Review exclusivo: Judas Priest e Whitesnake (Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2011)

Review exclusivo: Judas Priest e Whitesnake (Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2011)

Por Leonardo Castro

A noite de 11 de setembro de 2011 vai ficar marcada para sempre na memória dos fãs de heavy metal do Rio de Janeiro. Com uma apresentação nada menos que fenomenal, o Judas Priest se despediu do público carioca, uma vez que, como foi amplamente divulgado, a sua atual turnê será a última grande excursão mundial que o grupo fará, passando apenas a se apresentar em grandes festivais ou em ocasiões especiais daqui para frente.A noite teve início as 21:30 em um Citibank Hall lotado como há muito tempo não se via no Rio de Janeiro. Os convidados muito especiais da turnê, David Coverdale e o seu Whitesnake, entraram no palco pontualmente com a música “Best Years”, do disco Good To Be Bad, de 2008. Uma escolha incomum, visto que a canção não é nem de longe uma das favoritas dos fãs, nem está presente no disco que a banda está divulgando, Forevermore, lançado este ano. O som também não ajudava muito, muito grave e com pouca definição, o que colaborou para que o início da apresentação fosse um tanto morno. Tendo músicas como empolgantes “Bad Boys” ou “Slide It In” para iniciar seu show, que certamente levantariam o público de imediato, fica difícil entender a escolha da banda em começar a apresentação desta forma.

Entretanto, a casa de shows explodiu aos primeiros acordes de “Give Me All Your Love”. O som continuava embolado, mas ninguém parecia ligar para isso enquanto todos cantavam o refrão grudento da música com toda força. Outro clássico, “Love Ain’t No Stranger”, veio em seguida, mantendo o clima animado. A obrigatória balada “Is This Love” foi a próxima, e teve um belíssimo solo do guitarrista Doug Aldritch.

Aliás, é até desnecessário falar sobre a banda que acompanha Coverdale. Os guitarristas Reb Beach e Doug Aldritch, apesar de terem estilos completamente diferentes, são dois monstros do instrumento. Beach é mais técnico e melódico, além de fazer os backing vocals muitíssimo bem, enquanto Aldritch tem uma pegada incrível. O baixista Michael Devin e o tecladista Brian Ruedy também não decepcionam. Mas a grande surpresa da noite foi o baterista Brian Tichy, que já tocou com Billy Idol, Zakk Wylde, Slash’s Snakepit e Ozzy Osbourne.

Após a sequência de clássicos, David anunciou que eles tocariam algumas músicas do último disco da banda, o excelente Forevermore. A faixa que abre o álbum, “Steal Your Heart Away” foi a primeira a ser executada, tendo uma boa receptividade da plateia,e foi seguida da longa “Forevermore”, que apesar de ser uma grande música, acabou não funcionando muito bem ao vivo. Após duas músicas novas, todos esperavam por mais um clássico, mas o que veio em seguida foi um balde de água fria na plateia: solos dos dois guitarristas. Como disse anteriormente, os dois são excelentes, mas para uma banda com tantos álbums e clássicos nas costas e apenas uma hora para fazer sua apresentação, solos individuais acabam sendo não apenas cansativos, mas também extremamente desnecessários.

Após os solos, apenas um grande hit seria capaz de levantar os ânimos do público. Mas a banda optou por tocar mais uma música nova, “Love Will Set You Free”, primeiro single e videoclip do disco. Ainda que seja uma das melhores composições do álbum e que tenha um refrão inesquecível, ela foi incapaz de incendiar a plateia. Para completar, na sequência foi a vez de Brian Tichy fazer seu solo, que como 99,99% dos solos de bateria (o 0,01% se chama Neil Peart), foi cansativo e monótono.

Após a queda da animação causada pelas músicas novas e os solos, a coisa voltou a pegar fogo com “Here I Go Again”, uma das músicas mais conhecidas da banda. Neste momento era visível como Coverdale evita os tons mais altos das músicas, deixando essas partes para a plateia ou para os vocais de apoio da banda. “Still Of The Night” veio na sequência, com seu riff inesquecível e mais uma bela atuação dos guitarristas, além de muita participação da plateia. Após um pedaço de “Solider Of Fortune” a capella, a banda encerrou seu show com outro clássico do Deep Purple: uma versão maravilhosa de “Burn”, com direito a todos os solos de guitarra e teclado, além de um pequeno pedaço de “Stormbringer”.

