Os Sete Pecados do Rock Nacional – Parte VI: a vaidade (Legião Urbana – V [1991])

Os Sete Pecados do Rock Nacional – Parte VI: a vaidade (Legião Urbana – V [1991])

Por Mairon Machado

Se o Titãs não estava nem aí para o sucesso do Engenheiros do Hawaii, e tão pouco para o próprio sucesso, lançando um disco econômico culturalmente ao mesmo tempo que era ofensivo, a coisa não funcionava da mesma forma com o Legião Urbana. Em 1991, o grupo brasiliense era sem sombra de dúvidas o grupo do BRock que possuía a maior legião (com o perdão da redundância) de fãs, só que naquele ano, passou a sofrer com alguns problemas, principalmente o de um pecado sem-volta, que resultou em um grande mas injustiçado disco.Até chegar nele, precisamos fazer uma pequena retrospectiva da carreira do grupo. Surgido no meio da onda punk que tomou conta da capital nacional no início dos anos 80, ele se consolidou em cima da pessoa de Renato Manfredini Júnior, mais conhecido como Renato Russo. Renato era um jovem rebelde, extremamente inteligente, que encontrou na música uma forma de se expressar, e principalmente, se encontrar como pessoa. Entre tantos garotos inspirados pelo punk britânico de The Clash, Sex Pistols, Dead Kennedys e outros, Renato era um garoto tímido, introvertido, que curtia Pink Floyd, King Crimson, Emerson Lake & Palmer e outros nomes do rock progressivo com adoração, além de apreciar ópera e música clássica.

Isso era apenas um dos vários diferenciais da vida de Renato. Filho de um pai rico, Renato era também um dos poucos que entendia e falava inglês naturalmente, chegando inclusive a ser professor da língua, o que o tornava ao mesmo tempo um ser admirado por muitos, sendo estes os mesmos que o consideravam um nerd.

Renato Russo (à esquerda) e o Aborto Elétrico.

Quando fundou o Legião Urbana em 1982, Renato já mostrava seu gênio temperamental e de difícil convivência. Depois de alguns meses liderando o Aborto Elétrico, Renato e o baterista Fê Lemos (que viria a fundar com o irmão Flavio Lemos e o vocalista Dinho Ouro Preto, o Capital Inicial, mais um grande nome do rock brasiliense) se desentenderam em um show, tudo por que Renato acabou errando a letra de uma canção (n. r. “Veraneio Vascaína”, um dos grandes sucessos do grupo). O problema foi resolvido no braço, em pleno palco, e logo após, o projeto Aborto Elétrico foi abortado (desculpa a redundância novamente, mas essa eu não podia perder, hehe).

Nessa época, Renato passou a ter contato com a nova cena do rock americano e europeu, curtindo grupos como Talking Heads, The Cure, The Smiths e Joy Division. A miscelânea eletrônica, assim como as performances individuais de David Byrne, Robert Smith, Morrisey e principalmente Ian Curtis, influenciaram a mente de Russo, que inspirou-se no estilo “ataque epilético” de palco feito pelo vocalista do Joy Division, adaptando-o para sua personalidade, o que pode ser verificado na primeira apresentação do grupo, em 05 de setembro de 1982, tendo na formação Renato (baixo, vocais), Marcelo Bonfá (bateria), Paulo Paulista (teclados) e Eduardo Paraná (guitarras). Essa formação durou apenas esse show, com Paulo e Eduardo saindo do Legião, dando lugar para Ico Ouro-Preto (guitarras), que cedeu seu posto para Dado Villa-Lobos em março de 1983.

Renato Rocha, Davo Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá.

É em 1983 que realmente começa a peregrinação de seguidores do Legião. Em um show no Rio de Janeiro, o grupo é convidado pela gravadora EMI para gravar sua primeira demo, que ajudou a divulgar o nome do grupo fora de Brasília. No ano seguinte, a entrada do baixista Renato Rocha deu liberdade para Russo tornar-se o centro das atenções da banda, liberando-o também para ampliar o processo de composição de suas letras. Com um som basicamente voltado para o punk rock, Russo, Villa-Lobos, Bonfá e Rocha lançam seu primeiro álbum em 1985. Legião Urbana apresenta letras politizadas e fortes críticas à sociedade brasileira da época, causando um estardalhaço na geração adolescente do Brasil. Canções como “Será”, “Ainda É Cedo” e “Soldados” exalavam a rebeldia enrustida de um Renato ainda iniciante, mas promissor. A clássica “Geração Coca-Cola” acabou batizando os jovens dos anos 80, e deu o primeiro passo para o Legião Urbana se tornar um gigante. Apesar de muitos dizerem que Legião Urbana é basicamente um disco de punk rock, na verdade ele apresenta espaços para as experimentações new wave de “Soldados”, o reggae de “O Reggae”, o funk de “A Dança” e a hardeira de “Baader-Meinhof Blues”, mostrando um lado bastante eclético para um grupo do BRock.

Em 1986, o segundo álbum, Dois, fez do Legião Urbana um dos grupos de rock mais aclamados e solicitados pela imprensa nacional. Renato e Cia. passaram a aparecer em tudo que é programa de rádio e televisão, além de virar frequentemente capa das principais revistas de divulgação, tudo graças a um disco fenomenal, recheado de clássicos do calibre de “Índios”, “Tempo Perdido”, “Eduardo e Mônica”, “Quase Sem Querer” e “Daniel na Cova dos Leões”. O estilo crítico das letras de Renato continua, e agora, surge um dos primeiros indícios da homossexualidade do vocalista, exatamente na citada “Daniel na Cova dos Leões”. Considerado o mais romântico disco do Legião Urbana, este disco vendeu 1 milhão e 200 mil cópias, e logo se tornou um dos mais vendidos naquele ano (ao lado de Cabeça Dinossauro, do Titãs, com 500 mil cópias, e Rádio Pirata Ao Vivo, do R. P. M., com 2 milhões e meio de cópias).

