Discos que Parece que Só Eu Gosto: Alice in Chains – MTV Unplugged [1996]

Discos que Parece que Só Eu Gosto: Alice in Chains – MTV Unplugged [1996]
Por Micael Machado

Sabe aqueles dias em que você chega cansado em casa, com a sensação de que nada deu certo e louco para tomar um banho e cair na cama, sem ter vontade para mais nada? Em dias assim, eu pelo menos não consigo ouvir nada muito agitado, nem músicas “ambiente” para me distrair. A única coisa que “desce redondo” pelos ouvidos é uma sonoridade mais depressiva, lenta, às vezes até um pouco mórbida. The Cure, Type O Negative, Sisters Of Mercy e Joy Division são exemplos de bandas que pintam na vitrola ou no CD player nessas horas.

Outro exemplo é o MTV Unplugged, do Alice in Chains, um disco que não é muito lembrado nem mesmo pelos fãs da banda, quem dirá pelos ouvintes em geral.

A “Alice Acorrentada” é cria da geração grunge de Seattle, e só isto já é motivo suficiente para afastar muita gente preconceituosa com o estilo. Junte isso ao fato de ser um acústico produzido pela MTV, e já estão aí os motivos para muita gente odiar o disco sem nem ouvir! Um dos maiores destaques do estilo, a banda costuma ser mais lembrada pelos hits elétricos que teve, como “Man in the Box”, “We Die Young”, “Them Bones”, “Angry Chair” e “Would?”, mas também possui um lado acústico e delicado, que já havia aflorado nos EPs SAP e Jar of Flies.

Momentos da apresentação no MTV Unplugged
Quando a banda foi convidada a gravar o seu Unplugged para a MTV em 1996 (numa época em que parecia que todos estavam fazendo isso), ela já estava distante dos palcos havia dois anos e meio. Inclusive Layne Staley chega a brincar com o fato durante o programa, dizendo que “este é o melhor show que a banda faz em mais de dois anos”, ao que Sean Kinney responde “claro, é o único!”. Mesmo assim, foi até o Brooklyn Academy of Music’s Majestic Theatre em Nova Iorque para performar um espetáculo memorável, com um repertório excepcional. À época, o Alice tinha Layne Staley nos vocais, Jerry Cantrell na guitarra, Mike Inez no baixo e Sean Kinney na bateria. Neste show, a banda se apresentou pela primeira vez como um quinteto, com Scott Olson fazendo as bases ao violão para Cantrell solar.

“Nutshell” abre os trabalhos, já levando o clima para baixo logo no início, mostrando que não seria uma noite de sorrisos e piadinhas. “Brother” é outra que segue a linha mais depressiva, sem perder a beleza, no entanto.

“No Excuses” é a mais conhecida até então, e possivelmente a mais “animada” da noite. “Sludge Factory” traz de volta o clima mais sombrio, que deságua na belíssima “Down in a Hole”, minha faixa favorita da banda. Ouvir esta música numa versão ainda mais “orgânica” que a de estúdio é de chorar… No bom sentido, claro!

Alice in Chains
“Angry Chair” é outra famosa, mas não se saiu tão bem no formato acústico. “Rooster”, por outro lado, consegue passar bem a mensagem de perda e desolamento que carrega (a música foi feita por Cantrell para seu pai, ex-combatente do Vietnã, que nunca superou os traumas que a guerra lhe trouxe). “Got Me Wrong” até tem umas partes mais “animadinhas”, e o clima segue alto em “Heaven Beside You”, outra bastante conhecida, mas que aqui soa renovada em sua versão voz e violão.

Chega então a hora de “Would?”. Como bom baixista frustrado que sou, me apaixonei pela introdução desta música desde a primeira vez que a ouvi, lá nos anos 90. A versão deste disco pode perder ao não ter a guitarra elétrica de Cantrell, mas ganha em intensidade e emoção. “Frogs” é outra onde o clima não é nada alegre, e “Over Now” encerra o show em um clima menos pesado o que o resto do show. No bis, a inédita “The Killer Is Me” é outra onde a tristeza, a solidão e o desencantamento aparecem.

A linha de frente do Alice in Chains: Layne Staley e Jerry Cantrell
Além do CD, o show foi também lançado em DVD. Se você tem tendências suicidas ou sofre de depressão profunda, não assista a este vídeo. As imagens que acompanham a trilha sonora têm tudo para levá-lo para o fundo do poço, desde o cenário escolhido até a performance de Staley, que aparenta estar completamente chapado, “viajando” geral em boa parte do tempo, inclusive deixando partes dos vocais a cargo de Cantrell em determinados momentos (será que por não se lembrar das letras?). Se este não for o seu caso, não deixe de conferir, pois o vídeo é tão imperdível quanto o áudio.

Este foi um dos últimos shows da banda com Staley, que morreria de overdose em 2002. Após muito tempo parada, a banda voltaria a se reunir em 2005, com William DuVall nos vocais e guitarra base, lançando o excelente Black Gives Way to Blue. Mas, pelo menos para mim, o grande disco da banda já havia sido registrado, e é este excelente MTV Unplugged.

