Review Exclusivo: Creedence Clearwater Revisited (Porto Alegre, 15 de março de 2012)

Review Exclusivo: Creedence Clearwater Revisited (Porto Alegre, 15 de março de 2012)



Por Micael Machado
Fotos por Patricia S. Dias

Quando eu morava no interior do Rio Grande do Sul, meu conhecimento da obra do Creedence Clearwater Revival (CCR) se resumia apenas a “Have You Ever Seen The Rain” e “Proud Mary”. Ao me mudar para a região metropolitana de Porto Alegre, descobri que a banda é idolatrada na capital gaúcha, com suas músicas tocando frequentemente nas rádios e as pessoas sempre tocando no nome do grupo nas conversas sobre música. Desde então, passei a admirar e respeitar muito a música do grupo, embora não possa me considerar um profundo conhecedor da discografia do CCR. E nas várias bandas amadoras por onde toquei, era só interpretar algo do quarteto americano que o público ia à loucura, fosse ele formado por roqueiros, headbangers, punks, pessoas que só conhecem o que toca no rádio ou mesmo quem nem ouve música em casa. Sucesso garantido! 
Por isso, não foi surpresa ver o Pepsi On Stage bastante cheio na quinta feira, 12 de março, para assistir ao Creedence Clearwater Revisited, espécie de reencarnação do CCR liderada pelo baixista Stu Cook e pelo baterista Doug “Cosmo” Clifford, membros do grupo original, que colocaram esta “banda tributo” na estrada em 1995 e hoje, ao lado do vocalista/guitarrista John Tristao, do guitarrista Kurt Griffey e do multi-instrumentista Steve “The Captain” Gunner (guitarras, teclados, harmônica e percussão), percorrem o mundo celebrando a música e o legado que o CCR construiu ao longo de sete álbuns em apenas quatro anos, entre 1968 e 1972.
Depois de tanto tempo de estrada, e até de uma vinda anterior a Porto Alegre, já se sabia da qualidade do grupo em interpretar o material da formação original (que ainda contava, além de Doug e Stu, com os irmãos John e Tom Fogerty), portanto não cabia mais a desconfiança de alguns de que o espetáculo fosse uma espécie de picaretagem em cima da fama e do sucesso do CCR. Claro que a dupla remanescente se aproveita da fama e do passado glorioso (além das composições, que, em sua maioria, foram escritas pelo antigo vocalista/guitarrista John Fogerty) do grupo, mas não se pode negar que os membros da “cozinha” do Revisited estavam lá desde o início, tocaram em todos os discos e participaram da fase áurea da banda. Então, porque não teriam o direito de continuar tocando e celebrando (além de lucrar em cima, claro) as músicas que ajudaram a criar?
Sem banda de abertura, o quinteto adentrou ao palco pouco antes das 22 horas para dar início a um dos melhores shows a que já tive a oportunidade de assistir (com uma excelente visão de palco e qualidade sonora, diga-se de passagem como sempre acontece no Pepsi On Stage). Ovacionados pela plateia, começaram os trabalhos com “Born on the Bayou”, iniciando o desfile de uma quantidade tamanha de hits que poucas vezes tive a oportunidade de presenciar ao vivo. Tenho uma coletânea do CCR chamada “Really The Best”, e esta foi a base do repertório escolhido, para muita satisfação de minha parte. Mas acho que nem teria sido necessário tê-la escutado pouco antes do show (e eu o fiz), pois todas as canções eram facilmente reconhecidas não só por mim como por quase todos os presentes, os quais respeitosamente se mantinham quase calados durante a execução dos números, mas aplaudiam e gritavam emocionados a cada final de uma canção. 

Aos poucos, o público foi se soltando e cantando as músicas, incentivados por Tristao e Stu, que fazia às vezes de porta voz oficial do quinteto. Ao meu lado, um grupo de garotas de no máximo dezesseis anos cantava quase todas as canções como se tivessem vivido o grupo em sua fase áurea, mostrando mais uma vez que a boa música realmente não tem idade. Ao vê-las antes do show, pensei comigo “o que essa piazada quer aqui?”, mas, ouvindo-as cantar com toda a força de seus jovens pulmões clássicos como “Who’ll Stop the Rain” ou “Hey Tonight” (anunciada por Stu como “uma música especial para esta noite”), tive de engolir meus pensamentos preconceituosos. Como que para comprovar isto, Doug Clifford, após ser anunciado por Stu (e de dar um grande abraço em seu parceiro musical de tantos anos), veio ao microfone agradecer ao público e disse que “a verdadeira música não fica velha, nem quem a faz”. Ainda disse que a idade está na cabeça das pessoas e que ele, apesar de estar quase com 67 anos, naquele momento se sentia com vinte e poucos, e até o final do show estaria com uns quatorze anos e seria um virgem novamente, arrancando risos da audiência.