Dois era para ter sido um álbum duplo, mas a gravadora EMI acabou rejeitando o projeto. Assim, o material que ficou de fora de Dois acabou sendo lançado no terceiro LP do grupo. Que País É Este 1978 / 1987 (1987) resgata material que havia sido composto (e interpretado) pelo Aborto Elétrico, com as canções recebendo uma adaptação aos talentos individuais de Rocha, Dado e Marcelo. Apenas três das nove canções não faziam parte do grupo antigo de Russo, as quais são “Eu Sei”, “Angra dos Reis” e “Mais do Mesmo”. O punk marcante do Aborto Elétrico está presente nas clássicas “Que País É Este” e “Química”, mas o maior sucesso do álbum ficou para a épica “Faroeste Caboclo”, a qual em seus mais de nove minutos, conta a trajetória do traficante João de Santo Cristo, uma novidade na época que agradou aos fãs, mas desagradou a mídia, a qual passou a olhar o Legião Urbana com outros olhos.

Renato e o agressor de Brasília.

A situação agravou-se ainda mais durante a turnê do álbum. Russo, achando-se o Deus Grego soberano, subia no palco fazendo performances cada vez mais estonteantes, eufóricas, com muitos discursos e muitas vezes, conturbadas. No mínimo dois incidentes dessa turnê ficaram famosos. O primeiro deles ocorreu em São Paulo, no dia 11 de junho de 1988, quando um jovem atirou uma garrafa de cerveja na cara de Renato. O outro, e mais importante, foi o que aconteceu uma semana depois em Brasília, quando durante a canção “Conexão Amazônica”, um fã pulou o cercado de proteção e tentou estrangular Renato, e pouco depois, uma bomba explodiu no palco, com o grupo deixando o local antes do previsto, e o Estádio Mané Garrincha (local do show)  super-lotado virando um cenário de guerra, com o quebra-quebra pegando geral.

A crítica caiu de pau, acusando o grupo de serem os responsáveis pela pancadaria (que terminou com 385 atendimentos no hospital da cidade), e aproveitando-se disso, para massacrar a letra ofensiva de “Faroeste Caboclo”, por trazer palavrões como “Filho da puta” e “” (na época, isso era inadmissível).

Apesar disso, e da saída de Renato Rocha, o Legião Urbana continuou sua saga, conquistando mais e mais fãs, agora como um trio, onde Russo passou a fazer as vezes de baixista e tecladista. Essa nova formação acabou dando uma mudança sutil no processo de composição de Renato. As letras políticas e amorosas acabaram dando espaço para temas religiosos, apesar de ainda existirem. O som também mudou. A sujeira e agressividade originárias do lado punk acabaram sendo dissolvidas em novos estilos, mais suaves e que para alguns, lembrava o rock progressivo. Era hora de fazer as pazes com a mídia, e também com os velhos fãs.

O trio Dado, Renato e Marcelo. 

A nova fase como trio apareceu pela primeira vez naquele que é considerado pela maioria dos fãs como o melhor disco do grupo, As Quatro Estações. Lançado em 1989, este álbum vendeu um milhão e 700 mil cópias, e colocou o Legião Urbana no topo das principais bandas de rock do país. Com a lambada e o pagode tomando conta das rádios, o grupo foi um dos poucos sobreviventes a permanecer tocando regularmente tanto na TV quanto nas rádios, graças a canções como “Há Tempos”, “Meninos e Meninas” (onde Renato finalmente revela ser bissexual), “Monte Castelo” (uma adaptação de trechos da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios da bíblia Cristã, mesclada com um soneto de Luís de Camões), “Sete Cidades” e outro grande clássico, “Pais e Filhos”. Além de “Meninos e Meninas”, Renato mostrava seu lado purpurina em mais uma canção do LP, “Maurício”.

No geral, As Quatro Estações é um apanhado de clássicos ainda mais importante do que Dois, e que quase que despercebidamente, dá indícios do que iria aparecer no quinto e pecaminoso disco do Legião Urbana, que era o flerte direto com o rock progressivo. Nele, isso pode ser conferido em pelo menos duas canções. A primeira delas é “Feedback Song for a Dying Friend”, composta em homenagem à Cazuza e Robert Mapplethorpe (fotógrafo americano), onde Villa-Lobos usa o mandolim como principal instrumento, e que possui um tempero árabe estranho e ao mesmo tempo inédito para o som do Legião; a segunda é “Eu Era Um Lobisomem Juvenil”, onde Renato é o centro das atenções mas não como vocalista, e sim como tecladista, em outra canção longa, com quase sete minutos de duração.

A partir de As Quatro Estações, o grupo passou a ter a participação de três músicos convidados, que na turnê de divulgação deste álbum foram Bruno Araújo (baixo), Fred Nascimento (guitarras) e Mú Carvalho (teclados). A turnê passou por todo o país, com shows fundamentais para consolidar ainda mais (se é que precisava) o nome Legião Urbana, destacando a apresentação no Estádio Parque Antártica, que futuramente se tornou o álbum As Quatro Estações Ao Vivo (2004).

O trio na época de V.