Ainda que tenha sido um bom show, muitos ficaram com a sensação de que poderia ter sido muito melhor. As músicas novas em sequência acabaram tornando o show um pouco cansativo, e o tempo utilizado para os solos individuais poderia ser usado para tocar mais alguns clássicos, como “Fool For Your Loving” ou “Slow And Easy”, ou até uma ou outra música menos lembrada, como “Ready And Willing” ou “Youngblood”, que fariam a alegria dos mais fanáticos pela banda.

Contudo, se alguns se queixaram do Whitesnake, certamente ninguém teria do que reclamar ao fim do show do Judas Priest. Vi a banda nas suas duas últimas turnês, e confesso que em alguns momentos o grupo parecia um tanto cansado, principalmente o vocalista Rob Halford, que já não conseguia alcançar algumas notas e pouco se movia no palco. O anúncio que o repertório da turnê incluiria ao menos uma música de cada álbum da banda (exceto os gravados com Tim “Ripper” Owens nos vocais) me deixou ainda mais preocupado, uma vez que algumas dessas músicas não era executadas há décadas, e confesso que duvidava que o grupo poderia reproduzi-las novamente com a qualidade de registros como  Unleashed In The East e Priest… Live! Para completar, a saída do guitarrista KK Downing da banda às vésperas do início da turnê levantou ainda mais dúvidas, principalmente se seu substituto, Richie Faulkner, seria capaz de fazer um bom trabalho.

Entretanto, logo nos primeiros acordes da primeira música do show, “Rapid Fire”, todas essas dúvidas se dissiparam. A banda soava entrosada e renovada com o novo guitarrista, e Halford cantava e se movimentava como há anos não se via. O palco, todo decorado com correntes, tinha panos de fundo variáveis de acordo com a música tocada, e durante a primeira mostrava a industrial Birmingham com uma placa “Home Of British Steel”. Nada mais apropriado.

O show continuou com mais um clássico, “Metal Gods”, que fez o Citibank Hall tremer. Sai o fundo da fábrica e entra a imagem projetada de uma estrada. Era a deixa para “Heading Out To The Highway”, uma das minhas músicas favoritas da banda, e que também foi muito bem recebida pelo público. Após o início com três clássicos absolutos do grupo, Halford anuncia que o show será uma viagem pela história da banda, e com a capa de Angel Of Retribution no telão, eles tocam “Juads Rising”.  Entra a capa de Sin After Sin, e o vocalista anuncia que uma música deste disco foi ensaiada especialmente para esta turnê, e anuncia “Starbreaker”, tocada em uma versão avassaladora.

Continuando nos anos 70, a banda iniciou “Victim Of Changes”. Confesso que senti falta de K.K. no dueto inicial da música, mas é inegável que Richie Faulkner fez um excelente trabalho não apenas nesta música, mas durante todo show, respeitando os arranjos e solos originais, mas também imprimindo um pouco de seu estilo, muito influenciado por Zakk Wylde, nas músicas.

O primeiro disco da banda, Rocka Rolla, foi lembrado através de “Never Satisfied”. Mas a plateia explodiu mesmo com o anúncio de “Diamonds and Rust”. A música teve a sua primeira parte executada de forma acústica, como gravada por Ripper Owens em ’98 Live Meltdown, mas após o refrão, toda a banda entrou em ação relembrando a versão imortalizada em Unleashed In The East. Um dos pontos altos da apresentação!

“Prophecy”, do recente Nostradamus, foi a seguinte, e serviu como um descanso para uma das sequências mais impressionantes que eu já vi ao vivo. “Nightcrawler” mais uma vez levantou o público, que agitava loucamente. “Turbo Lover”, contestada na época de seu lançamento, mostrou ser uma música que funciona muito bem ao vivo, tanto que tem sido uma constante nas apresentações do grupo, e teve seu refrão cantado por todos os presentes. Glen Tipton nos presentou com um dos seus mais belos solos em “Beyond The Realms Of Death”, infelizmente a única música do sensacional Stained Class tocada na noite. Mas confesso que o ponto mais alto do show para mim foi a música seguinte, a excepcional “The Sentinel”, provavelmente a minha música favorita da banda, executada com vigor e energia invejáveis, e com as trocas de solo entre Tipton e Faulkner executadas com perfeição!

