Datas Especiais: 30 anos sem Elis Regina

Datas Especiais: 30 anos sem Elis Regina
 
Por Mairon Machado
2012 é um ano no qual muitos fatos serão celebrados. Afinal, nos últimos 50 anos de música, muita coisa aconteceu nas datas de 1962, 1972, 1982, 1992 e 2002, assim como em 1967, 1977 e 1987. Porém, o primeiro fato do ano que será lembrado pela Consultoria do Rock é um triste acontecimento. Hoje, 19 de janeiro, completam-se 30 anos do dia em que o Brasil perdeu sua melhor e maior intérprete: Elis Regina Carvalho Costa.

Elis nasceu no dia 17 de março de 1945, em Porto Alegre, onde viveu sua infância na Vila IAPI, Zona Norte da cidade. Iniciou sua carreira na música ainda muito jovem, lançando seu primeiro LP com apenas quinze anos, o hoje raríssimo Viva a Brotolândia (1961), apresentando canções voltadas para crianças. Em terras gaúchas, Elis lançou mais três álbuns que chamaram a atenção do povo dos pampas, principalmente empresários, que acabaram levando a pequena pimentinha (apelido dado à ela em função do vermelho de sua pela quando ficava brava) para o Rio de Janeiro, três anos depois do primeiro LP. 
O primeiro LP de Elis
Na Cidade Maravilhosa, assinou um contrato com a TV Rio, onde passou a integrar o elenco do programa Noites de Gala, conquistando o coração da dupla Luis Carlos Miele e, principalmente, Ronaldo Bôscoli, que acabou se tornando seu primeiro marido, em uma relação conjugal de extremos, com muitas brigas e discussões nada saudáveis para Elis. Ao lado de Bôscoli, Elis passou a conviver com a Bossa Nova e o samba, os principais estilos nos quais se encaixavam as canções que interpretava, além de se destacar nos famosos festivais nacionais de música, sendo a apresentação de “Arrastão” no I Festival Nacional de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, em 1965, considerada uma das mais arrepiantes performances vocais de um artista em cima do palco (ao lado da apresentação de “Ball and Chain” feita pela Janis Joplin em Monterey, 1967), fazendo com que Elis conquistasse o prêmio de melhor intérprete daquele festival, com apenas 20 anos.
Elis Regina e Jair Rodrigues
Vinilicamente falando, Elis lançou discos muito bons nesse período, com destaque para a trilogia 2 na Bossa (1965, 1967 e 1968), apresentando o espetáculo de mesmo nome ao lado do cantor Jair Rodrigues, e cujo primeiro volume foi o primeiro LP a atingir a marca de um milhão de cópias vendidas no Brasil, isso em 1966.
Elis excursionou pelo mundo, apresentando-se com destaque na Europa, mas a década de 70 causou uma revolução em sua mente. Influenciada pelos pensamentos do Velho Mundo, Elis retornou com um novo visual, de cabelos curtos, lançando o excepcional Em Pleno Verão (1970), no qual apresentou canções de artistas desconhecidos do grande público, como Jorge Ben, Tim Maia e Nonato Buzar. O som, mais próximo do rock e da Tropicália, revelou a capacidade de interpretação da gaúcha, saindo totalmente da bossa e do samba que ela fez tão bem na década de 60.
César Camargo Mariano e Elis Regina
Em 1972, Elis separou-se de Bôscoli, começando uma relação de extremo sucesso ao lado do pianista César Camargo Mariano. De jovem promessa do jazz nacional, Mariano acabou sendo o pilar fundamental para sustentação da carreira de Elis, alavancou as vendas de seus álbuns e a tornou um ídolo no país. É ao lado de Mariano que foram registrados seus melhores discos, como o cultuado Elis & Tom (1974), gravado com Tom Jobim, Elis (1972), Elis (1973), Transversal do Tempo (1978) e o fundamental Falso Brilhante (1976), esses últimos, regados à psicodelia e progressivo, mais duas vertentes inéditas para a carreira da pimentinha.
Jornal do Brasil anuncia a triste perda de Elis
O casamento com Mariano gerou os filhos Maria Rita e Pedro Mariano, e a relação da dupla durou seis anos. Depois, Elis conheceu o advogado Samuel MacDowel de Figueiredo, em 1981, com quem ficou seis meses casada, vindo a falecer no dia 19 de janeiro de 1982, vítima de uma overdose de cocaína misturada a bebidas alcoólicas.
Fantástico DVD de Elis
Com uma discografia farta, variando desde o samba até o rock psicodélico, Elis tem para mim uma voz marcante e sem igual dentro do mundo da música, sendo sua fase auréa, ao lado do marido César Camargo Mariano, um aprendizado para os que acham que era difícil encontrar algum músico com o talento dos estrangeiros dentro do Brasil.