Renato era o centro das atenções. Tratado como Deus pelos fãs, era visto como o mais sábio dos músicos nacionais. A morte de Cazuza em 1990 ajudou ainda mais a aumentar a fama do vocalista. Sucesso é pouco para definir o trio entre 1989 e 1990. Tudo o que eles podiam conquistar no país já haviam conquistado, e a tendência era melhorar ainda mais. Bastava seguir o que estavam fazendo.

Porém, veio o álbum O Papa É Pop, e com isso, a VAIDADE de Renato Russo floresceu. Enquanto o disco do Engenheiros do Hawaii subia sem parar nos charts nacionais, a mídia passava a idolatrar Humberto Gessinger, chamando-o de “O Gênio Gaúcho”, “Inovação do Sul” e inclusive insinuando que o grupo gaúcho era o único do BRock com talento e capacidade de tocar rock progressivo (devido as longas “Anoiteceu em Porto Alegre” e “A Violência Travestida faz Seu Trottoir”).

O crescimento do Engenheiros do Hawaii ofuscou completamente o Legião Urbana. Para aumentar ainda mais a crise da imagem do grupo, o grunge surgia com força nos Estados Unidos, tendo como expoente Kurt Cobain, o jovem rebelde que fazia misérias no palco, e era idolatrado por milhares de seguidores. Renato conhecia as origens do grunge, e também era um rebelde incendiário nos palcos, mas quem se lembrava dele?

Apesar da turnê de As Quatro Estações e o próprio álbum ter sido um sucesso, de que havia adiantado fazer as pazes com todo mundo, se o mundo idolatrava o Engenheiros do Hawaii, se o Engenheiros do Hawaii tinha tocado na União Soviética, se o Engenheiros do Hawaii tinha um álbum ao vivo que nem o R. P. M., e pior, se o Engenheiros do Hawaii era considerado progressivo, logo o estilo que Renato Russo talvez fosse o maior conhecedor dentre os músicos do BRock.

Claro que não foi somente o Engenheiros do Hawaii que afetou a VAIDADE de Renato, e talvez nem tenham sido essas situações que acabaram afetando a mente do líder do Legião Urbana, mas algo estranho realmente aconteceu com ele na virada de 1990 para 1991. Os mais próximos dizem que o conturbado relacionamento do vocalista com o namorado americano Robert Scott Hickman, além do consumo de álcool e drogas como água por parte do mesmo, influenciaram na mudança de comportamento de Russo. De qualquer forma prefiro continuar com as suposições que auxiliam a desenvolver a tese do pecado da VAIDADE, não menosprezando obviamente todos os demais fatos que aconteceram e auxiliaram na conclusão do processo de composição do novo álbum.

Renato Russo: um gênio? Ou um Deus?

O certo é que de uma hora para a outra, Renato, Bonfá e Villa-Lobos deixaram de ser o centro das atenções. Mas se a mídia queria rock progressivo, o peso e a rebeldia do grunge, além de letras inteligentes, que criticassem a política nacional, quem melhor do que Renato Russo poderia dar isso para ela? Afinal, a infância ouvindo os “uin-uin” dos teclados de Keith Emerson, e o enorme acervo literário que ele conhecia, eram suficientes para produzir canções muito superiores as de Humberto. A soberba de Renato Russo era definitiva, e então, ele começou a planejar o quinto disco do grupo (acho que nessa altura, não é necessário enfatizar o poder de Renato perante Marcelo e Dado).

Porém, logo que as gravações começaram, Renato descobriu aquilo que mais temia: era portador do vírus HIV. Agora, o lado pessoal de Renato (além do profissional) estavam arrasados, e o cantor definitivamente tinha que lançar um disco que pudesse fazer sua imagem voltar à cena, glorificando o lado vaidoso do vocalista. Para isso, Renato incumbiu-se de produzir um disco dividido em duas partes: a primeira onde mostraria sua criatividade progressiva, e a segunda, a criatividade sentimental. Segundo ele, o disco “possui coisas medievais, uns instrumentais, e o lado A é uma viagem. Com certeza alguém vai dizer ‘o Legião repetiu a fórmula do sucesso e lançou um disco progressivo’”, o que atesta ainda mais a minha Tese de que Renato havia ficado chateado com a definição de progressivo para O Papa é Pop.

A capa de Lark’s Tongues in Aspic, do King Crimson. Qualquer semelhança não é mera coincidência…

Para satisfazer ainda mais o ego de Renato, o novo álbum foi o primeiro a ser gravado fora dos estúdios da EMI, sendo gravado no estúdio Mega, e com produção totalmente de Renato, Dado e Marcelo, com uma pequena participação do produtor Mayrton Bahia. Assim, surgiu o pecaminoso quinto álbum do grupo, batizado apenas de (cinco em romanos, mas que encaixa-se perfeitamente ao V de VAIDADE que defendo nessa postagem).

Lançado em novembro de 1991, aos conhecedores de rock progressivo o disco já chamava a atenção por sua capa, uma belíssima homenagem para um dos melhores discos do estilo, o clássico Lark’s Tongues in Aspic, lançado pelo King Crimson em 1973. A semelhança de ambas as capas, com o sol e a lua lado a lado, não é mera coincidência, já que Renato era assumidamente fã do grupo. Outro fator que chama bastante a atenção dos proggers era a duração das canções, principalmente no lado A, que é o que os fãs chamam de o Lado Progressivo, além do trabalho instrumental ser quase que 90% acústico e bem trabalhado, fugindo bastante da simplicidade de guitarra, baixo e bateria.