A sequência de clássicos continuou com “Blood Red Skies”, do esquecido Ram It Down, outra música que exige bastante dos vocais de Halford e que foi cantada perfeitamente. E se o vocalista impressionou o público em diversos momentos do show, com certeza ficou impressionado nas três canções seguintes: “The Green Manalishi (With The Two Pronged Crown)” teve seus riffs cantados pelo público, “Breaking The Law” teve a letra inteira cantada pela plateia e “Painkiller” foi recebida de maneira fenomenal.

Após um pequeno intervalo, um pano de fundo com um olho gigante foi iluminado no palco, e a introdução “The Hellion” explodiu nos alto-falantes, seguida de uma das músicas chave da carreira da banda: “Electric Eye”.  Em seguida, o palco se encheu de fumaça, e com o roncar de um motor, Halford surge no palco montado em uma Harley Davidson, quando a banda inicia “Hell Bent For Leather”. Após brincar um pouco com a plateia, o vocalista pergunta se queremos mais uma música, e responde “You’ve Got Another Thing Coming”! Ao fim de mais esse clássico, a banda se despede e some atrás do palco.

Contudo, alguns minutos depois, o baterista Scott Travis reaparece, perguntando se ainda tínhamos energia para mais uma. Com a resposta positiva da plateia, ele inicia uma das levadas de bateria mais famosas da história da banda, e a banda inicia “Living After Midnight”, outra música cantada por todos na plateia, encerrando o show em grande estilo.

Ao fim da música, a banda agradece a plateia e se retira, deixando todos os fãs presentes satisfeitíssimos com a performance sensacional, mas ao mesmo tempo decepcionados por saberem que foi provavelmente a última chance de ver esta lenda do heavy metal mundial ao vivo.

Em resumo, uma aula de heavy metal dada pelos deuses do estilo, que dificilmente será esquecida por aqueles que a testemunharam.

2 comentários sobre “Review exclusivo: Judas Priest e Whitesnake (Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2011)

  1. Bah, que baita repertório do Judas. Vi o grupo em 2008, na turnê do Nostradamus, e até hoje, é um dos melhores shows da minha vida. O encerramento foi igual, ms em POrto Alegre eles tocaram Sinner, uma obra prima, e infelizmente não tocar victim of changes, outra que gosto bastante.

    Uma pena que Coverdale já não seja o mesmo. Ta certo que ninguem aguenta cantar como ele cantavca (se bem q quem cantava no Purple era o Hughes), mas achoq hj o Whitesnake ta vivendo muito do passado, e acaba contradizendo o que o Judas fez. Tocar só os clássicos e alegrar os fãs, ok, reconhecimento de que o auge passou. Agora, tocar um monte de musica nova, sem ter mais o pique do passado, é enrolação

    Quanto ao solo de bateria, eu admiro bastante os solos de bateria, e claro, Peart é um dos melhores, mas o solo do ano passado no Rio foi tão chato, mas tão chato, que eu quase dormi aos pés do cristo redentor. Nem peart alegra mais em solo de bateria. Em compensação, o solo do monstrengo que esta tocando com Ozzy Osbourne atualmente, é incrível!!!

    Parabéns por teres presenciado esse belíssimo show, Leo!

  2. Eu nunca pensei que um dia teria que dizer isso, mas não tenho como resistir: aposenta, Whitesnake! Na boa, amo a banda como pouquíssimas, mas se é para levar adiante os shows de maneira burocrática, enchendo de solos para dar um descanso ao já combalido Coverdale, e esquecer quase que por completo a carreira pré-1982, é melhor ficar trabalhando só em estúdio. "Forevermore" é ótimo, e justifica muito bem a continuidade da carreira do grupo, mas é latente o quão Coverdale está prejudicado ao vivo.

    Quanto ao Priest, bom… com um set desses, abrangendo praticamente toda a carreira, só mesmo a falta de K.K. Downing para evitar que tudo fosse próximo da perfeição. Não deve ter preço presenciar coisas como "Never Satisfied" e "Starbreaker" ao vivo, coisa de louco! Cada um pode ter sua ideia de set ideal, e eu, por exemplo, adoraria que fossem tocadas músicas mais antigas, como "Run of the Mill", "Dying to Meet You", "Dreamer Deceiver", "Last Rose of Summer"… sem falar no "Stained Class" completo, que seria o máximo êxtase! Mas dentro do que o Judas Priest se prontificou a fazer, não há o que criticar!

    Mas eu ainda trocaria "Night Crawler" por "One Shot at Glory", hehe!!!

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