Desde que descobri a carreira de minha conterrânea, a sonoridade lá em casa mudou. A voz da pimentinha tem repercurtido direto nas paredes e na cabeça de quem vos escreve. Como canta essa mulher. O DVD com sua apresentação no Programa “Ensaio” da TV Cultura é uma amostra do sentimento que ela consegue colocar em cada música. 


Meu sonho de consumo é ter a coleção de Elis completa em vinil, e venho trabalhado bastante para isso há alguns anos. Uma mulher como essa merece ter uma prateleira apenas para ela. 

Hoje, eu sou mais um dos milhares de bêbados trajando luto, com essa dor  assim pungente, neste triste dia 19 de janeiro. Temos a filha de Elis, Maria Rita, dando uma pequena amostra do que foi sua mãe, até que de uma maneira não proposital, já que a força de Elis está no sangue. Mas, com um olhar tonto de emoçãominha dor é perceber que apesar dos enormes talentos vocais de nosso país, acredito fielmente que o Brasil ainda sente saudades daquela pequena gaúcha agitando os braços enquanto arrebatava a garganta com canções de letras poderosas.





Parte da minha coleção de vinis da maior cantora do Brasil
Elis Regina Carvalho Costa 
17/03/1945 – 19/01/1982

9 comentários sobre “Datas Especiais: 30 anos sem Elis Regina

  1. Fico sensibilizado com essas declarações de amor. Não que a Elis não mereça o amor do Mairon, muito pelo contrário. Foi a maior cantora deste país e uma das melhores vozes que já surgiram no mundo. É de se apaixonar, realmente. Mas o amor é cego, não é mesmo? Faz com que a gente não aponte os defeitos da pessoa amada. No caso da Elis, ela sacaneou (palavra forte e talvez má empregada aqui, por isso me desculpem) muitos roqueiros nos anos 60 até cair a ficha de que o rock era muito maior do que arroubos nacionalistas, passeatas contra as guitarras e desculpas para quedas de audiência. Foi usada (culpa de sua ingenuidade, sei lá, isso nunca ficou totalmente claro para mim) pela ditadura, voou no pescoço de desafetos e concorrentes. Mas tudo o que fez pela MPB e por muitos jovens compositores não tem preço. Toda a emoção que sua interpretação fez invadir nossos corações não há dinheiro que pague. Ela foi mais do que uma grande cantora brasileira. Foi um dos personagens mais fascinantes da nossa cultura popular. E das personalidades mais difíceis e contraditórias. Cheguei a entrevistá-la para a campanha publicitária de lançamento de um disco seu pela WEA no final dos anos 70. Eu estava diante de uma diva, simples assim.

  2. Gaspa, como todo o perdão, cada vez tenho mais inveja de ti!! Entrevistar Elis Regina, MEU DEUS!!!!!!!!! Eu acho q tinha um infarte. Obrigado pelas palavras.
    Do que eu li (e vi) em biografias da Elis, o início da carreira dela era totalmente dominado pelo Boscoli. Ele mandava e desmandava. Ele dizia o que ela iria falar nas radios, na TV e nas apresentações. Foi a ida para a europa que fez com que a Elis mudasse seu perfil. De garota prendada que obedecia ao ente masculino, ela percebeu q a mulher tinha um espaço q no Brasil ainda não havia, e foi assim que se separou do Boscoli e começou uma vida totalmente nova, que acabou resultando nos discos Elis, Falso Brilhante, Transversal do tempo e outros da década de 70.
    O documentario que ela gravou para a TV Cultura em 1973 reflete bem isso. Ela fala com amargura dos anos 60, e sente-se renovada nos anos 70. Tb pode se dizer que havia influencia das drogas, mas isso é outro caso.
    O fato é que graças a Elis, podemos conhecer pessoas como Belchior, Milton Nascimento, João Bosco e até Chico Buarque, pois ouvir varias musicas desse ultimo com a Elis é uma obra de arte.
    Enfim, saudosismo a parte, ficou a maior voz que o Brasil ja ouviu …