O disco abre com “Love Song (Cantiga de Amor)”, começando com a curta introdução dos sintetizadores de Russo, que empunha o violão e faz os acordes da canção, acompanhado pelo mandolim de Villa-Lobos. Russo canta em português arcaico, que é a língua original da letra dessa canção, a qual foi composta no século XIII por Nuno Fernandes Torneol, tendo apenas o mandolim e o violão ao fundo, e essa curta vinheta encerra-se com as rápidas notas do mandolim.

Foto do grupo na capa interna de V.

Dividida em quatro partes, “Metal Contra as Nuvens” surge pomposamente como a mais longa canção da carreira do Legião Urbana, e a primeira do álbum trazendo o tema política em suas letras. A nota “E” (Mi) do violão apresenta um dos dedilhados de violão mais clássicos do rock nacional, acompanhado pelo leve andamento de Bonfá na bateria e Russo no violão. Um segundo tema dedilhado surge, feito por Russo e Villa-Lobos, e então, Russo começa a declamar a longa canção-manifesto contra o governo Collor, acompanhado apenas pelo seu violão.

Russo começa detonando, dizendo que “Não é escravo de ninguém … por valor eu tenho e temo o que agora se desfaz”. Entre metáforas do cotidiano do povo brasileiro com a Era Collor, Russo fala que “esses são dias desiguais”, trazendo um novo dedilhado de Villa-Lobos, que passa a acompanhar o vocalista no que seria o refrão da canção. Violões dedilham, e Russo continua seu manifesto, encontrando “a virtude em outras mãos”, e então, o pandeiro comanda o ritmo para, enquanto o violão faz diversos arpejos, Bonfá, Villa-Lobos e Russo entoar que “minha terra é a terra que é minha e sempre será”, lembrando a fase progressiva do Mutantes, com um bonito arranjo vocal.

Então, chegamos na segunda parte. A guitarra surge detonando, em um riff pesadíssimo, e com Bonfá tentando acompanhar o peso, Russo parte para o ataque contra Collor. Entre as estrofes de Russo, com gritos rasgados e muito alucinantes, temas marcados entre baixo e guitarra. Na segunda estrofe dessa parte agitada, a bateria acelera, e a barulheira ao fundo é um hard para saudosista nenhum dos anos 70 desconfiar, com destaque para as distorções de Villa-Lobos. A terceira estrofe é parecida com a primeira musicalmente, enquanto Russo apenas grita “olha o sopro do dragão”, uma analogia à inflação que começava a tomar conta do país na época.

O segundo dedilhado do início da canção é repetido, agora acompanhado levemente pela bateria e por um segundo violão, dando início à terceira parte da mesma. Russo entra com os vocais, dizendo “é a verdade o que assombra, o descaso o que condena, a estupidez o que destrói”, e a canção ganha o ritmo da guitarra e da bateria, ao lado do violão, com Russo entoando palavras de protesto na mesma melodia que havia feito no início da letra.

Essa é a Terra de ninguém sei que devo resistir” é um dos momentos mais bonitos da letra de “Metal Contra as Nuvens”, levando ao dedilhado e a repetição do suposto refrão, agora com a guitarra fazendo o dedilhado que antes pertencera ao violão, e com Bonfá, tímido como sempre, acompanhando Dado e Renato. Por fim, as palavras complementares do melhor momento da letra, onde chegamos ao êxtase, incentivando o povo a sair as ruas e protestar, como fizeram os cara-pintadas em 1992. Renato cita: “Não me entrego sem lutar, tenho ainda coração, não aprendi a me render, que caia o inimigo então”, em uma convocação que levou posteriormente o povo para as ruas, e consequentemente, ao impeachment do então presidente Fernando Collor, e posterior renuncia em 29 de dezembro de 1992.

O dedilhado inicial do violão surge, agora feito pela guitarra, que é acompanhada pelas variações de acordes de um sintetizador, e pela bateria, enquanto o trio canta que “tudo passa, tudo passará”. Para quem viveu naquele momento do país, essa era uma das frases mais fortes que podíamos entoar, já que a grave crise do Brasil não dava esperanças de um futuro bom, mas lá no fundo, o povo tinha esperança que tudo ia passar e finalmente, o Brasil, país do futuro entoado por Russo em “1916”, do álbum As Quatro Estações, iria conseguir conquistar seu espaço.

O arranjo de sintetizadores é acompanhado pelo dedilhado inicial dos violões, chegando então na quarta e última parte, para o segundo dedilhado nos encaminhar ao belo final da canção. Russo, acompanhado apenas pelo seu violão, conta que “nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz, teremos coisas bonitas para contar … temos ainda por fazer, não olhe pra trás, …, apenas começamos”, encerrando uma magistral e épica canção, que sacudiu os fãs do Legião por sua duração e por sua complicada letra.

Depois, é a vez dos teclados de Renato comandarem a instrumental “A Ordem dos Templários”, a qual possui inserções da peça “Douce Dame Jolie”, de Guillaume de Machaut, composta no século XIV. Villa-Lobos leva o ritmo da canção ao violão, e Bonfá, novamente de forma leve, faz o andamento. Enquanto Russo sola nos teclados, o ritmo leve do violão e da bateria vão criando uma viajante e por que não, progressiva canção, em uma espécie de clima New Age da era Berlin de David Bowie com as experimentações de teclados de grupos dos anos 80 como Depeche Mode, New Order e Talking Heads.

O tema dos sintetizadores é repetido, mostrando que, apesar de não ser um virtuoso no instrumento, Russo tinha seus dotes também com as teclas, e agora na segunda parte, a guitarra passa a fazer intervenções junto a Renato, chegando no crescendo de acordes do final da canção, e tendo o vento ao fundo, os sintetizadores encerram suas notas, deixando apenas o vento levar os segundos para a canção seguinte.

