Review Exclusivo: Los Hermanos (Porto Alegre, 12 de maio de 2012)

Review Exclusivo: Los Hermanos (Porto Alegre, 12 de maio de 2012)



Por Micael Machado

Em 2007, o grupo Los Hermanos, na época um dos maiores nomes da música nacional, anunciou um “recesso por tempo indeterminado” em suas atividades. Seus integrantes (Marcelo Camelo, voz, baixo e guitarra; Rodrigo Amarante, voz, baixo e guitarra; Bruno Medina, teclados; e Rodrigo Barba, bateria) se dedicaram a outras atividades depois desse comunicado (com maior destaque para Camelo, que lançou dois elogiados discos em carreira solo), e, em novembro de 2011, o grupo anunciou que faria uma turnê em comemoração aos 15 anos da banda entre abril e maio de 2012. O que eram para ser oito shows especiais logo viraram vinte e quatro, um deles na véspera do Dia das Mães, realizado na capital gaúcha, no excelente palco do Pepsi on Stage.
O tempo de parada parece ter feito bem ao enorme culto dos fãs ao grupo. Se, enquanto na ativa, seus shows em Porto Alegre nunca ultrapassaram as duas mil pessoas que o Bar Opinião comporta (outro destacado local de espetáculos da cidade), dessa vez os 7 mil ingressos disponibilizados no Pepsi foram vendidos em poucas horas, forçando a marcação de um show extra para o dia seguinte. Com isso, o local esteve lotado como nunca havia visto, e olha que por ali já passaram nomes de grande repercussão internacional, como Alice Cooper, Dream Theater, Faith No More, The Cult, ZZ Top, Bob Dylan e o pseudo-The Doors de Ray Manzarek e Robbie Krieger. Por outro lado, o público dos shows antigos parecia mais identificado com a banda, cantando com empolgação todas as letras de todas as músicas (em algo comparável somente aos momentos de devoção que a Legião Urbana suscitava em seus fãs). Já grande parte dos presentes ao espetáculo de sábado pareciam estar lá mais pela fama que o grupo já conquistou e pelo “hype” do acontecimento do que pela devoção à banda, e, embora cantassem a plenos pulmões os temas mais destacados, ficava silenciosa naquelas canções mais obscuras do repertório “hermano”, no qual os fãs das antigas (e eram muitos) continuavam a soltar a voz com toda a força de seus pulmões.
Momento do show
Quanto ao grupo, o tempo de inatividade (quebrado aqui e ali por shows especiais, como o realizado no primeiro festival SWU, em outubro de 2010) parece não ter sequer ocorrido. O entrosamento do quarteto em cima do palco (acrescidos de Gabriel Bubu no baixo e guitarras, além do trio de metais composto por Mauro Zacarias, Índio Costa e Bubu) era absurdo, e as músicas foram executadas perfeitamente, satisfazendo a todos os presentes.
Sem banda de abertura, o Los Hermanos iniciou o espetáculo com “O Vencedor”, pontualmente às 23h, como marcado no ingresso (e com todos cantando a letra, como ocorre no DVD Ao Vivo no Cine Íris). Os cariocas prepararam um verdadeiro “greatest hits” para o repertório desses shows, e, em quase duas horas de espetáculo, praticamente todas as músicas que se destacaram nas rádios durante o período em que o grupo esteve na ativa (e foram muitas!) marcaram presença no set list, com exceção apenas de “Primavera”, cuja ausência, verdade seja dita, não foi muito lamentada! Em compensação, outras músicas do autointitulado primeiro disco (mais focadas no hardcore, em contraposição às mais intimistas músicas dos dois últimos lançamentos) fizeram a alegria dos fãs “das antigas’, como a dobradinha “Azedume” e “Descoberta“, no meio do show, e a sequência final com “Tenha Dó“, o megahit “Anna Júlia”, “Quem Sabe” e a idolatrada “Pierrot“, que soaram extremamente pesadas e violentas perto de músicas mais calmas (mas ainda assim muito belas!) como “De Onde Vem a Calma”, “Sentimental“, “Primeiro Andar”, “Casa Pré-fabricada”, “Morena” e “Conversas de Botas Batidas”, cujo trecho final foi cantado por Gabriel Bubu, “convocado” ao microfone por Marcelo Camelo, e, de resto, bastante discreto em sua participação.
Momento do show, com o telão ao fundo
Além das músicas e da performance dos instrumentistas (com Camelo, Amarante e Gabriel constantemente se alternando entre o baixo e as guitarras), chamava a atenção o enorme telão ao fundo do palco, o qual, diferente de outras apresentações a que já presenciei, focava não em planos abertos do que ocorria no palco, mas em closes gigantescos do rosto dos músicos, através de microcâmeras instaladas em seus microfones (ou no suporte da bateria e do teclado, no caso de Barba e Medina), embora por vezes consiga captar um plano mais aberto, principalmente dos músicos de apoio, ou mostre belas imagens preparadas especialmente para essas apresentações. Quando vi pela internet o mesmo telão durante a apresentação do grupo no Abril pro Rock deste ano (primeiro show dessa turnê comemorativa, realizado em 20 de abril em Recife-PE), pensei que fosse característica daquele festival especificamente. Mas, para alegria de todos, o efeito era da banda e não da data, e está se repetindo em todos os shows, trazendo imagens que dão uma visão diferenciada do grupo para aqueles que não conseguem ficar tão próximos do palco.