  3. Essa entrevista foi muito engraçada, Mairon. Eu tinha meus 22, 23 anos na época e era uma garoto cheio de prog inglês na cabeça. Preconceituoso total, hehe… Quando a WEA foi formada no Brasil, com o Midani na presidência, a conta publicitária foi entregue para a agência que eu trabalhava que, aliás, ficava na mesma rua. Praticamente vizinhos. Eles achavam que era importante que a dupla de criação (eu era redator) entrevistasse os artistas para fazer anúncios contundentes (até parece). Que eu me lembre, tive reuniões com o Nei Matogrosso (muito legal), com o Raul Seixas (difícil pra caralho) e com a Elis. Ela andava rodeada pelas suas consortes da gravadora, como se fosse uma rainha (e era mesmo) francesa de antes da revolução. A conversa foi absolutamente improdutiva. Eu não sabia o que perguntar e ela não tinha o menor saco de responder praquele garoto estúpido. Nem me lembro que disco foi ou se a propaganda saiu (dos outros dois eu lembro bem). Mas é isso aí, eu tive meus 15 minutos ao lado de Elis Regina, hehe…

  4. Bah, essas historias bem que podiam virar um livro !!!!!!!!!

    Teus quinze minutos de fama ao lado da Elis Regina vale muito mais do que excursionar com uma banda como o Restart hoje em dia, mesmo que tenha sido improdutivo (consigo imaginar a impaciência da Elis, hahaha, e teu nervosismo).

    Tens como expandir um pouco mais sobre a dificuldade com o Raul? Isso se deve ao álcool??

  5. Não me lembro bem desses encontros, Mairon. É preciso levar em conta que esse meu “papo” com o Raul aconteceu lá por 1978, quando ele lançou Mata Virgem. E toda essa história sobre alcoolismo é algo que a gente lê hoje nas biografias e que começaram a trazer problemas para ele justamente a partir desse ano. Não me lembro dele bêbado, mas tinha uma aura de misticismo, sei lá, meio transcendental. Provavelmente conversei com um ET, é isso. E eu não era jornalista, tinha essas reuniões para tentar encontrar algum filão que rendesse um anúncio de lançamento. E não acontecia nada de mais, eu não tinha o cacoete. Mesmo os anúncios são merdas, brincadeirinhas estúpidas. Bastava dizer novo disco do Raul e ele vendia sozinho… tudo mise en scene pra agência justificar seu envolvimento com os problemas do cliente e faturar sua grana. Com o Nei a conversa foi sobre o lançamento do disco Feitiço, da fase Bandoleiro dele. Lembro de que ele foi todo sorrisos e muito solícito, talvez porque eu, com 23 anos, devia ser um pitéu, hehe…

  6. Entrar no meu site predileto e ver logo de cara a minha cantora predileta(em todo o mundo e ,de todos os tempos) é de me encher os olhos d"agua….messmo que seja pra lembrar dessa data triste….
    só lamento que o Brasil jamais se fara digno novamente,de fazer juz ao nome de Elis…..afinal,sua cultura ja morreu ha muitos anos….

  7. É no mínimo curioso ver o comentário elogioso para a Elis Regina de alguem com o nick de Vomity….rs
    Quando vi o nick achei que seria um comentário em algum post da semana de Death Metal….rs

  8. Pra vc ver que nao se deve julgar o livro pela capa mesmo. kkkk
    Gosto de varios estilos musicais,afinal estou nessa estrada musical ha quase 30 anos.
    Principalmente Rock e MPB,do qual Elis bebeu dessa agua com extremo talento e tranquilidade….afinal ela foi a VOZ mesmo….
    Quanto ao Vomity, é apenas um nick….como vc falou……
    Nao sou muito talentoso pra criar nomes e senhas na net…..esse foi o primeiro que me veio a cabeça,vi que nao tinha nenhum igual e acabei usando ele mesmo…..mas ficou por aí mesmo…..

  9. Conheço pouquíssimo da obra da Elis, mas só o que ela fez com "Como Nossos Pais" já é suficiente pra que eu reconheça sua qualidade como intérprete! Coisa de gênio!

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