Encarte com as letras do Lado A de V, e mais duas letras do Lado B.

E essa canção, assim como todo o lado A, é mais uma que possui um ritmo muito leve da bateria de Bonfá, seguindo o mesmo andamento de “Metal Contra as Nuvens” e “A Ordem dos Templários”, só que dessa vez, fazendo uma crítica ao tráfico de drogas. O nome dela, mais um épico criado por Russo, é “A Montanha Mágica”, mais uma longa exploração do suposto Lado Progressivo de V.

A canção começa com a batida nos tons de Bonfá, trazendo mais um dedilhado clássico do rock nacional, feito pelas guitarras de Villa-Lobos e Renato, que canta devagar a vida de um usuário de drogas, quase que como um blues, apesar do ritmo da bateria ser diferente. O dedilhado das guitarras mantém a cadência suave da canção, enquanto Russo continua com a letra, cantando um pouco mais solto durante um trecho que lembra um refrão. Na segunda estrofe, Renato larga a guitarra e assume o baixo, mantendo a mesma linha instrumental utilizando-se facilmente de acordes de blues, mas em um clima bem mais viajandão, trazendo microfonias na última frase da segunda estrofe, voltando para o trecho que assemelha-se a um refrão.

Terminada a segunda estrofe, a guitarra solta acordes destorcidos, enquanto efeitos de bateria-eletrônica acompanham a sujeira sonora, à La Grunge, e com Renato cantando cercado por efeitos de delay, sempre na mesma melodia vocal, e com os acordes de blues se repetindo eternamente. “Cada criança com seu próprio canivete, cada líder com seu próprio 38” é o momento mais forte da crítica contra o tráfico de drogas, cantando no ritmo do suposto refrão, e então, microfonias permeiam um longo trecho instrumental, no qual os sintetizadores de Russo voltam a se fazer presentes, para, com um longo acorde, acompanhar o violão de Villa-Lobos fazendo batidas leves até o final da canção, e podemos ouvir ondas do mar chocando-se com as areias da praia.

Capa dupla de V.

O Lado B é o lado pop e pessoal de Renato, mas ainda assim, diferente do que os fãs estavam acostumados, por trazer canções bastante melancólicas. “O Teatro dos Vampiros” abre esse lado com outro dedilhado conhecidíssimo do violão, acompanhado pelas mudanças de acorde e da bateria, para Villa-Lobos fazer o tema principal. Renato canta tristemente, sendo esta outra canção com cunho político, descendo novamente a lenha no Governo Collor, acompanhado pelos teclados, violão e bateria, em uma canção que em nada se assemelha as viagens do lado A, contando a história de pessoas que tentam buscar uma saída para ser feliz com a crise econômica do país (“nós não temos mais dinheiro, os meus amigos todos estão procurando emprego”). Os teclados são presença marcante em toda a canção, assim como os dedilhados leves de Dado, mas o que mais chama a atenção é a interpretação vocal de Renato, rasgando a voz e tentando de alguma forma mostrar que podia ser considerado o principal vocalista do país. Uma canção amena, que encerra-se com um interessante fraseado do violão e os acordes de teclados.

Depois, a agitada “Sereníssima” surge com samplers de gritos ao vivo, trazendo os violões de Renato e Dado, e com Bonfá acompanhando de forma mais agitada. A segunda canção mais rápida do álbum é uma dançante faixa, com uma longa introdução onde o tema principal é feito pelo violão, e com Renato cantando que “Sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo”. O ritmo veloz continua, e dessa vez Renato canta de forma mais debochada, lembrando bastante Cazuza. A presença de uma guitarra sem distorção na ponte central leva ao curto solo carregado de efeitos de Villa-Lobos, voltando para o tema da introdução. Mais samplers de gritos ao vivo, e Renato continua a letra bastante pessoal, falando sobre amizade e relacionamento entre pessoas, encerrando com mais samplers de gritos de público.

Mas, a felicidade de “Sereníssima” é eclipsada por uma das canções mais belas e tristes do Legião Urbana, a linda “Vento No Litoral”, outra longa canção que poderia estar facilmente no Lado Progressivo. O violão faz o tema inicial acompanhado pelos sintetizadores, tendo ao fundo o leve andamento de um violão e da bateria. Renato começa os pensamentos suicidas da canção com as frases “De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver, se o vento ainda está forte e vai, ser bom subir nas pedras, sei que faço isso para esquecer, eu deixo a onda me acertar e o vento vai levando tudo embora”. Somente esse início já serve para arrancar algumas lágrimas, mais ainda vem mais.

Os violões acompanham o ritmo da bateria, e Renato começa a lembrar de uma pessoa que o deixou, dos “planos é que tenho mais saudade” e perguntando “… aonde está você agora além de aqui dentro de mim” com mais uma emocionante interpretação vocal. Confesso que não sou apreciador do vocalista, mas em “Vento no Litoral”, são inegáveis suas qualidades como músico, compositor e intérprete. A introdução é retomada, com os sintetizadores acompanhando o violão de Villa-Lobos, e então, ganha uma cara diferente.