John Tristao, por mais que eu desconfiasse, realmente consegue substituir à altura um músico tão talentoso e carismático como John Fogerty. Mas o grande destaque da formação atual é o maravilhoso guitarrista Kurt Griffey. O que o sujeito fez nos mais de dez minutos de “Susie Q” (confira parte aqui, aqui e aqui), com direito até a citação de “Are You Experienced”, de Jimi Hendrix, é brincadeira, solando sua guitarra com uma habilidade totalmente inesperada para quem toca uma sonoridade tão básica quanto a do CCR. Não bastasse isso, ele repetiu a dose nos quase quinze minutos de “I Heard It Through the Grapevine”, onde Stu (que citou vários clássicos do rock mundial em seu baixo), Cosmo e Gunner (ao teclado) também tiveram seus momentos solo. Apesar de Doug ainda mandar muito bem em seu kit (claro que dentro dos limites que a música do grupo lhe impõe), instrumentalmente a noite era de  Griffey, que, ao extrapolar as limitações que o estilo do CCR poderia lhe impor, foi uma surpreendente revelação para meus ouvidos.

Mas não foi o talento individual de um músico que garantiu a qualidade do show, e sim a força da música do grupo. Aquelas maravilhosas canções (a maioria com pouco mais de dois minutos, mostrando que uma música não precisa ser longa para ser genial), como “Green River“, “Lodi“, “Bad Moon Rising”, a baladaça “Long as I Can See the Light” (dedicada por Tristao às garotas presentes), “Proud Mary” ou “Fortunate Son” (que encerrou a primeira parte do espetáculo) encantaram a todos os presentes, e pareceram durar muito mais que os pouco mais de sessenta minutos apresentados até então.

Após uma breve pausa, o grupo retornou para o bis com a muito aguardada “Have You Ever Seen The Rain“, emendada a uma canção que não reconheci, e que passou meio despercebida ao pessoal da audiência, e encerrando a apresentação com “Travelin’ Band“. Como o público não arrastava pé do local, voltaram ao palco mais uma vez (com Stu vestindo uma camiseta do F. C. Santa Cruz, time do interior gaúcho cujo centroavante atual se chama – podem acreditar – Creedence Clearwater Couto, e que lhe foi entregue pelo próprio antes do show), encerrando definitivamente a noite com “Molina” e “Up Around the Bend”, em um espetáculo de pouco mais de hora e meia (que, honestamente, pareceu ter o dobro, de tão bom que estava) que ficará na memória de quem lá esteve por muito tempo. Inesquecível!

“Hey tonight, it´s gonna be tonight, toniiiiight…”

Track List:

1. Born on the Bayou
2. Green River
3. Lodi
4. Commotion
5. Who’ll Stop the Rain
6. Suzie Q
7. Hey Tonight
8. Long as I Can See the Light
9. Down on the Corner
11. I Heard It Through the Grapevine
13. Bad Moon Rising
14. Proud Mary
15. Fortunate Son

Encore 1: 

16. Have You Ever Seen the Rain?
17. Cottonfields
18. Travelin’ Band 
Encore 2: 
19. Molina
20. Up Around the Bend

3 comentários sobre “Review Exclusivo: Creedence Clearwater Revisited (Porto Alegre, 15 de março de 2012)

  1. Bah, esse eu perdi duas vezes, quando eu morava em Porto Alegre e agora. Com todas as excusas, mas eu tenho um preconceito em dizer que alguem consegue tocar como John e Tom Fogerty. Esses eram os cérebros do CCR, principalmente o John (o Tom era uma alma) e por mais talentoso que seja o atual guitarrista, acho difícil ele ter o carisma do John.

    Ao vivo a dupla de irmãos mandava muito bem, com longos improvisos e solos arrebatadores, mas poucos reconhecem isso, e taxam as canções do grupo com osimples (que até são, mas com uma dose de feeling difícil de ser alcançada)

    Enfim, a ponta da inveja existe em meu comentário, mas de qualquer forma, é sempre bom ver velhos ídolos (mesmo sendo ídolos menores dentro de uma constelação de estrelas) fazendo os velhos bons sons que permanece =m vivos até hoje.

    Quero ver até quando ira durar coisas como Adele, Sandália de Prata, Samba Pesado, entre outros que alguns pseudo-críticos musicais dizem ser novos bons sons …. Enquanto isso, sigo ouvindo com satisfação o belíssimo Green River

  2. Assisti o CCRevisited no ano passado aqui em Florianópolis, com o ex-guitarrista do The Cars Elliott Easton na guitarra solo, e ele mandou muito bem! Bom saber que eles encontraram um substituto à altura.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.