Desfilando pelos seus quatro discos de estúdio (com destaque maior para Ventura, de 2003), o quarteto ainda conseguiu encontrar espaço para interpretar uma música nova (a inédita “Um Milhão“, cantada por Amarante) e uma cover para “Nunca Diga”, da Graforréia Xilarmônica, espécie de heróis locais da cena portoalegrense, mas sem muito destaque fora do Rio Grande do Sul. Essa homenagem aos grupos locais das cidades por onde passam parece ser uma característica escolhida pela banda para esses shows comemorativos, visto que em Brasília já haviam homenageado a Legião Urbana com a interpretação de “Tempo Perdido” no bis, mesmo ponto da apresentação em que tocaram a música dos gaúchos.
Final do show
Aliás, citei duas vezes a Legião neste artigo não por acaso. Comentava antes do show com meu irmão, nosso colaborador Mairon Machado, que se o Los Hermanos não tivesse parado há cinco anos provavelmente estaria hoje em um patamar até mesmo acima daquele alcançado pelo trio de Brasília, devido à devoção demonstrada por seus fãs. Como já disse, não foi o que aconteceu, e o quarteto hoje parece uma banda “cult” da qual todos já ouviram falar e muitos parecem pré-dispostos a gostar (enquanto outros adoram odiar mesmo sem conhecer direito), ainda que o fanatismo de anos atrás pareça restrito àqueles que acompanharam o grupo durante o seu auge criativo. Mas, tudo bem. Tanto para uns, quanto para outros, o show de sábado foi certamente inesquecível, e a esperança de que essa volta se torne permanente persiste forte no coração de todos. Que ela sensibilize também os músicos da banda, pois, no atual momento da música brasileira (seja de que estilo for), a qualidade e a beleza das composições do Los Hermanos com certeza fazem muita falta!
Com certeza, os versos inicias de “Descoberta” (“Sai que eu já não te quero mais, sai porque eu já descobri que posso viver sem ti”) não se aplicam aqui!

Set list:

1. O Vencedor
2. Retrato prá Iaiá
3. Todo Carnaval Tem Seu Fim
4. Além do que Se Vê
5. O Vento
6. Primeiro Andar
7. Morena
8. Um Par
9. Sétimo Andar
10. Azedume
11. Descoberta
12. Sentimental
13. A Flor
14. Cara Estranho
15. Condicional
16. Deixa o Verão
17. De Onde Vem a Calma
18. A Outra
19. Um Milhão
20. Casa Pré-Fabricada
21.O Velho e o Moço
22. Conversas de Botas Batidas
23. Último Romance

Encore:

24. Nunca Diga
25. Tenha Dó
26. Anna Júlia
27. Quem Sabe
28. Pierrot

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