Com um peso sombrio, Renato canta que “agimos certo sem querer … vai ser difícil sem você por que você está comigo o tempo todo”, tendo ao fundo apenas o violão, os sintetizadores e a bateria. A interpretação vocal de Russo assume proporções dramáticas, e finalmente, o suicida inicial decide que “já que você não está aqui o que posso fazer é cuidar de mim, quero ser feliz ao menos”, e então, voltamos aos acordes iniciais, com o agora renovado personagem da canção, buscando de alguma forma, encontrar forças para continuar vivo, mas deixando o ar de mistério sobre o seu paradeiro ao dizer “olha só o que eu achei: cavalos marinhos” e repetir a frase “eu deixo a onda me acertar e o vento vai levando tudo embora”, encerrando essa belíssima canção com as tristes e melancólicas notas do piano elétrico de Russo fazendo um tema tão fúnebre que parece uma canção de despedida em um enterro. Para alguns, a citação do cavalo-marinho é apenas uma forma de Renato manifestar sua opção sexual, já que o cavalo-marinho é o animal símbolo da identificação de um homossexual do gênero masculino, por ser o macho o responsável por gerar o filho. De qualquer forma, segurar as lágrimas nessa pérola da carreira do Legião não é fácil.

As letras do Lado B de V.

Um pouco de alegria retorna em “O Mundo Anda Tão Complicado”, mais uma animada canção na linha de “O Teatro dos Vampiros”, de novo com os violões e os sintetizadores sendo acompanhados pela dançante levada de Bonfá. Renato canta a canção que trata sobre o relacionamento de um casal, e o que mais chama a atenção é a predominância dos sintetizadores, nesta que eu considero a mais fraca do LP.

Por fim, a guitarra aparece com destaque, na grandiosa (apesar de não longa) “L’age D’or”, um tapa na cara dado por Renato aos críticos que começavam a endeusar o grunge, mostrando que ele também sabia tocar pesado, sendo mais uma a falar sobre drogas, e também com um pitaco na religião. A guitarra abre a canção, com Dado despejando distorção e usando o slide guitar para fazer efeitos na longa e pesada introdução da mesma. O acompanhamento da bateria e do baixo é mais para marcar as endiabradas intervenções do slide de Dado. Renato passa a cantar, de forma mais aberta, com a guitarra tomando conta das caixas de som, sendo privilegiada na mixagem final. As batidas agitadas da guitarra são acompanhadas por um quase inaudível baixo, e com o único problema sendo a quadrada marcação de Bonfá.

Essa é a mais agitada das canções do LP, e a única que não possui violões ou teclados. Punk, grunge, metal, várias foram as definições que os fãs deram para a canção, mas todos tinham em mente o mesmo pensamento: “nunca o trio tinha feito algo parecido”. O crescendo do meio da canção, com Renato cantando palavras longas, Dado mandando ver no slide, e o baixão de Renato batendo forte ao fundo, sacode as cabeças dos headbangers envergonhados com a situação de estar curtindo um som do Legião Urbana, e claro, a pergunta que fica é “por que o Legião nunca mais fez algo parecido com ‘L’age D’or’” em sua carreira, concluída com um perturbado solo de slide guitar.

Um grande petardo que antecipa o encerramento do LP, o qual é feito com a instrumental “Come Share My Life”, uma canção tradicional no folclore dos Estados Unidos, sendo um curto tema ao piano elétrico, tocado por Renato, que coloca o trem nos trilhos da leveza e agonia que permeia todo o disco, e que também poderia ter ficado de fora de V, tornando-o mais essencial do que ele já é.

Logo de seu lançamento, V chegou nas 100 mil cópias vendidas, mas os meses foram passando e nada do álbum decolar. As complicadas canções do Lado A, e o lado B melancólico, não ajudaram em nada na conquista do público. Vários shows foram cancelados, e a turnê de divulgação de contou com poucos shows (em comparação com a turnê de As Quatro Estações, que durou quase um ano e meio). Outro fato que ajudou ainda mais para V não vender foi que nenhum clipe promocional foi feito, parte por responsabilidade do trio, parte por responsabilidade da EMI, que não conseguiu encontrar uma música de trabalho.

O trio ao vivo na MTV.

Por outro lado, o Legião Urbana aceitou participar do recém criado Acústico MTV, em janeiro de 1992, onde Renato pôde demonstrar um pouco de sua insatisfação com as vendas do LP (na época já com 200 mil cópias vendidas). Ao vivo, o grupo fez um grande show, e as canções de V, predominantemente acústicas no LP, adaptaram-se muito bem ao programa, com destaque para a performance de “Metal Contra as Nuvens”, “Teatro dos Vampiros” e “Sereníssima”. Além disso, durante o show foram apresentados diversos covers em inglês. Mas não houve jeito, o pecado vaidoso de Renato e os demais membros do Legião fizeram com que não superasse até hoje a marca de 700 mil cópias. Muito pouco para quem tinha alcançado quase dois milhões com seu antecessor.

O disco contou com a participação do baixista Bruno Araújo em algumas canções, e hoje em dia é tido como o mais difícil dos discos do Legião Urbana. O fracasso do álbum fez com que a EMI acaba-se lançando quase que emergencialmente o ao vivo Música p/ Acampamentos (1992), trazendo diversas apresentações, inclusive com canções do Acústico MTV, que teve seu lançamento na íntegra em 1999.

Uma das últimas fotos de Renato com o Legião Urbana.

Além do fracasso de vendas de V, a AIDS também fez com que Renato afundasse ainda mais no álcool e nas drogas, tendo que passar por um período de reabilitação. Logo no início desse tratamento, veio O Descobrimento do Brasil (1993), que graças ao clipe de “Perfeição” e uma gigantesca turnê pelo país (que nosso colaborador Micael Machado teve a oportunidade de ver um show, como você pode conferir nessa postagem) colocou o nome do grupo novamente na ativa, mas não recuperou as vendas extraordinárias de As Quatro Estações, apesar de ter vendido mais que V, atingindo a marca de 500 mil cópias em menos de um ano. As letras criticando a política e a sociedade davam espaço para problemas pessoais e amorosos, e a ideologia inicial do grupo dispersava-se sob um olhar de incógnita por parte da mídia e dos fãs.

