Years Too Soon, uma coletânea de remixes do grupo em versão disco, Back on the Right Track é o primeiro disco pela Warner Records, e não teve o mesmo êxito musical de Heard Ya Missed Me, Well I’m Back, mas mesmo assim, também é recomendável.

A Família agora aumenta para dezenove membros, e agora, com Sly, Cynthia e Pat Rizzo da Primeira Geração. O som é voltado para o lado leve das canções que a Segunda Geração elaborou em seu primeiro disco, sem arranjos fabulosos, mas privilegiando os vocais sensuais de Sly.

Assim o é em “Remember Who You Are” e na  gospel “Shine It On”. Segure-se na cadeira durante o embalo de “Who’s to say”, energética em cada segundo, e o grudento refrão entoando o nome da canção após as vocalizações de Sly. O vocoder aparece timidamente em “It Takes All Kinds” e triunfante em “The Same Thing (Makes You Laugh, Makes You Cry)”, fazendo o solo da canção, e o baixão inconfundível está presente nestas e, principalmente, em “If It’s No Addin’ Up …”. Aliás, o que é a linha de baixo da faixa-título? Indescritível! Como se não bastasse, Sly comanda a harmônica em “Sheer Energy”, grandiosa canção com um grandioso arranjo vocal, encerrando um álbum ótimo, simples e direto, de uma Segunda Geração que é outra banda em comparação a Primeira Geração, e infelizmente, muito curto. 


Ain’t But the One Way [1983]
 

O começo de uma parceria inacabada entre Sly Stone e George Clinton (que havia começado no álbum The Electric Spanking of War Babies, de 1981), Ain’t But the One Way acabou sendo o trágico fim da Sly & The Family Stone, concluído pelo produtor Stewart Levine após Clinton deixar a Warner Bros. e Stone partir para um refúgio de recuperação das drogas.

O resultado foi um disco eletrônico e sem muita empolgação. A guitarra de Sly está sofrega, e as vocalizações soam maçantes até para o mais fanático admirador do grupo. As canções acabam soando praticamente iguais, em um ritmo leve e de poucos destaques, e aqui entram “One Way”, “L. O. V. I. N. U.”, “High, Y’All” e “Ha Ha, Hee Hee”. Nem a cover para “You Really Got Me” consegue agradar.

A vinheta “Sylvester” poderia ser uma bela canção, mas foi relegada a apenas quarenta e quatro segundos de duração.Os momentos de exceção positiva são “Hobo Ken”, graças a levada do hammond, o reaparecimento da harmônica e o wah-wah vocalizante, e “We Can Do It”, na qual os metais dão show. O ritmo dançante de “Who in the Funk Do You Think You Are” é interessante, mas a guitarra e a bateria eletrônica não combinaram. Despedida triste de uma grande banda. Ain’t But the One Way e Back on the Right Track foram posteriormente lançados juntos na coletânea Who in the Funk Do You Think You Are: The Warner Bros. Records, de 2001. 


Sly Stone: I’m Back! Family & Friends [2011]

Depois de sair da prisão, Sly passou um tempo fora da música, até que começou a fazer shows e, em 2011, assinou com a gravadora Cleopatra, lançando então seu segundo álbum solo.

Com a participação de diversos convidados especiais “I’m Back! Family & Friends se torna um álbum frustrante em vários quesitos, mas entre os principais, a recriação nada inspirada para clássicos da primeira geração da Família de Pedra e, pior ainda, remixes totalmente desnecessários para esses mesmos clássicos, como atestam as terríveis versões para “Family Affair (dubstep remixe)“, “Thank You (Fallentime Be Mice Elf Agin) (Electro Club Mix)”, “Dance to the Music (Club Mix)” e “Dance to the Music (Extended Mix)”, sendo as três primeiras, bônus na versão em CD.

Porém, temos alguns momentos saciáveis nas inéditas “Plain Jane“, “Get Away” e “His Eyes is on the Sparrow”. Johnny Winter da as caras na simples “Thank You (Fallentime Be Mice Elf Agin)”, assim como temos uma sem sal “Hot Fun in the Summertime”, com Bootsy Collins e Ann Wilson, sem dizer muito a que veio, em “Everyday People”. Carmine Appice em “Stand!”, Ray Manzarek em “Dance to the Music”, e Jeff Beck em “I Want to Take Your Higher“, são as poucas participações que tornam as versões atuais no mesmo nível da versão original. Pouco para alguém como Sly Stone, e facilmente esquecível. 

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