Track List:

1. Nutshell (Cantrell/Inez/Kinney/Staley) – 4:58
2. Brother (Cantrell) – 5:27
3. No Excuses (Cantrell) – 4:57
4. Sludge Factory (Cantrell/Kinney/Staley) – 4:36
5. Down in a Hole (Cantrell) – 5:46
6. Angry Chair (Staley) – 4:36
7. Rooster (Cantrell) – 6:41
8. Got Me Wrong (Cantrell) – 4:59
9. Heaven Beside You (Cantrell/Inez) – 5:38
10. Would? (Cantrell) – 3:43
11. Frogs (Cantrell/Inez/Kinney/Staley) – 7:30
12. Over Now (Cantrell/Kinney) – 7:12
13. Killer Is Me (Cantrell) – 5:23

20 comentários sobre “Discos que Parece que Só Eu Gosto: Alice in Chains – MTV Unplugged [1996]

  1. Essa postagem me lembra que estou com a edição CD+DVD desse show de um amigo há mais de dois anos comigo e tenho que devolver, bãi!!!

    Não é segredo pra ninguém que eu não sou chegado em grunge, especialmente no Nirvana, uma das bandas mais superestimadas que se tem notícia, mas gosto de algumas coisas do estilo, que, honestamente, pra mim nem chega a constituir um gênero. Bom, mas entre essas minha favorita é justamente o Alice in Chains. Os álbuns "Facelift" e "Dirt" são muito bons, em especial o segundo, um dos melhores discos da época. Acústicos da MTV podem ser meio burocráticos, mas esse é possivelmente o mais atípico que tenho notícia, sem superprodução, sem participações especiais… E a performance de Layne então, às vezes emociona, às vezes dá pena…

  2. Cara, como é bom esse acustico , eu sou mais um que parece ser o unico a gostar dele . Mais sou um cara de opnião ,e não sei por que motivo , gosto dessa banda , um ponto que destaco como crucial desse show , é a voz incrivel do Guitarrista Jerry Cantrell , que na minha opnião até supera a do finado Layne Stayley , prova disso são seus belos backing vocals em Down in a Hole , Heaven |Besuide you , onde ele divide o vocal com o LAyne , Angry |Chair , e No Excuses .

    Lindo álbum , feito pra relaxar , esse album amansa até corno o/

  3. o Jerry é mesmo um baita vocalista, Rafael. Você conhece os discos da carreira solo dele? Além da guitarra ele faz os vocais, e em algumas músicas a cozinha é feita pelo Mike Inez e o Sean Kinney, então é como se fosse o próprio AIC. E o estilo também é o mesmo da banda. Recomendo!

  4. Bom Diogo, eu até tava pensando em te emprestar uns discos, mas depois dessa, vi q nao da, hehhe

    O Alice In Chains, ao lado do Pearl Jam, foi a banda grunge q mandou bem na MTv. O show deles no hollywood Rock foi muito bom. Quem puder, assista.

    Da onda dos acusticos, eu prefiro o do Dylan!

    1. O tempo passa, o tempo voa, e hoje, os gostos musicais também mudam. Certamente, desses acústicos internacionais, nos últimos 9 anos o do AIC foi o que mais cresceu em meu conceito. Virou rotina ouvi-lo bastante, seja no carro ou em casa, ultrapassando de longe o do Dylan, que caiu bastante no meu conceito nesses mesmos 9 anos.

      Outro acústico que tá sempre no toca cds é o do Clapton. Que discão

  5. Eu me interessei pelo disco com essa leitura. Peguei o Cd e o Dvd…agora alguem pode me indicar uns 3 álbuns de estudio dos caras para conhecer ainda mais?
    Abrassss

  6. Thiago, o AIC gravou pouca coisa, portanto é fácil fazer a recomendação.

    Os melhores são o Facelift e o Dirt, os dois primeiros, e que tem as mais conhecidas.

    O terceiro chama-se Alice In Chains apenas, e eu particularmente não curto muito…

    Depois tem o Black Gives Way To Blues, já com o novo vocalista Willian DuVall. Este é excelente, e bem no estilo do segundo disco.

    Também tem os dois EPs acústicos que citei. O SAp é mais experimental , e o Jar Of Flies é excelente.

    Tem umas coletâneas que lançaram, e o LIve, que é muito bom. Se quiseres começar por estes, não vais te arrepender.

    É uma grande banda, e se curtires deixa um toque aí.

    Abrassss

  7. Muito obrigado Micael!
    Vou tentar correr atrás do Facelift e do Dirt, pq tem as mais conhecidas e o Black Gives Way to Blues pq mostra como a banda está com o novo vocalista.
    Vlw pela dica
    Abrasss

  8. Ouvi o disco depois de algum tempo, e curti mesmo. Achei a banda até bem soltinha (“Enter Sandman” e outras piadas rolam no intervalo das músicas). Curti mesmo o som, o qual realmente é muito bom para um dia down, ou melhor, down in a hole.

  9. Eu nem sabia que tinha gente que curtia Alice in Chains e não gostava desse disco. É uma versão acústica extremamente competente de suas músicas. Melhor do que várias do Pearl Jam que na versão acústica ficaram meio forçada de barra (estou comparando grunge com grunge, evidentemente).

    1. É uma excelente comparação, Rodrigo! Realmente, o Alice In Chains sempre se saiu melhor na versão acústica, tendo inclusive dois EPs nesta linha ainda nos anos 90.

      Eu conheço várias pessoas que não tem muito apreço por este álbum, e preferem o Alice dos riffs mais pesados e das canções mais “agitadas” como “Damn That River” ou “Man In The Box”. Mas veja que este texto já tem quase dez anos, a percepção de muitos pode ter mudado desde então (um dia a maturidade chega para a maioria de nós)…

      Muito obrigado pelo comentário e pelo apoio!

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