A AIDS começou a agravar seriamente a saúde de Renato depois disso. O último disco oficial do grupo, o depressivo A Tempestade ou O Livro dos Dias (1996), tratando temas como AIDS, injustiça, solidão e depressão, é uma despedida triste de um dos principais nomes da cultura nacional, inclusive sem contar no encarte com duas frases consideradas essenciais em qualquer lançamento do grupo: “Urbana Legio Omnia Vincit (Legião Urbana Tudo Vence)” e “Ouça no Volume Máximo”.

Renato faleceu em 11 de outubro de 1996, 21 dias após o lançamento de A Tempestade ou O Livro dos Dias, deixando para Dado e Marcelo declararem o fim da banda em 22 de outubro do mesmo ano. Logo em seguida, em 1997, saiu o complemento de A Tempestade ou O Livro dos Dias, o bom Uma Outra Estação, onde o oceano depressivo que Renato vivia em seus últimos dias era ainda maior do que o que ficou registrado no seu último álbum antes de falecer.

Particularmente, considero V o melhor disco do grupo. Dentre os sete nomes que estou citando, o Legião Urbana é o que eu possuo mais intimidade para falar. Cresci ouvindo os discos da banda através do meu irmão, fã declarado de Renato e cia. Na adolescência, as primeiras canções que aprendi a tocar no violão foram justamente as da banda, sendo que inclusive participei de um grupo cover batizado de Detritos Urbanos. A mãe de meu filho foi outra pessoa que me torturou com as canções dos sete vinis que o Legião Urbana lançou, fazendo eu decorar as letras de tanto que ela ouvia e/ou cantava, mesmo que eu não estivesse gostando. V por si só é o que contém as duas canções que eu realmente admiro, capaz de colocar na lista das melhores que já ouvi, que são “Metal Contra as Nuvens” e “A Montanha Mágica”. E como citei no texto, apesar de não ter apreciação enorme, considero sim ouvir qualquer um dos discos de sua pequena discografia essencial para entender bastante sobre como funcionava o rock nacional na década de 80, e conhecer um pouco sobre a idolatrada (mas não por mim) genialidade de Renato Russo.

Assim como Raul Seixas, precisou Renato Russo morrer para seu nome virar sinônimo de idolatria. Não que quando vivo isso já não fosse verdade. O problema é que depois de ter cometido o pecado da VAIDADE, seu nome passou a ser tratado com certo preconceito, com muita gente torcendo o nariz para o que vinha sob autoria do nome Renato Russo, ainda mais quando ele investiu seguir em carreira solo, lançando dois álbuns que em nada lembram o que o Legião Urbana fez no auge de sua carreira, principalmente o fraco Equilíbrio Distante (1995), apenas com canções românticas italianas.

Porém, após o fatídico 11 de outubro de 1996, o Legião Urbana voltou a cena com força, e hoje qualquer re-lançamento dos álbuns da banda figura entre os mais vendidos. Mais e mais jovens da geração 2000 vem descobrindo as letras fortes tanto do ponto de vista político quanto do ponto de vista pessoal de Renato Russo, e passam a admirar esse grande compositor, que como ele mesmo afirmava, “os bons morrem jovens“, deixando um legado e uma incontável legião de fãs pelo país, mas claro, tendo cometido um pecado imperdoável, fazendo uma queda brusca na sua imagem enquanto esteve na ativa, culminando com a morte de Renato e o fim de uma das mais importantes bandas do BRock.

Próximo Pecado: A LUXÚRIA

15 comentários sobre “Os Sete Pecados do Rock Nacional – Parte VI: a vaidade (Legião Urbana – V [1991])

  1. Excelente abordagem… apenas a acrescentar: o cavalo marinho (citado em "Vento no Litoral"), além da estranheza de ser um "macho gestante", também se diferencia da maioria das espécies animais por ser um animal MONOGÂMICO, a ponto de não se relacionar com nenhum outro cavalo marinho (ou "égua", hehe) que não seja o seu parceir@, até a morte!

  2. Acho curioso que nessa excelente série os principais "centros" do BRock (o que quer que essa expressão signifique) estão representados, menos o Rio.
    SP tem Ira!, Ultraje e Titãs, RS tem o Engenheiros, Legião representa Brasília e a Bahia tem o Camisa de Venus + Raul. Minas nessa época estava mais ligada ao metal, então acho que não entra no tal do BRock.
    O que houve com o rock do Rio? Não deveria ter se desenvolvido mais após ter sediado o maior festival do gênero no Brasil? Será que ficaram ligados demias à imagem do "rock de bermudas"?

  3. Para quem não gosta de Legião Urbana, o texto ficou excelente!

    Apesar de discordar de algumas das opiniões pessoais sobre Renato (o que faço há pelo menos uns 20 anos quando se trata do Mairon) não posso acusar nenhum trecho de falso ou leviano. A posição do Mairon é bem colocada e defendida, e, embora eu não ache que o sucesso dos Engenheiros tenha sido a causa da virada rumo ao prog da Legião (para mim é feminino mesmo), e sim a insatisfação de Renato e cia. com a situação do país, com a falta de dinheiro (que todos enfrentaram com o confiscamento da poupança) e com a descoberta de sua doença, que ele sabia ser uma sentença de morte, além de seus próprios demônios pessoais. A Legião por muito pouco não acabou antes do disco ser gravado devido a tudo isso, e Renato não teve condições nem disposição para fazer os shows da turnê ou os video clipes (as músicas de trabalho surgiram sim, mano, "Teatro dos Vampiros", "O Mundo Anda Tão Complicado" – que também acho muito fraca – e "Vento no Litoral" tocaram pacas nas rádios), e a banda levou um bom tempo para se reerguewr e reencontrar a felicidade e o otimismo com o próximo disco… resumir tudo isso a simples Vaidade e inveja do sucesso alheio é muito reducionismo, embora possam sim ter sido parte do processo…

