Maravilhas do Mundo Prog: Quicksilver Messenger Service – Edward (The Mad Shirt Grinder) [1969]

Maravilhas do Mundo Prog: Quicksilver Messenger Service – Edward (The Mad Shirt Grinder) [1969]

Por Mairon Machado

Quando falamos da cena psicodélica californiana, muitos grupos são lembrados pelas longas viagens experimentais de suas canções. The Doors (“The End” e “When the Music’s Over”), Jefferson Airplane (“Wooden Ships” e “The War is Over”), It’s a Beautiful Day (“White Bird” e “Bombay Calling”), Moby Grape (“Chinese Song”) são alguns exemplos de como a psicodelia californiana possuia temas viajantes, que para alguns inclusive pode significar uma aproximação ao rock progressivo. Nenhuma das bandas citadas fez algo na linha do rock progressivo, apesar de soarem próximos, mas um grande grupo de San Francisco flertou direto com o progressivo, e acabou lançando uma Maravilha prog justamente quando teve um britânico entrando para sua formação.
Estou falando do Quicksilver Messenger Service. Formado em 1965, o grupo contou com alguns dos principais nomes da cena californiana, como o vocalista Dino Valente e o excelente guitarrista John Cipollina, esse último, um dos responsáveis por caracterizar o chamado Som da Califórnia.
Quicksilver Messenger Service: Gary Duncan, John Cipollina, Greg Ellmore e David Freiberg
No álbum de estreia do grupo, Quicksilver Messenger Service (1968), eles já haviam flertado como progressivo durante a longa “The Fool”, doze minutos de solos alucinantes de guitarra. O grupo era apenas um quarteto, com Cipollina, Gary Duncan (guitarra, vocais), David Freiberg (baixo, vocais) e Greg Ellmore (bateria), e no ano seguinte, lançou o álbum ao vivo mais conhecido dos grupos da Califórnia, o inesquecível Happy Trails, cujo lado A é todo dedicado ao viajante boogie “Who do You Love Suite”.
Porém, Duncan saiu do grupo logo após o lançamento de Happy Trails, e graças a gravadora Capitol, surge o nome de Nicky Hopkins (teclados). Esse é o tal britânico citado no início do texto. Hopkins vinha de uma carreira consolidada como músico de estúdio, gravando pata The Who, Kinks, Jeff Beck, Rolling Stones, Beatles entre outros, e finalmente conseguia uma chance para ser um músico oficial em uma banda. Animado, não desperdiçou a oportunidade, e acabou influenciando diretamente no resultado final das canções do terceiro LP do Quicksilver Messenger Service.
Contra-capa de Shady Grove


Lançado em dezembro de 1969, Shady Grove é um disco seminal, controlado pelas maravilhosas mãos de Hopkins no piano e no órgão, o qual governa baladas (“Too Far”, “Flashing Lonesome”), boogies sessentistas (“3 or 4 Feet From Home”) canções legitimamente californianas (“Holy Moly”, “Joseph’s Coat”) e faixas que beiram o progressivo (“Shady Grove”, “Flute Song”) e country (“Word’s Can’t Say”), sempre com Hopkins destacando-se muito mais que os demais, tocando com uma gana como pouco se ouviu em discos registrados por ele.
E na faixa de encerramento de Shady Grove, não houve jeito, o namoro com o progressivo, que havia começado no primeiro álbum, ganhando força nos improvisos viajantes de “Who Do You Love Suite” e consolidado durante algumas canções do lado A de Shady Grove, finalmente virou casamento na maravilhosa “Edward (The Mad Shirt Grinder)”.
Capa interna de Shady Grove
Nossa maravilha começa com uma furiosa introdução com um dedilhado de piano, em uma velocidade incrível, trazendo bateria, piano e guitarra fazendo uma marcação em acordes menores, e então, Hopkins cria o tema principal da canção no piano, enquanto Cipollina solta fraseados na guitarra e baixo e bateria comandam o ótimo ritmo.
O tema é repetido mais uma vez, seguindo a mesma linha, e então a canção muda o ritmo, com o piano marcando em acordes pesados, tristes, e Cipollina deslizando o slide pela guitarra em notas chorosas, muito agonizantes, enquanto o andamento da bateria e do baixo é apenas uma leve marcação. O órgão cria um clima mais do que especial para as tristes notas de Cipollina, e a sequência é novamente repetida, com Hopkins delirando no piano, enquanto Cipollina solta as tristes notas em sua guitarra.
Uma breve ponte e somos levados por um ritmo embalado, que nos remete ao tema inicial, e então, voltamos para o ritmo embalado, agora com uma ótima sessão percussiva, no qual sobre sequências de acordes menores, Hopkins destrói com o órgão em acordes longos, notas velozes intercaladas com agressivas batidas no piano. A levada nessa reta final da canção é simplesmente de tirar o fôlego, tamanha a velocidade e “pressão” que ela adquire, em um crescendo sensacional, com Hopkins se virando em mil para comandar piano e órgão, e a percussão rolando solta ao fundo, encerrando a canção com uma rápida sequência de notas do órgão, além de rufadas na bateria. 

Quicksilver Messenger Service, já sem Hopkins



Foi nesse período, ao lado do Quicksilver Messenger Service, que Hopkins prestou seus serviços para o Jefferson Airplane, gravando o excepcional Volunteers (1969), talvez o melhor álbum de Grace Slick e cia. Com o Quicksilver Messenger Service, ele ainda gravou Just for Love (1970), álbum que marcou a estreia de Dino Valenti nos vocais do grupo, e What About Me (1970), ambos excelentes discos que consolidaram o som da banda para a posteridade, gravando o nome do grupo como um dos mais influentes da geração flower-power, mas infelizmente, problemas internos fizeram com que o grupo acaba-se naufragando.

Os dois últimos LPs do Quicksilver Messenger Service, Quicksilver (1971) e Comin’ Thru (1972) servem apenas para completistas, e com formações muito diferentes da formação clássica do grupo. Vários foram os retornos, mas nenhum com grande sucesso.

 

Nicky Hopkins



Já Hopkins retornou para a Inglaterra, onde peregrinou como músico de estúdio e em carreira solo, inclusive regravando “Edward” no seu álbum The Tin Man Was a Dreamer, vindo a falecer em 1994, vítima de complicações por uma cirurgia no intestino, mas deixando um legado de clássicos e mais clássicos em  uma carreira brilhante. Um dos maiores músicos que o rock propiciou, que peregrinou por todos os estilos, e deixou apenas uma única, mas linda e irreparável, Maravilha prog.

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