    Quanto ao disco, só não é o meu favorito na discografia da banda porque "Dois" é insuperável! E prefiro muito mais o fantástico lado A que o B, com a Legião mostrando que, apesar de não serem virtuosos, seus músicos podiam sim tocar vários estilos musicais…

    Enfim, como o Mairon mesmo relatou no texto, sou fã declarado e juramentado da banda, então, ficar me expandindo em textos não levará a nada, vai ficar quase uma "matéria dentro da matéria". Mas fica a dica: ouçam o disco sem preconceitos e pré-julgamentos, e depois venham aqui me dizer que ele não tem valor se forem capazes! Depois, podem voltar a ouvir Michel Teló e Gustavo Lima!

  4. Esse sempre foi o meu disco predileto da Legião Urbana! E quando falo sobre essa banda com as pessoas poucos mencionam esse álbum! Sempre achei isso uma grande injustiça! Enfim, me senti com a alma lavada com esse excelente texto! Parabéns!
    Agora vou ali, deixar meu quarto na meia-luz, acender aquele cigarrinho e ouvir esse disco maravilhoso! 🙂

  5. Meus caros, obrigado pelos comentários.

    Marco, tu ouviste o disco novamente? O que achaste?

    Lucas, valeu pela parte biológica do animal, a parte da éguinha foi sensacional, heheheh

    Nobre anônimo, das bandas do Rio de Janeiro, a maioria estava com o pé no progressivo ou no metal. Do BRock creio que o Barão Vermelho foi a única a dar certo, mas o grupo pós-CAZUZA é outro grupo, e lançou um disco que poderia ter entrado como pecado capital, PURO EXTASE, mas o disco é muito ruim em comparação a discografia cheia de altos e baixos do Barão. No momento não lembro realmente de outra banda BRock do Rio, estranho.

    Micael, na verdade a tese do Engenheiros é apenas uma motivação para a sequência dos textos sobre os sete pecados. Concordo fortemente que este não foi o fator principal, mas sabe-se lá, na mente "aveludada" do Renato, se isso não aconteceu. É uma suposição muito idiota a princípio, mas olhando o perfil do Renato, vai saber se não teve essa invejinha de leve.

    Pelo que pesquisei, as canções de trabalho surgiram por causa das rádios, pois ninguém do grupo ou da EMI tinha ideia do que podia pegar. Como os fãs ligavam pedindo "Serenissima", "O Mundo Anda Tão Complicado" etc etc, essas tocaram. Mas tu conheces bem melhor a biografia do grupo, então, com essa dúvida

    E George, teus elogios são bem-vindos, e espero que tenhas tido bons momentos ao som de "Metal Contra as Nuvens".

  6. Bão, Mairon… escutei um CD aqui da loja umas quatro vezes desde que li a matéria, então não precisa dizer o que achei, né…
    Inclusive, tinha a reedição do LP à venda e já peguei pra mim.
    Lado B, no entanto, es una mierda!!!!

  7. Gaspa, o lado B é bem fraquinho até, comparado ao lado A, mas para "una mierda" não chega a servir…

    Pelo menos "Vento", "L'Age" e "Sereníssima" salvam a obra…

  8. O Renato Russo era muito chato!! As bandas de Brasília com exceção dos Raimundos e do D.F.C, sempre foram fracas e fakes. O Renato cantava contra a "burguesia", mas não passav de um burguês também. O Dinho "Ovo" Preto é um medíocre, não sabe cantar, deveria ter virado um banqueiro ou coisa do tipo. A Plebe Rude, eu sempre achei musicalmente muito fraca. A entrada do Clemente dos Inocentes, na banda, não ajudou em nada, o som continua fraco e inconsistente. Aquele álbum do Capital Inicial, com músicas do Aborto Elétrico, soa no mínimo patético e oportunista. Os vocais de Dinho soam forçados, medíocres, o instrumental previsível e acomodado. E isso que o guitarrista Yves Passarel, já tocou no Viper. Se fosse o antigo guitarrista Loro Jones, até seria compreensível(o cara sempre foi um lixo de guitarrista). Uma história engraçada e tosca sobre o Capital, foi que há uns 6 anos atrás, em um show(que eu não sei aonde foi), um grupo de jovens berrava a plenos pulmões:"MORTE AO ROCK DE BRASÍLIA!!!!!". Pronto, foi o que bastou para o viadinho do Dinho, dar um xilique e ir para a platéia junto com suas "amiguinhas de banda", tirarem satisfações com os desaforados. Mairon, Maicon, Bizotto, me desculpem, mas Legião Capital e Plebe Rude, são uma piada de mal gosto. E esses festivais de revival dos anos 80 então, tem sempre uma música da Legião, em que todos se unem no palco e cantam juntos. Uma cena patética, digna do Paul mccartney, quando em shows beneficentes se junta com outrso artistas, para cantar a pior música já composta na face da terra: Hey jude dos Beatles. MORTE AO ROCK DE BRASÍLIA!!!

    1. Essa idiota dessa mina escrota vem me xingar 5 anos depois que escrevi esse meu comentário. Tá atrasa hein Natália?

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